Não se deve, em hipótese alguma, concordar que o fenômeno alcunhado de GLOBALIZAÇÃO, tem seu surgimento neste espaço de tempo que compreende os últimos trinta anos. As suas origens vão muito além do século XX que modificou todo o sistema econômico mundial e que contrariou todas as previsões dos teóricos e filósofos que acercaram sobre a história e suas projeções.
No momento em que o capitalismo surgiu, o mercantilismo invadiu os oceanos e a comercialização externa tornou-se a maior e melhor forma de expandir o mercado, países uniram-se de forma nunca antes vista.
Marx e Engels alertavam, ainda em 1848, sobre esta disparada comercial das nações:
"A burguesia, pelo rápido desenvolvimento de todos os instrumentos de produção, pelos meios de comunicação imensamente facilitados, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização... Em uma palavra, cria um mundo a sua própria imagem." (HOBSBAWM, 2000, pág. 67)
Assim Hobsbawm usou dos pensamentos de Marx e Engels para iniciar sua dissertação sobre o mundo unificado e seu surgimento. A exploração e o comércio – conseqüências diretas do capitalismo – preencheram espaços vazios dos mapas antigos fazendo o mercado mundial um assunto global e não estritamente regional ou local. Nesta época em que as grandes nações se lançaram à exploração era significativo para a comercialização se conhecer todos os continentes e assim se trazer – nas palavras de Hobsbawm – “a luz da civilização e do progresso”. Em 1875, o planeta era mais conhecido do que nunca. Transatlânticos e linhas férreas levavam ao mundo a proximidade antes inatingível.
Paises se uniram (e outros ruíram), facilitando e fortalecendo o comércio entre eles, modificando o panorama natural e tornando-o metade material e metade espiritual; e neste “romance das indústrias”, estavam envolvidos banqueiros, financistas e empreendedores que não mediram esforços na pavimentação de estradas, construções de linhas férreas e navios para dar maior fluxo às suas economias.
Com o advento do telégrafo elétrico a comunicação trabalhou paralelamente enquanto trilhos e navios ajudavam no transporte de cargas, mercadorias e até de pessoas. Em 1840 Estados Unidos da América e Inglaterra já usavam o sinal elétrico para a comunicação, na seqüente década de 1850, todos os principais países da Europa também já faziam uso deste aparato comunicativo.
"Se formos comparam em números os trinta anos que decorreram de 1840 à 1870, teremos algumas semelhanças com os nossos últimos trinta anos (1985-2005). Os números comerciais da primeira faixa de tempo indicavam ascensão irrefreável comercial entre nações (1840 exportou 20 milhões de toneladas de mercadorias, enquanto em 1870 já eram exportados 88 milhões de toneladas)".[1]
Na obra “A Vingança da História”, de Emir Sader, o autor indica um fim para a história devido as conseqüências do fenômeno da globalização e da economia neo-liberal que cada vez mais une países em torno em um eixo econômico sólido e unificador. E Sader descreve que a história teve sua morte de dois períodos históricos, sendo o primeiro a mostra da falha do socialismo marxista aplicado na União Soviética doutrinada pelo congelamento econômico, tentando ser a diferença para o mundo que acompanhava o capitalismo e o processo global; depois Sader lauda a segunda morte quando devido à falta de novas teorias não se conseguiu suplantar o neo-liberalismo econômico.
A informatização que começara lá na metade de 1800, dá um pulo avassalador em 1970, quando a revolução tecnológica une ainda mais o mundo, impressionado pela velocidade de comunicação entre os países inseridos em uma economia global.
"A partir de meados da década de 1970, foram intensas as modificações socioeconômicas relacionados ao processo de internacionalização da economia mundial. Desde já, é preciso enfatizar que esse processo não novo. Mas ganhou características inusitadas e um assombroso impulso com enorme salto qualitativo ocorrido nas tecnologias da informação. Essas mudanças permitiram a reformulação das estratégias de produção e distribuição das empresas e a formulação de grandes networks. A forma de organização da atividade produtiva foi radicalmente alterada para além da busca apenas de mercados globais; ela própria passou a ser global.
A revolução tecnológica atingiu igualmente o mercado financeiro mundial, cada mercado passando a funcionar em linha com todos os outros, em tempo real. Isso permitiu a mobilidade de capital requerida pelo movimento de globalização da produção. Essas modificações radicais atingiram o modo de vida de boa parte dos cidadãos, alterando seu comportamento, seus empregos, suas atividades rotineiras de trabalho e seu relacionamento, por exemplo, com bancos e supermercados." (DUPAS, 2001, págs. 39-41)
Para se ter uma idéia de como o avanço da comunicação foi impressionante e elevando nos últimos anos, podemos comparar a morte do Presidente Abraham Lincoln, que levou 14 dias para se saber a notícia na Europa e a queda da bolsa em um dos países asiáticos que leva apenas 14 segundos para se saber em todo o mundo.
É nesta frenética e milionésima velocidade que a globalização uniu os paises em um eixo econômico controlado e unificado, onde as grandes potências detêm o controle financeiro das nações necessitadas e ligadas pela comunicação as grandes potências podem determinar a falência de uma empresa ou de um país que muitas vezes tem uma economia menor que estas mega-empresas.
Neste processo crescente que já vem de décadas, o mundo caminha cada vez mais para uma unificação assim como diz o título (O mundo unificado) do terceiro capítulo de Hobsbawm na obra A Era do Capital, onde a economia é quem comanda o ritmo da sociedade ligando o mundo e excluindo aqueles que não estão inseridos neste processo.
Passada a Guerra Fria entre Estados Unidos da América e a Ex-União Soviética, a queda do Muro de Berlim e o Consenso de Whashington organizado por Ronald Reagan, presidente dos EUA e a Primeira Ministra da Inglaterra Margareth Thatcher, o mundo capitalista conseguiu derrubar os últimos redutos ainda restavam que não se enquadravam nos moldes neo-liberalistas e globalizados.
Apoiados pelo advento da Internet, da comunicação digital sem fio, dos avanços tecnológicos e do apoio das empresas que reforçam este processo, a globalização necessitou de poucos anos para se tornar o maior fenômeno mundial já visto e o maior unificador de nações desde a colonização das Américas no séc. XVI e o expansionismo mercantilista europeu.
Ratificando a afirmação do autor, é citado um parágrafo de Wilhelm Hofmeister, da obra Política Social e Internacional – Conseqüências sociais da Globalização, de 2005:
"A globalização é, em primeiro lugar, um fenômeno da esfera econômica, embora seus efeitos vão muito além. Não apenas a população dos paises emergentes ou pobres é afetada. A população dos paises industrializados teme por sua seguridade social e seu futuro como conseqüência da globalização. A eliminação das barreiras entre paises facilita, sobre tudo, as grandes empresas com capital, que procuram reduzir seus custos de produção e se estabelecer em paises que pagam salários mais baixos, que tem mínimas exigências ambientais e sistema de seguridade social menos sofisticadas. Em alguns paises, paga-se tão pouco por certas atividades que compensa deslocar para lá a produção, mesmo considerando os custos de transporte do produto, pois nos paises de origens os salários e encargos seria muito mais altos. Isso ameaça principalmente aqueles empregos que requerem pouca qualificação. Conseqüentemente, a produção terá que apresentar um nível de escolaridade cada vez mais elevado e boa capacidade de inovação para fazer frente à concorrência da mão de obra de outros paises industrializados.
A interdependência internacional vem aumentando cada vez mais. O conflito Leste-Oeste oxigenou o dinamismo da globalização e incluiu países e regiões que, anteriormente, estavam isolados pelo confronto militar e ideológico.
Ao facilitar o acesso das empresas transnacionais e dos fluxos financeiros internacionais, os governos acabam por reduzir suas chances de exercer qualquer influencia sobre a própria economia, e enfraquecem seus instrumentos econômicos e financeiros tradicionais, como é o caso dos impostos e juros."
Ainda nesta linha de pensamento, Para Klasen, a Globalização envolve um alto giro de capital e trabalho sem fazer distinção de que Estado nacional provem a renda, tornando-se um assunto econômico controvertido. “O impacto da globalização, envolvendo uma mobilidade significativamente maior de bens, capitais e (de modo mais limitado) trabalho, tornou-se uma das questões mais controvertidas da política e da economia do desenvolvimento”. KLASEN (2005, pág. 31-38)
Como anteriormente fora citado, esta nova era da história da humanidade, já que estarmos vivendo o período econômico neoliberal, pode-se dizer que devido à globalização, estamos também vivendo um período de pós-modernidade, e assim Celso Pinto aborda em uma pesquisa feita na internet que esta nova era trás consigo a interligação dos mercados nacionais e internacionais:
"Não há uma definição que seja aceita por todos. Ela está definitivamente na moda e designa muitas coisas ao mesmo tempo. Há a interligação acelerada dos mercados nacionais, há a possibilidade de movimentar bilhões de dólares por computador em alguns segundos, como ocorreu nas Bolsas de todo o mundo, há a chamada "terceira revolução tecnológica" (processamento, difusão e transmissão de informações). Os mais entusiastas acham que a globalização define uma nova era da história humana." (PINTO,http://www.webvestibulando.hpg.ig.com.br/)
A globalização acaba tornando-se inevitável e ao mesmo tempo necessária para a sociedade que depende desta cadeia intrínseca de dependência criada por esta mesma globalização.
Analisando este fenômeno mundial chamado de Globalização, chegamos à um entendimento de estarmos frente à nova ordem mundial, um avanço da civilização moderna, que adaptou-se à vida em sociedade e que aproveitada dos benefícios de comunicação e a velocidade que lhes é proporcionada, incentivam o progresso deste fenômeno sócio-politico-econômico que alicerçado na esfera neoliberal se fundamenta para fazer das nações uma só nação, onde todos devem estar inseridos dentro deste contexto global. O ônus para quem não participa é a exclusão seja desde um simples indivíduo até uma nação. Não há escape para os tentáculos globais que controlam nosso mundo pós-moderno.
REFERENCIAL TEÓRICO
BELLO, Walden. Desglobalização – Uma idéia para uma nova economia mundial. 2003; Editora Vozes, Petrópolis - RJ.
DUPAS, Gilberto. Economia Global e Exclusão Social. 2001; Editora Paz e Terra, São Paulo - SP.
HOBSBAWM, Eric Jr. A Era do Capital. 2000; Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro
HOFMEISTER, Wilhelm. Política Social e Internacional – Conseqüências sociais da Globalização. Rio de Janeiro : 2005, Editora Konrad Stiftung.
O que é Globalização. Disponível em: http://www.webvestibulando.hpg.ig.com.br/; Acesso em: 24/03/2006.
O que é Globalização. Disponível em: http://anglopira8a13.vilabol.uol.com.br/oqg.html; Acesso em 25/03/2006
O que é Globalização. Fonte Internet: http://www.iis.com.br/ ; Acesso em 25/03/2006
PINTO, Celso. Do conselho editorial. Folha de São Paulo. Fonte: artigo Internet.
ROSSI, Clóvis. Do conselho editorial. Folha de São Paulo. Fonte: artigo Internet.
SADER, Emir. A Vingança da História. 2003; Editora Boitempo, São Paulo
[1] Fonte: (Hobsbawm: 2000, pág. 69)
Um comentário:
Por que nao:)
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