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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A FELICIDADE EM 2012 COMPARTILHADA EM 2013

Os antigos egípcios tinham uma crença sobre a morte.

Quando a alma chegava ao paraíso, os deuses perguntavam duas coisas. As respostas determinariam se alma entraria no paraíso ou não.
Primeira pergunta: "Encontrou a felicidade na sua vida?"
Segunda pergunta: "Você, na sua vida, proporcionou felicidade aos outros?"
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Todos nós queremos ser felizes. Em 2012 busquei a felicidade e por vezes cheguei a pensar em desistir de procurá-la. Procurei longe, as vezes em lugares errados, sem perceber que a felicidade está sempre perto, nos rodeando sob a forma de coisas simples como um abraço, um “bom dia!”, um aperto de mão e um sorriso. Amigos e familiares me permitiram ser feliz neste ano que se encerra.
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Porém a felicidade não é plena se você tê-la só pra si. Em uma época pautada por redes sociais que compartilham fotos e mensagens bonitas, fomos pouco-a-pouco deixando de sermos solidários com o próximo, pois hoje em dia é mais fácil clicar uma mensagem de apoio para alguém do que realmente ajudar aquele que está perto.
A felicidade é que deve ser compartilhada.
E assim, este ano, eu procurei levar a alegria a todas as pessoas que eu pude:
Cuidei da minha família; estive mais presente com meus entes; me reaproximei de parentes que, com o tempo se afastaram. Levei de volta para eles a mesma felicidade que eles me proporcionam.
Fiz novas amizades e cultivei as velhas. Por serem eles o meu porto seguro, tratei meus amigos com carinho especial e não poupei esforços para ajuda-los; pois sei que se eu depender de qualquer um deles, terei o amparo necessário. 
Tornei a minha sala de aula o meu mundinho feliz, e busquei trazer meus alunos para a magia de aprender se divertindo, levando alegria aos seus estudos. Acredito tê-los ajudado a dar seus primeiros passos rumo à vida profissional que, futuramente, lhes trará felicidade.
Porém este ano, principalmente, procurei “fazer o bem, sem olhar à quem”.
Certa noite acordei durante a madrugada e me senti mal. Me senti envergonhado por estar dormindo confortavelmente enquanto muitos sofrem sem ter abrigo e o que comer. Naquela mesma madrugada saí de carro e percorri alguns dos bretes de nossa cidade e sofri junto daquelas pessoas a dor da pobreza e da miséria.
A partir dali iniciei um pequeno, mas sincero, projeto de ajuda solidária às pessoas que vivem nos bretes de Uruguaiana.
Percebi que neste ano que de nada adianta ser feliz sozinho; a felicidade não existe para ser vivida egoistamente; A FELICIDADE PRECISA SER COMPARTILHADA.
Vocês, meus amigos, em 2012 me trouxeram de volta a felicidade.
Eu, neste ano que termina fui feliz e tratei de leva-la onde fui.
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Muito obrigado!
FELIZ COMPARTILHADO 2013”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

À ESPERA DO FIM DO MUNDO


Desde que o mundo é mundo, e a humanidade caminha por ele, existem teorias, previsões e profecias para o seu fim. Na Roma Antiga já esperavam seu fim trágico. Depois, com a disseminação do cristianismo – e a “volta de Cristo” –, religiosos erraram repetidas vezes achando que o apocalipse se daria em alguma destas datas abaixo:
- no Século I; na geração posterior a morte de Jesus.
- Em 1260; segundo Joaquim de Fiore, que após o erro ainda transferiu a data para 1290 e 1335. E nada de Jesus aparecer!
- Em 1504; quando o pintor renascentista Sandro Botticelli pregou que Cristo viria logo após a virada de 1500.
- Em 1806; quando uma galinha, na cidade de inglesa de Leeds, começou a botar ovos com supostos dizeres “Christ is coming”.
- Em 1891; Joseph Smith (criador da religião Mórmon) em 1835 disse que Cristo havia conversado com ele e prometido voltar 56 anos para arrebatar o mundo.
Jesus não veio em nenhuma destas datas; e o mundo não acabou, para alegria de muitos e a tristeza de alguns.
Outras teorias então começaram a surgir para dar cabo do planeta; como em 1881, quando astrônomos disseram que a passagem do Cometa Halley pela terra em 1910 mataria todos devido a gases mortais contidos em sua cauda. Naquele ano todos que puderam contemplaram o fenômeno astronômico e ninguém morreu por causa do cometa.
Durante o século XX houve um apocalipse de teorias e profecias cataclísmicas: Charles Manson afirmou que o fim seria em 1969; Pat Robertson previu para 1982; em 1988 o Cometa Halley passou de novo e causou novo alvoroço; a Seita Heaven’s Gate profetizou para 1997; estudiosos acreditaram que Nostradamus estaria certo ao afirmar que “no ano 1999, sétimo mês, do céu virá o grande terror”; matemáticos e especialistas em informática achavam que a virada de 1999 para 2000 causaria uma pane geral em computadores e acarretaria grandes catástrofes elétricas e nucleares; outra vez teorias bíblicas aterrorizaram o mundo devido à contestada citação: “De 1.000 passará, mas a 2.000 não chegará!”. O mundo não acabou, chegamos ao novo milênio; e ele trouxe mais teorias fatais que, a exemplo de todas as outras, também falharam.
Recentemente, um achado arqueológico deu início novamente a um frenesi apocalíptico. Um calendário do antigo povo pré-colombiano maia afirma que o fim acontecerá dia 21 de dezembro de 2012. Na verdade é apenas um erro de interpretação, pois - diferente da nossa teoria linear de tempo - os maias acreditavam que o tempo é cíclico e, portanto, mais um ciclo encerra-se, tendo fim no dia 21 próximo. Mesmo assim para milhões de pessoas o medo de uma hecatombe voltou a tomar conta do imaginário popular.

Mas por que – em todas estas teorias de fim de mundo – acreditamos que fim será trágico?
Catástrofes, desastres, destruição, extermínios, terror e morte são coisas do dia-a-dia da humanidade. O mundo convive com isso desde que o homem começou a dominar onde habitamos.
Praticamos as maiores catástrofes naturais por não respeitarmos a própria natureza.
Causamos os maiores desastres ambientais.
Somos nós mesmos os destruidores do mundo que nos abriga.
Exterminamos plantas, raças de animais e etnias humanas pelo simples prazer da maldade.
Trouxemos o terror à quem também comete o terror.
Fizemos da morte lugar comum no dia-a-dia, enquanto do amor nada aprendemos.
E agora, aterrorizados tememos a própria morte e a morte da humanidade?
A humanidade, com seus milhares de anos e gerações, burramente não aprendeu a amar; preferiu pilhar, destruir e matar. Não será necessário um apocalipse; nós já vinhamos “apocalipticamente” morrendo aos poucos. O fim já aconteceu e nós homens não percebemos. Morremos por dentro. E a única coisa que nos resta é esperar que a raça humana renasça.

Por isso dia 21 de dezembro estarei à espera desta data. Quero acreditar que ao abrir os olhos neste dia verei o fim de todas as mazelas e desgraças que nos levaram ao fim da raça; não haverá mais miséria; não irei mais assistir a destruição das coisas que nos rodeiam; não verei mais o irmão passar fome e frio deitado na calçada; não sentirei mais o ódio e a discriminação entre as pessoas por causa de suas diferenças sociais e étnicas; não verei mais a morte sendo anunciada, mas o amor sendo compartilhado.
Eu assistirei um nascer de um mundo melhor.
Por isso, estou à espera do dia 21.
O dia que nós renasceremos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

POR ACREDITAR NOS MEUS ALUNOS


* AOS QUERIDOS ALUNOS QUE FARÃO VESTIBULAR NO FINAL DE SEMANA *

SEMPRE ME PERGUNTAM POR QUE INSISTO EM SER PROFESSOR, SENDO QUE ESTA MALFADADA PROFISSÃO NÃO TRAZ RECONHECIMENTO E TAMPOUCO GANHOS FINANCEIROS.
AOS QUE QUESTIONAM, RESPONDO DIZENDO QUE NÃO EXISTE PREÇO QUE PAGUE A FELICIDADE QUE É ENTRAR EM SALA DE AULA E VER NOS OLHOS DOS ALUNOS O BRILHO DO CONHECIMENTO QUE VOCÊS ADQUIREM EM CADA AULA QUE TEMOS.
ESTE É O MAIOR PAGAMENTO QUE POSSO RECEBER E O SUCESSO DE VOCÊS É A MINHA RECOMPENSA PELO ESFORÇO MÚTUO QUE TEMOS.
SINTO QUE SOU O TÉCNICO DE VOCÊS NESTA JORNADA ATÉ SUCESSO; E MESMO SABENDO QUE NÓS PROFESSORES VIVEMOS DE UMA DESPEDIDA PRECOCE (COM DATA LIMITE PARA EXPIRAR) SEI QUE A PARTIR DE AGORA, VOCÊS, MEUS BRAVOS ALUNOS PARTIRÃO EM BUSCA DA VITÓRIA. MAS QUEM SOU EU PARA COBRAR VITÓRIAS? JÁ PERDI TANTAS COISAS NA VIDA: AMORES, FAMÍLIA, BONS EMPREGOS, AMIGOS, ESPERANÇA E ATÉ - POR ALGUNS MOMENTOS - A ALMA.
MAS O QUE ME FEZ CHEGAR ATÉ AQUI FOI A MINHA PERSEVERANÇA. CONQUISTEI TUDO QUE PUDE DE VOLTA, POIS EU JAMAIS DESISTI.
PORTANTO, LEMBREM QUE, AO SE ENCAMINHAREM PARA O DESTINO QUE LHES ESPERA, VOCÊS, MEUS QUERIDOS, FORMAM UM COMPROMISSO MORAL COMIGO, COM SEUS PAIS, SUA SOCIEDADE E CONSIGO PRÓPRIOS... O COMPROMISSO DE "JAMAIS DESISTIR".
VÃO, MEUS BRAVOS GUERREIROS, LUTEM PELO SUCESSO E JAMAIS DESISTAM.
VOLTEM, MEUS HERÓIS; E A GLÓRIA ESTARÁ COM VOCÊS!
"Veni, Vidi, Vici"
BOA PROVA!
Amém!
(assistam o vídeo)
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domingo, 18 de novembro de 2012

CUIDADO COM O PROGRAMA "PAIXÃO.EXE"


Trocando de janelas no seu mundinho virtual, transitando entre uma rede social e outra, você conheceu aquela pessoa que parece ser incrível.

Sem conhecê-lo(a), você lhe adiciona à sua lista de amigos, achando que será um programa maravilhoso e o instala em sua vida.
Com o passar do tempo, entre “curtidas”, “compartilhadas”, “comentários” e “cutucadas” surgem as primeiras conversas e aquela pessoa - que parecia ser apenas um aplicativo - já está ocupando muito espaço no seu HD emocional.
O programa instalado é fantástico. Seu sorriso é intenso, seu olhar é cativante, sua conversa é envolvente; mas de repente seu HD já começa a dar sinais de lentidão.
Alguns outros programas (amigos.ppt, trabalho.pdf e família.doc) deixam de funcionar corretamente e nem damos atenção para os avisos de sistema perguntando se queremos enviar relatório para tentar melhorar o desempenho do computador. Trocam-se números de celular, e se forem da mesma operadora, com torpedos ilimitados, o processador de nosso cérebro então já não faz mais cópias de segurança, não realiza mais operações lógicas simples e reinicia involuntariamente todo nosso sistema operacional sem pedir autorização.
Depois de alguns encontros o coller já não dá mais conta do superaquecimento sentimental de seu CPU.
Você não fez backup desde a sua última formatação amorosa. Seus arquivos emocionais, que já estavam danificados, nem na lixeira estão mais. Aflito, tenta fazer uma varredura usando um antivírus potente, mas aquele programinha adoravelmente fatal já pulou seu firewall da razão. Ironicamente, o sistema de segurança ainda lhe diz: “As definições de vírus foram atualizadas!”

Desesperado, chama algum “amigo” técnico em informática e conta tudo o que está acontecendo. Experiente, ele lhe aconselha a formatar tudo e limpar seu PC, instalando agora programas potentes como, festas.avi e bebedeiras.exe. Ao ligar de novo você percebe que o programinha ainda está ali, instalado, com arquivos ocultos.
Aquilo que parecia ser apenas uma distração inofensiva, um passatempo, um aplicativo a mais instalado (com um ícone bonito em seu desktop do dia-a-dia), tornou-se um Cavalo de Tróia poderoso, destruidor, avassalador e sem recuperação. Impregnado na placa-mãe do coração, corrompendo a memória ram emocional e o hardware racional.

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Não há mais o que fazer; você está infectado por um vírus letal e a culpa é toda sua. Pois quando você quis instalar este software, clicou em “eu concordo” sem ter lido os termos de uso do programa.
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domingo, 28 de outubro de 2012

Sobre o Pedro

Muitas vezes criei estórias, inventei personagens, usei pseudônimos e deixei mensagens subliminares em muitos dos meus textos, explicando o que se passava comigo, sem que soubessem que os conselhos e as mensagens eram para mim mesmo. Esta foi a forma de “auto-ajuda” que encontrei para me medicar e, ainda, dosar a vida daqueles que leem O Provinciano. Mesmo assim muitas perguntas são feitas sobre o que realmente se passa comigo. Parece que me tornei popular; e esta pseudo-popularidade trouxe à tona o interesse das pessoas sobre a vida do Pedro. E eu vou lhes contar:
Existem dois Pedros. Um, o profissional bem-humorado, extrovertido e sempre disposto a ajudar qualquer um que lhe pedir auxílio. Pedro que passa as noites neste seu escritório montando aulas, fazendo slides, lendo livros e – literalmente – vivendo história, para fazer de uma aula seu playground; pois se existe um lugar onde realmente ele é feliz é dentro de uma sala de aula. O outro Pedro é simples, extremamente simples; sem graça como televisão preto & branco numa tarde de chuva; tão fechado que evita novas amizades e novos amores para não decepcionar as pessoas que esperam deste Pedro o que o Pedro profissional é.
Pedro machista; mas apenas da boca pra fora. Pois nenhum homem pode ser machista sendo que todos somos frutos de uma mulher; e o que seria da humanidade sem o colo feminino para nos carregar, uma mão para nos conduzir e um carinho para nos dar forças para viver? Usando esta “psicologia inversa” o machista ironiza as mulheres apenas para provar o verdadeiro valor que elas tem, mesmo quando elas parecem ser inferiorizadas.
Este Pedro que reclama da idade mesmo ainda muito jovem é porque ele não aceita o envelhecimento; quer seguir o mesmo garoto de 15 anos atrás. Quer pescar, reunir os amigos sempre que possível para uma carne assada. Quer estar em festas, dançar e se divertir. Quer jogar futebol uma tarde inteira com os amigos; pois naquela época não tinha problemas pra resolver nem o relógio pra cuidar devido a algum compromisso. Mas hoje percebe que isso é impossível; as pernas, o coração e a razão não acompanham mais o impulso jovem que felizmente insiste em ficar.
Solteiro? Insensível? Frio? Inconstante? Nos últimos onze anos houve um cara que por vezes esteve casado, por vezes noivo, outras vezes namorando. Em algumas destas vezes as pessoas que estiveram com ele não mereceram ele; outras vezes, ele que não mereceu tão boas pessoas que estiveram ao seu lado. Nos últimos tempos a felicidade não tem lhe encontrado. Por isso este desapego. Não que ele não queira se envolver com alguém. Todas estas pessoas foram importantes para o crescimento moral, espiritual e afetivo dele. Mas o Pedro cansou de insistir nos erros. A próxima pessoa na vida dele será alguém que permanecerá por muito tempo. Talvez aí esteja o cuidado extremo que ele vem tomando.
Eu conheço muito bem este rapaz; todos os dias converso com ele no espelho do banheiro. Ele quer viver, quer viajar (mesmo dizendo que é tão provinciano que não sai de Uruguaiana por nada), quer levar alegria a todos que o cercam, quer continuar jovem, quer lecionar por toda a vida (pois é assim que ele se sente bem), quer amar e se sentir amado. Mas acima de tudo: ele quer ser feliz.
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sábado, 22 de setembro de 2012

O VELÓRIO DA MÚSICA BRASILEIRA


A igreja está lotada. Os bancos completamente ocupados e os que chegam aglomeram-se, em pé, na porta da entrada. Na frente, estacionam Land Rovers, Dodges, Camaros, Saveiros e até Fiorinos. O trágico evento reuniu a todos neste velório.
Nos bancos da frente roqueiros das décadas de 1980 e 1990 abraçam-se e choram copiosamente. Integrantes das bandas pop parecem não acreditar no infortúnio ocorrido e, atônitos, apenas se entreolham. Deslocados, num canto, rapazes coloridos arrumam o cabelo, buscando chamar a atenção, sendo que somente suas roupas já servem pra fazê-los se destacar na multidão. Pagodeiros batucam com os dedos na madeira dos bancos, apreensivos. Rappers – em liberdade condicional – ensaiam alguns beach box, com a boca. Funkeiros entram abraçados com mulheres cavalonas e se benzem com whisky e energético. Rompendo o protocolo, pseudo-cowboys permanecem de chapéu de vaqueiro dentro do recinto, enquanto lustram as desproporcionais fivelas de seus cintos. Um destes sertanejos, mais exaltado, fazia sinal para uma jovem cantora de MPB, pedindo que ela, mesmo dentro da missa, fosse ao banheiro para eles se beijarem.
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No púlpito ao lado do altar, Valesca Popozuda, em trajes microscópicos, contrastando com seu macroscópico corpanzil, segura o microfone, lascivamente, quase que lambendo-o, e dá início ao cerimonial litúrgico.
“– Boa noite. O amor pela música (pelo menos aquilo que um dia ela foi) nos reuniu.
Em homenagem as almas do purgatório: Cassia Eller, 11 anos de falecimento. Renato Russo, 16 anos de falecimento. Mamonas Assassinas, 16 anos de falecimento. Tom Jobim, 18 anos de falecimento. Raul Seixas, 23 anos de falecimento. Em especial, à alma daquela que hoje nos deixa. Todas estas intenções ficarão sobre a mesa do altar. Em pé, todos, aclamemos o santo padre, batendo palmas e as mulheres dizendo:  “Agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar”.

Saudado com gritos e palmas, Padre MC Catra conclama:
“– Em nome do Créu, do tchu, do lelelê e do Baraberê, Amém.
Irmãos e irmãs, pagodeiros, funkeiros, sertanejos universitários e afins, sejam todos benvindos à esta casa musical.
Vai começar a putaria. Podem sentar; quem quiser pode quicar e rebolar.”
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“– Deus é bondoso. 'Ele nos deu o sol, nos deu o mar, pra ganhar seu coração'. E a Casa de Deus é uma humilde residência; é a morada de felicidade e alegria; é a casa de louvor e de adoração; Ele nos chama para rezar e amar. Por isso, em pé, cantemos o hino número 69 do livro de cânticos”. Discursa o irmão, e beato, Latino.
“Hoje é festa lá no meu apê,
Pode aparecer
Vai rolar bundalelê
Hoje é festa lá no meu apê,
Tem birita até amanhacer”
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Solene, o padre inicia o sermão:
“ – Louvada seja a rima com ‘inho’, que nos reuniu nesse cantinho, a fim de que se possa ficar juntinho, compartilhando deste carinho e vivendo sempre desse jeitinho, devagar, devagarinho, conforme profetizou, assim, o apóstolo Martinho.
Na verdade, vos digo, que todo aquele que canta, mesmo que em forma monossilábica, aos gritos de ‘ai, ai, ai, ai, ai, ai’ ou ‘oi, oi, oi’, louva ao Senhor. E mesmo que não tenha nenhuma concordância musical, enaltece ao Espírito Santo, extrapolando a licença poética como ‘a lua iluminando o sol’ e filosofando, como na passagem do livro de Avassaladores, onde citam que: ‘traição é traição, romance é romance, amor é amor e o lance é o lance’.
Enquanto realizamos a celebração do ofertório – pois temos que pagar ECAD por todas estas citações musicais aqui feitas – cantemos a uma só voz o mundialmente famoso hino, número 12, da folhinha de cânticos”:
“Nossa, nossa
Assim você me mata;
Ai se eu te pego; ai, ai se eu te pego.
Delicia, delicia,
Assim você me mata
Ai se eu te pego; ai, ai se eu te pego.”
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Novamente o Sacerdote Catra, com sua voz rouca, dá prosseguimento à liturgia:
“– Irmãos; na sequência do pente, em verdade vos digo que todo aquele que canta seus males espanta, mas detona com a garganta. E hoje estamos aqui reunidos para nos despedir desta que tão jovem partiu para outro plano astral e deixou entre nós o silêncio de uma nota musical não terminada. Ela que nasceu sob as influências das cortes europeias, mas que cresceu nas senzalas, nos terreiros e nas favelas. Ganhou o mundo com sua batucada contagiante, não fraquejou frente às influências norte-americanas, firmou-se entre as grandes com sua melódica bossa e permaneceu por tantos anos conhecida como MPB, mas que morre ainda jovem e deixará saudade em nossos corações. Que Deus receba em sua morada a Música Brasileira; pois ela faleceu sufocada pelos modismos rítmicos que hoje proliferam-se pelas rádios, festas, shows, redes sociais e todos os demais meios de comunicação como uma praga de gafanhotos, igual aquela que Moisés enviou aos egípcios.
Em respeito à sua partida precoce, façamos um minuto de silêncio”.

Eis que nesse momento, desrespeitando o silêncio fúnebre, um rapaz pergunta, em tom relativamente alto, para a moça ao lado:
“– Vamos embora daqui? Por que o jeito é dar uma fugidinha com você”.

Nem após sua morte a Música Brasileira parece ter encontrado descanso e respeito.
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Na saída da igreja carros de som tocavam toscas paródias políticas. É ano de eleição.
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domingo, 2 de setembro de 2012

ESTUDE PARA O VESTIBULAR TIRANDO PROVEITO DA PALHAÇADA ELEITORAL LOCAL


Engana-se o eleitor que acha que hoje sofre com os desesperados apelos por voto que os candidatos fazem das mais diversas formas. O problema é bem mais antigo do que parece.
Prometer absurdos ao eleitor, pedir de forma ridicularizada por voto, indicar candidatos e desmoralizar a nossa já desmoralizada democracia, nunca foi uma opção, mas uma preferência entre os candidatos de hoje, ontem e sempre.
Durante este período eleitoral municipal, rimos de candidatos, reclamamos da poluição sonora e visual que toma as ruas (e mais recentemente, a internet e nossas próprias redes sociais) e assistimos perplexos as tentativas de manutenção do poder, onde governos indicam – quase de forma coronelista – em quem o eleitor tem a obrigação de votar.
Porém até desta escarnia podemos tirar proveito. Pois se a história nos serve como lição para que não repitamos erros do passado, decidi trazer quatro questões de vestibular – mostrando “o ontem” – para que vocês, meus caros alunos, possam resolver tais questões e, assim, estudar para o vestibular, identificando como a política é suja e, torcendo (eu) para que destas lições todos possam aprender com a história e não repetir estes erros nas eleições que se aproximam.

NÃO CAIA EM PROMESSAS DE CAMPANHA (Políticos prometem o impossível para conquistar o seu voto):
01 - (UNEB-BA) “Cinqüenta anos de progressão em cinco de governo.” Foi o slogan que marcou o governo do único presidente brasileiro eleito por voto popular, após a Constituição de 1946 e que chegou efetivamente a concluir mandato.
Trata-se de:
A) Getulio Vargas, cuja proposta profundamente nacionalista sempre agradou aos chamados setores da classe média.
B) Café Filho, que sempre soube contar com grande respaldo militar.
C) Nereu Ramos, um estadista, marcado por posturas profundamente pacifistas.
D) Carlos Luz, o mais destemido elemento civil que já ocupou interinamente um cargo como o da presidência do país.
E) Juscelino Kubitschek, que buscou a expansão industrial e a interiorização do desenvolvimento.

NÃO RECLAME DOS JINGLES IRRITANTES QUE CAUSAM POLUIÇÃO SONORA PELA CIDADE (Já houveram músicas muito piores):
02 - (UERJ) Varre, varre, varre, varre, vassourinha. Varre, varre a bandalheira, Que o povo já está cansado De sofrer desta maneira. Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonad
                                       (Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980.)
Esse "jingle" acompanhou o candidato Jânio Quadros durante a sua campanha à presidência da República, em 1960. A letra sintetiza a seguinte política de resolução dos problemas da época:
a) a austeridade do governo e o controle dos gastos públicos conteriam a inflação e a corrupção oficial
b) a disputa de mercados externos e a ideologia nacionalista aumentariam o superávit comercial e a geração de renda
c) o atendimento à economia popular e à produção de alimentos baixariam o custo de vida e os gastos do governo
d) a defesa dos interesses nacionais e a adoção de uma política externa independente gerariam emprego e novas possibilidades econômicas

NÃO SE IMPRESSIONE COM “SANTINHOS” (Alguns candidatos já chegaram ao exagero da heresia, apelando pelo voto do eleitor):
03 - (Ufpel) ORAÇÃO GETULISTA
Creio em Getúlio Vargas, todo poderoso, criador das leis trabalhistas. Creio no Brasil e no seu filho, nosso patrono, o qual foi concebido pela revolução de 30. (...) Creio em seu retorno ao palácio do Catete, na comunhão dos pensamentos, na sucessão Presidencial. Amém.
NOTA – Para o bem da nação tire cópias desta oração e envie a seus amigos patriotas.
CARDOSO, Oldimar
O panfleto, ao se referir ao retorno de Vargas ao Palácio do Catete, demonstra ter sido propaganda da campanha eleitoral de:
a) 1930, utilizada pela Aliança Liberal.
b) 1934, após o presidente ter sido deposto pela Revolução Constitucionalista de 1932.
c) 1950, quando o gaúcho foi eleito com um projeto nacionalista.
d) 1937, quando o PTB seguiu as determinações da Constituição “polaca”.
e) 1945, período que instaurou a democratização do país.

PRINCIPALMENTE, NÃO SE IMPRESSIONE COM A IMPOSIÇÃO DE VOTAR NO CANDIDATO INDICADO PELO GOVERNO (Para manter-se no poder vale tudo; inclusive sugerir quem será seu sucessor):
04 - (UFRGS) Nas eleições presidenciais de dezembro de 1945, podiam-se ler cartazes com os seguintes dizeres:
“Brasileiros!
Ele disse:
Para Presidente: Eurico Dutra.”

Na propaganda acima, o pronome “ELE” refere-se a:
A) Juscelino Kubitschek
B) Getúlio Vargas
C) Café Filho
D) João Goulart
E) Jânio Quadros

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A resposta destas questões está no final do texto.
Já a resposta para o seu voto errado estará nos quatro (ou oito) anos de arrependimento.
BONS ESTUDOS!


Respostas: 01-E, 02-A, 03-C, 04-B

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ENTRE CARMINHA E RITA EXISTE OUTRA PERSONAGEM


Parece que o alienado sou eu!
Até hoje eu achava ser a única pessoa no Brasil que não está acompanhando a novela das oito, que passa as nove.
Minha mãe e meu filho chegam contar os minutos pra novela começar. Quando chego em casa, estão os dois sentados na sala e o jantar esfriando na mesa. Recentemente reativamos a confraria de amigos e durante a novela não consegui conversar com nenhum deles porque todos se prostraram frente à TV e deles  não consegui ter atenção. No facebook toda hora postam imagens dos personagens, falas que não entendo e comentários sobre o capitulo anterior; mas na hora da novela até as redes sociais parecem ficar desertas.

Não sei o nome desta novela; não sei quem é o diretor, não sei qual o enredo, nem quem são os atores. Apenas fiquei sabendo que retrata a classe média emergente brasileira, que se baseia num desejo de ódio e vingança e que é balizada por duas vilãs: Carminha e Rita. Tive que pesquisar este assunto pra não parecer um E.T. nas conversas informais destas últimas semanas.
A novela faz o Brasil parar.
Porém, outros personagens ocultos, conseguem com isso permanecerem mais ocultos ainda, e longe do centro das atenções. E o Brasil padece em vários outros setores, na vida real.
Caminhoneiros, pararam, trancaram rodovias, queimam pneus e protestam contra o governo. Manifestações desse setor prejudicam a economia nacional e podem levar o problema até mesmo à mesa do consumidor, que desvairado, deixa seu jantar esfriar pra assistir novela.
As universidades federais também pararam (e a culpa não é da Rita!). Em greve desde maio, professores e funcionários querem reajustes dignos e condições de trabalho da qual são merecedores. Alunos perdem o semestre, dinheiro, meses de estudo e de vida. Sem solução aparente – e iminente – faculdades ameaçam não prestar vestibular, fazendo o sonho de muitos se esvair, como nas “cenas dos próximos capítulos”. Num ato de protesto agendado aqui em Uruguaiana, centenas aderiram no facebook, mas pouco mais de vinte pessoas compareceram. E o assunto para se discutir devido à ausência de manifestantes no evento? É... a Carminha!
Na semana onde haverá o Julgamento do Século (curiosamente e misteriosamente marcado em data esportiva: as Olimpíadas), Delúbio Soares, José Genoíno, Marcos Valério, José Dirceu e demais componentes do maior escândalo de corrupção da história do Brasil vão à júri, sete anos depois da chamada Crise do Mensalão (2005), que abalou o governo Lula. Mais estranho ainda é perceber que o romance televisivo das 21 horas teve picos de audiência - jamais alcançados antes  -na semana que antecede o processo. Se naquela época as CPIs e os julgamentos terminavam em pizza, hoje elas são ritmadas ao som de:   oi oi oi   .

Mas o Brasil quer mesmo é saber de trama de novela; quer se emocionar com arroubos vingativos e chorar com dramas familiares; o brasileiro quer se identificar com os personagens, por isso uma novela que retrata a classe emergente chama tanto à atenção do público alienadamente passivo.
“- Não importa o que está acontecendo lá fora!” Diz a velha senhora aposentada, sentada na poltrona assistindo o fim jornal, que ela nem prestou atenção, ansiosa para o início de sua novela, sem se dar conta que o “lá fora” foi ela mesma que elegeu.
“- Preciso postar no face que hoje a Carminha descobre quem realmente é a Rita.” Pensa aquela moça que, em greve, não tem nada mais pra fazer senão assistir a dramaturgia das nove.
“- Não me prejudicando é conta. Deixa que se matem lá em Brasília.” Fala o senhor trabalhador; que depois de um dia de serviço, exausto, só pensa em sentar e assistir a novelinha e depois ir dormir. Sem saber que de seu suor saiu o dinheiro para o pagamento de impostos e desvios de dinheiro público.
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Enquanto isso, entre a Carminha e a Rita, existe uma outra personagem que permanece sutilmente oculta a toda trama, tramando contra todos nós. A grande vilã da novela...
Ela desfila na “Avenida Brasília”
Dilma!



sábado, 28 de julho de 2012

UM CONVITE À HISTÓRIA


Se existe uma maneira de se "sentir a história” é quando apreciamos uma xícara de café. Pois, para que esta bebida negra seja servida em sua mesa foi necessário que muitos povos, com suas mais diversas culturas, ao longo de séculos, permitissem que agora você deguste a história.
Na África, por volta do século VI, que um pastor de cabras percebeu que seus animais excitavam-se ao consumir umas frutas vermelhas que nasciam de flores brancas. Teria então o pastor provado da fruta e assim espalhado o hábito pela região. Esta é a chamada “Lenda de Kaldi”.
Inicialmente seu consumo era através de fermentação, tornando a bebida alcóolica; também eram utilizadas suas folhas, numa espécie de infusão semelhante ao chá. Apenas há cerca de 1.000 anos – após o fruto ter atravessado o Mar Vermelho, pela Península Arábica – que se obteve o caldo preto, como hoje é conhecido (resultado de sua torrefação e moagem), e assim ganhou o Oriente Médio, sendo aos poucos incorporado até no hábito noturno de monges que, em suas vigílias e rezas, bebiam o café como forma de substituir o consumo de bebida alcóolica (condenada pelo Alcorão). Tão importante se tornou o café na cultura árabe, que mulheres podiam pedir o divórcio, caso o cônjuge não provesse a casa com determinada quantia do produto.
Após o fim da Idade Média, e o renascimento comercial que religou Ocidente e Oriente, o café ganhou as mesas europeias, entrando através de Veneza (1615), sendo considerado produto de luxo. Ainda dominados pela Igreja Católica, que arbitrava severamente o mundo ocidental, a poção negra chegou a ser acusada de “bebida do diabo” e considerada herética. Foi necessário que o Papa Clemente VIII a provasse e, aprovando, tornasse-a uma bebida cristã. O mundo europeu e colonialista, começava a consumir, e tornar habitual em sua cultura, o café, espalhado agora ao redor do mundo.
Ávidos de lucro, holandeses plantavam em ilhas no Oceano Índico.
Absoluto, o “Rei Sol” Luís XIV ordenava que cultivassem espécies em suas colônias na América Central.
Malandros, brasileiros trouxeram escondido (a mando do governo colonial) mudas da Guiana Francesa e iniciaram seu cultivo no Grão-Pará.
Prejudicados pelo comércio competitivo do açúcar e com as minas gerais esgotadas, mudas da planta foram trazidas para próximo da capital da colônia e a região fluminense deu o impulso que precisava à produção em larga escala, aproveitando o clima, o solo e a mão-de-obra escrava abundante. Ao chegar ao Brasil, em 1808, e decretar a Abertura dos Portos Às Nações Amigas, Dom João VI colocou o café – e o próprio Brasil – na vitrine do mundo.
O Vale do Paraíba enriqueceu com a produção cafeeira. Escravos, que na década de 1850 custavam 500 mil réis, na década seguinte valiam 100% mais. Aumentavam om lucros do jovem império; a região florescia junto com a flor branca que dava frutos vermelhos. O café era responsável por 56,8% de toda exportação brasileira. Mas de tanto explorar o solo carioca, este se esgotou, fazendo com que se buscassem novas áreas para o plantio: o Oeste Paulista.
A região logo enriqueceu. A floresta atlântica foi devastada naquela região para dar lugar às fazendas que nasciam. Vieram as ferrovias para ligar o polo produtor aos portos no litoral. A mão-de-obra escrava, além de encarecer o produto, não era tecnicamente preparada, atravancava o capitalismo e, por isso, imigrantes foram trazidos para dinamizar ainda mais o trabalho. Italianos deixavam suas terras buscando vida nova na América cafeeira; japoneses atravessavam o mundo em busca de emprego no Novo Mundo. Daqui do sul saía o charque para alimentar os trabalhadores dos cafezais. São Paulo se industrializava graças à semente torrada. O mundo consumia cada vez mais a bebida amarga.
Caía o Império, nascia a República e presidentes foram eleitos em função da defesa do grão (tão importante se tornara o gênero, que um período da história do Brasil leva seu nome: República do Café-com-Leite). Oligarquias se alternaram no poder; o coronelismo defendia interesses próprios. Grandes artistas, como Cândido Portinari (nascido em uma fazenda de café), ganhavam notoriedade pintando cenas da produção cafeeira. Revoluções estouravam direta ou indiretamente por causa da bebida negra. A crise de 1929 afetou toda a enorme produção do grão brasileiro; seu preço despencava no mercado internacional. Vargas, no seu golpe de 1930, virou a xícara e derrubou o café-com-leite. E mesmo assim, o café continuava sendo consumido no mundo todo. Já fazia parte enraizada da nossa cultura esta frutinha vermelha descoberta centenas de anos antes, do outro lado do mundo.
O café do mundo, agora era brasileiro; o Brasil, de muitas cores, agora era moreno como o café.
Por isso quando seguramos uma xícara dessa bebida quente, densa e amarga, temos nas mãos todos aqueles povos e homens que atravessaram continentes cultivando. Quando sentimos seu aroma, temos nas narinas a essência do tempo; e quando bebemos o café podemos, de forma sublime, sentir o gosto da história.
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Aceita, então, tomar um cafezinho?
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segunda-feira, 9 de julho de 2012

QUANDO JÁ NÃO HÁ MAIS EXPLICAÇÃO


Está na vocação do professor de história ser cético. Contrariamos a religião – e suas historinhas fabulosas – e nos baseamos apenas na ciência e suas teorias. Ironizamos Adão e Eva e o Paraíso, enquanto discutimos australopitecos vagando pelas savanas africanas há milhões de anos.
Assim nos foi ensinado na faculdade, e nos orgulhamos de ter Darwin como “o homem que matou Deus!”.
A cada descoberta, nestes últimos cem anos extremamente revolucionários para ciência, o homem conseguiu se distanciar da fé e se aproximar daquilo que chamamos de razão. Assim, constatamos cientificamente que antes de tudo não havia nada, e que desse nada teria resultado de uma grande explosão que deu origem a tudo, surgindo o universo. Desta forma comprovou-se, através de experimentações, análises e estudos, que o homem é o resultado de um lento processo evolutivo de primatas, que por necessidade de sobrevivência, ao passar de milhões de anos foram adaptando-se ao meio ambiente, chegando a tornar-se hoje o dono de toda a natureza que antes era sua dona.
Solucionamos dúvidas com a ciência. Retiramos enormes pontos de interrogação da humanidade com base no estudo e na razão. Tornamos verossímil – através de teorias – aquilo que antes era inexplicável.
Mas como explicar tantas teorias quando não há razão para entender? Nem toda a ciência do mundo consegue suplantar a inocente ignorância.
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Foi assim que passei por mais um dos meus grandes constrangimentos em sala de aula, anos atrás, quando uma jovem aluna da quinta série parou uma explicação minha sobre pré-história:
- Teorias indicam que nós humanos viemos de um ancestral em comum do macaco, há milhões de anos na África. Dizia eu aos alunos.
- E de onde vieram os macacos, professor? Perguntou a menina.
- Certamente de animais que teriam sobrevivido ao asteroide que extinguiu com quase toda vida na terra, inclusive os dinossauros. Repliquei, tentando assim desviar a atenção da jovem pra outro assunto (dinossauros, quem sabe). Em vão.
- Então de onde vieram os dinossauros?
- De repteis que evoluíram de anfíbios!
- E os anfíbios vieram de onde?
Nesse momento em já sentia uma vontade de mandar a menininha pra coordenação por princípio de tumulto.
- Dos peixes. Respondi friamente; achando que terminaria ali o interrogatório. Ledo engano.
- E os peixes?
- De seres que viviam nos oceanos.
- E estes “seres”, professor? Vieram da onde?
Minha vontade era de dizer que vieram da casa da vovozinha!
- De micro-organismos, que surgiram a partir de um arranjo de moléculas que teriam criado vida supostamente através de um raio que caiu.
Pronto! Agora eu achava ter dado um nó no cérebro da criança. Mas ela não desistia...
- O que são micro-organismos? O que são moléculas? Como é que o raio acertou neles? Aaaahhhhh... E de onde vieram os micro-organismos e as moléculas então?
- ...
Foi quando o sinal bateu para o recreio e todos os alunos saíram correndo para o pátio; inclusive aquela terrível infanto-inquisidora, de trancinhas e aparelho nos dentes, para meu alívio; pois eu estava na iminência de ter que rasgar meu diploma frente àquele pequeno questionário-vivo.
Pelo menos aquela curiosa menina fez com que eu também começasse a me indagar até onde a razão consegue explicar os fatos; e percebi que quando a ciência não consegue mais explicar, aí então, recorremos a Deus. Pois somente um ato divino faria um raio despertar uma matéria bruta.
Mesmo assim, durante estes anos, continuei me perguntando sobre a origem do universo e a resposta final que eu nunca dei àquela mocinha.

Quando surgiu a vida, de fato? O que havia antes do Big Bang? Como, do nada, surgiu isso tudo?
Tantas perguntas sem explicação, cientistas se confrontando em teorias que explicam mais teorias; e quando parecia já não haver mais explicação: Bang!
“Cientistas descobrem o Bóson de Higgs”.
O Santo Graal da Física. Uma partícula capaz de dotar de massa outras partículas. A origem de tudo.
Que ironia!
Em tempos onde fé e religiosidade estavam sendo deixadas em segundo plano, na busca por explicações racionais, veio justamente ela - a ciência -, a inimiga da fé, que provar que Deus existe.
Eis o dom da Criação. O Criador – Deus – explicado pela criatura, através da física. Dotando de matéria e vida o universo. Presente em cada elemento, em cada ser, em cada partícula.
“A Partícula de Deus”.
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E aquela menininha?
Certamente vai querer ser cientista quando crescer.
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quarta-feira, 6 de junho de 2012

A INTERNET TORNA QUALQUER PESSOA INTELIGENTE


Hoje em dia qualquer pessoa transparece ser inteligente, graças a internet e aos sites de busca. Um trabalho de escola, ou de faculdade, pode ser facilmente elaborado com base em pesquisas acessadas no Google ou Wikipédia. Um discurso pode ser preparado usando textos prontos disponibilizados ao público na internet e redes sociais. O “pseudo-intelectual” pode se tornar o centro das atenções num jantar entre amigos com algumas poucas clicadas de mouse em sites de curiosidades.
A internet nos facilitou a vida, nos proporcionou um caminho mais rápido à pesquisa e ao conhecimento, mas nos tornou preguiçosos intelectualmente. Não precisamos mais ler; não necessitamos mais sondar, inquirir por sabedoria. Na dúvida: clique!
Lembro, no meu tempo de Ensino Médio, a dificuldade que tinhamos quando os professores nos davam um tema para desenvolver. Certa vez, metade da nota do trimestre dependia de uma pesquisa sobre “Quem inventou a Imprensa?” Meus colegas e eu passamos dias nas bibliotecas à procura do tema. Hoje, basta reescrever “quem inventou a imprensa” no Google e, numa fração de segundo, somos inteligentes o suficiente pra saber que Gutenberg a inventou na Alemanha, em 1450 e que sua primeira publicação foi uma bíblia.
Mas quando nem a internet consegue responder – e o desespero bate – é que percebemos o quanto nos tornamos dependentes cognitivos dessa ferramenta moderna.
Assim foi quando, em aula, perguntei aos alunos algo que não existe na internet:
“Quem foi o uruguaianense que morreu assassinado com um tiro, na saída da Catedral, num dia de eleição e hoje é nome de rua?”
Uns, querendo aparentar inteligência, acessavam seus celulares por baixo da classe, pesquisando, sem achar nada. Outros, desesperados, saíam da aula e ligavam até pros pais, na esperança de conseguir alguma resposta válida. Outros tantos, em ato extremo, arriscavam na base de suposições falhas, valendo-se da dica: “nome de rua”.
"- Getulio Vargas, professor." Exclamou um aluno, no fundo da aula.
Boa tentativa, meu jovem. Mas a bala que matou Vargas foi disparada por ele próprio, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
"- Não teria sido 'Sant’Ana', professor?" Respondeu perguntando uma aluna timidamente curiosa.
Não, minha filha. Impossível alguém assassinar a Santa Padroeira da nossa cidade, na saída de sua própria Igreja.
"- Estou em dúvida, professor. Não sei se foi Duque de Caxias ou Santos Dumond." Disse, meio contrariado, mas com pose de intelectivo, o rapaz que queria impressionar a colega ao lado.
Em dúvida fiquei eu, sobre a sanidade mental daquele aluno, depois daquela diarréia frásica que ouvi.
"- Já sei! Foi o... '13 de Maio', eu moro lá!" Vomitou, em forma de palavras, o confuso adolescente que chegara durante a aula e quis arriscar na base do chute.
Claro. O ilustríssimo “Senhor 13 de Maio”? Casado com a “Dona XV de Novembro”? Sendo que deste casamento nasceram os jovens “7 de Setembro” e “14 de Julho”. Não, meu caro. Estas datas não são nomes de pessoas.
"- Aaahhhh; eu sei professor! O Uruguaianense que foi assassinado e hoje é nome de rua se chamava JOAQUIM MORTINHO!" Respondeu com ênfase, aquele aluno, sem expressar nenhum sinal de ironia e sim de convicção.
Agora eu já me sentia o próprio Professor Raimundo com aquela turma.
Foi então que dei por encerrada a aula. Pois concluí que a internet, o Google, os sites de pesquisa e as redes sociais, infelizmente, hoje já fazem parte enraizada de nossas vidas; e, adstritos à esse fenômeno, todos nós recorremos – ou um dia recorreremos – à ela.
Prova disso é que, depois de hoje, todos saberão, outros farão comentários, citações, apologias políticas, muitos fingirão ser intelectuais em conversas, dizendo que Feliciano Ribeiro foi um uruguaianense morto, na saída da Catedral, num dia de eleição.
Tudo isso porque eu, pra contar esta história, disponibilizei esta curiosidade na internet.

domingo, 3 de junho de 2012

A CULPA É DE HOLLYWOOD...

... pelos fracassos amorosos que se tornaram rotina, atualmente, na vida das pessoas.
Isto porque o cinema nos vende esta imagem distorcida, utópica e fantasiosa de relacionamentos que só existem em filmes; e nós, pobres e iludidos mortais, buscamos ser – e viver – estes personagens fictícios, com seus amores perfeitos, em cenas que somente a sétima arte foi capaz de imortalizar.
E o resultado disso: frustrações românticas da vida real.

Pois somente na ficção que Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman) desafiaram os horrores da guerra e sobreviveram, mantendo vivo o amor em tempos de ódio, em Casablanca.
Apenas nas telas do cinema viram-se amores impossíveis; como do anjo Seth (Nicolas Cage) pela mortal Maggie (Meg Ryan). Um amor de auto-sacrifício, para transpor a barreira dos limites e viver por pelo menos um dia o sentimento sublime; em Cidade dos Anjos.
Amor além da morte, como de Molly (Demi Moore), pelo seu amado Sam (Patrick Swayze) em Ghost – Do Outro Lado da Vida. Ou como o de Gerry (Gerard Butler), por Holly (Hilary Swank); que, em cartas, deixou sinais de seu amor pós-vida, em P.S. Eu Te Amo.
O doce encontro do simples dono de uma biblioteca Will (Hugg Grant) com a estrela do cinema Anna (Julia Roberts), onde mesmo com seus antagonismos sociais terminou em final feliz no filme Um Lugar Chamado Notting Hill.
Ou ainda, no livro de Gabriel Garcia Marquez, Amor nos Tempos de Cólera, – depois transformado em filme – que Florentino Ariza (Javier Barden) suportou por décadas um amor recolhido pela bela Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) em meio à doença e o preconceito social, na Colômbia do início do século XX.


Amor! Como em tantos outros filmes, de tantas histórias fantásticas, com seus casais perfeitos em belos cenários e finais surpreendentemente felizes.
Foi isso que Hollywood nos vendeu; mas não é isso que encontramos quando conhecemos uma pessoa na vida real. Pois o amor não é perfeito.
O amor é como a estátua da Deusa Atena. De longe, aquele mármore talhado é belo, perfeito, e magnífico aos olhos. Porém, quanto mais perto chegamos, percebemos suas pequenas falhas e suas leves rachaduras; e muitos se decepcionam ao primeiro sinal de imperfeição do amor, enganados pela falsa propaganda hollywoodiana.
O amor é errado; o amor é falho; o amor tem seus altos e baixos, suas idas e vindas; pois o amor é complicadamente simples ao mesmo tempo que é simplesmente complicado.
Porque amar é aceitar o(a) companheiro(a) como ele(a) é. Conviver com seus defeitos; reconhecer e suportar suas manias; entender que a pessoa ao seu lado não é perfeita porque ela – assim como você – é humana, passível de erros também. Amar é perdoar o erro antes mesmo desta pessoa cometê-lo.
Amar não é belo, como são os filmes. Amar é simples, como a própria vida.
Por isso se apaixone, sem querer encontrar explicação. Deseje, sem procurar beleza. Sinta, sem tentar entender o sentido racional do sentimento. Ame, sem buscar a perfeição.
Até porque a pessoa que lhe ama sabe que você também não é perfeito e mesmo assim vai desejar viver com você um final feliz de filme romântico.
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segunda-feira, 21 de maio de 2012

SE


Representada pelo verbo, dependente de uma condição, de uma ordem, de um pedido, duvidosa na frase, existe uma palavra.
Palavra esta que talvez nem devesse existir; haja visto que ela serve apenas para expressar algo que poderia ter acontecido, mas não aconteceu. Até hoje lembro das provas de português que eu tirava notas baixas por não estudar pretérito imperfeito.
"Ah, se eu tivesse estudado!"
Depois, professor, perdi as contas de quantas vezes, em aula, interrompi perguntas de alunos quando questionavam “o que poderia ter acontecido se...”. Não existe o “se” na história. Aconteceu, aconteceu; não aconteceu, não é história.
“E se não tivessem descoberto a América?”
“E se a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra?”
“E se Vargas não tivesse se suicidado?
Lamento meus caros, mas se não aconteceu, se não houve, se o que resta é apenas especulação, não percam tempo questionando.
Até porque durante a vida você vai se deparar com momentos de dúvida, posto às atitudes tomadas ou não tomadas. Você vai se perguntar o que teria acontecido se tivesse tomado coragem de dizer a verdade quando não disse. Vai se perguntar como seria a vida hoje se não tivesse cometido aquele grande erro que lhe mudou o destino.
E se você tivesse tirado aquela pessoa pra dançar? E se aquela pessoa foi o grande amor da sua vida e você deixou passar? E se você tivesse dito "eu te amo", ao invés de engolir aquelas palavras e, por isso, hoje lamenta?
O que somos é o resultado daquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Quantas vezes erramos e sequer tentamos corrigir? Quantas vezes não fazemos por receio ou falta de atitude?
Os anos vão passar, e com eles os “ses” da vida vão martelar sua cabeça.
Não deixe que sua vida seja povoada destes verbos de passados imperfeitos; conjugue sua vida pautada no presente, mas planejando sempre no futuro.
De preferência PERFEITO.
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Este é um conselho de alguém que já fez e deixou de fazer tantas coisas e hoje reflete como seria a sua vida se tivesse algum amigo Provinciano para lhe dar conselhos quando ainda era tempo.
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segunda-feira, 19 de março de 2012

A DILMA NUNCA LEU A OBRA DE MAQUIAVEL

Existem momentos, na vida do professor, que são extremamente constrangedores.

Aqueles momentos em que somos surpreendidos por uma pergunta inesperada e que ficamos procurando uma forma de responder tendo que ao mesmo tempo explicar e não desviar do assunto.

Como numa aula de filosofia, quando eu explicava que “cultura é tudo aquilo que fazemos, agimos ou pensamos” e uma aluna perguntou: “Então, se é assim, sexo é cultura, professor?”

Só uma semana depois consegui responder a pergunta da aluna; que não deixava de ter razão no seu questionamento.

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Porém, mais constrangedor é trabalhar a teoria e não conseguir apresentar a prática, tendo como base a sociedade e a política que vivemos.

Foi assim quando, em aula, trabalhando uma questão de vestibular retirada da obra “O Principe”, de Nicolau Maquiavel, que mesmo tendo o gabarito da questão, os alunos e eu esbarramos na contrariedade do texto ao trazermos o tema para os dias de hoje.

Segundo o florentino Maquiavel que em sua mais famosa obra aconselha a como se deve governar cabe ao principe ser amado e temido ao mesmo tempo; só assim ele terá as rédeas do Estado e do povo. E para tanto, seu governo deve ser coeso, forte e fiel (inclusive entre aqueles que lhe ajudam a governar).

A questão de vestibular apresentava este texto em seu enunciado:

“A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar. A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência, é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre dele fazer mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores”.

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Trad. de Pietro Nassetti.São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 136.)

Livro de cabeceira de muitos governantes – inclusive do maior estrategista da história contemporânea (Napoleão) – O Principe ajudou a unificar reinos esfacelados por guerras, nações divididas em disputas etnicas, países destruídos pela miséria e pela fome. Guiou governos em períodos sombrios da humanidade e manteve muitos tiranos no poder, quando estes se valeram dos ensinamentos de Maquiavel vistos sob outro enfoque.

Mesmo assim estes Chefes de Estado nunca governaram sozinhos e, por isso, sempre precisaram de bases aliadas e assessoria fiel e de qualidade. Assim, quem leu Maquiavel se manteve no poder, teve aliados, foi amado, temido e – assim como a obra e o autor – entraram para história.

Quando apresentei as alternativas para a resposta do texto destacado, um aluno me ironizou comentando: “Professor, pelo visto, devido à quantidade de ministros que já caíram nesse primeiro ano de governo, a Dilma nunca leu a obra de Maquiavel!”

Novamente fiquei sem reação ao comentário especulativo de um aluno.

Por um momento cheguei a pensar em anular a questão, tendo em vista que a teoria histórica já não se aplica mais à prática, na política atual (o que confundiria ainda mais os jovens cerébros destes meus alunos).

Esbocei um sorriso para o comentário extremamente inteligente e sarcástico do aluno e apenas destaquei a resposta certa, dando continuidade à aula.

Mas com uma coisa eu concordo: A Dilma não leu O Príncipe!

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Não muito longe de Brasília, na contraditória Monarquia Absolutista de Uruguaiana, um governo teve, em seus 7 anos de gestão, uma ciranda ministerial onde já passaram 34 secretários.

Alguém, por aqui, também não andou lendo a obra de Maquiavel.