Total de visualizações de página

sábado, 5 de dezembro de 2015

O OCIDENTE, A DEMOCRACIA E A LIBERDADE VERSUS O FUNDAMENTALISMO E O TERROR

O terror praticado pelo Estado Islâmico segue crescendo, ameaçando o mundo, a liberdade, a democracia e a paz mundial.
Após a série de ataques a Paris na semana passada, Turquia, Nigéria e Mali foram os novos alvos deste grupo fundamentalista que pretende criar seu Califado e destruir qualquer tipo de outra cultura que exista.
Os infiéis (qualquer pessoa que não siga sua doutrina) devem morrer.
Para eles, somente a sua Charia importa.
Nenhum país está à salvo.

A palavra de ordem é "medo".
É importante destacar que seus jihadistas - prontos para matar ou morrer - não representam os valores e a própria religião muçulmana. Estes homens fanatizados representam a própria barbárie medieval que se apossou de Constantinopla no final da Idade Média e destruiu o antigo Império Bizantino, outrora um mosaico cultural e religioso no Oriente Médio.
Nestes últimos dias tenho visto centenas de "novos cientistas políticos" teorizando as origens do Estado Islâmico. Uns culpam o imperialismo capitalista norte-americano que interveio recentemente na região. Outros acusam o sionismo judaico como motivo da raiva deste terrorismo. Há, inclusive, até quem defenda o Estado Islâmico, alegando que sua jihad é legítima.
Pessoas que nunca gostaram de frequentar aulas de geografia e história só poderiam pensar assim e escrever tais teorias.
Brincadeiras à parte, a própria história explica as origens desta nova tentativa de recriar o Antigo Califado que se apossou da região, séculos atrás.
Tão radicais que nem a própria Al-Qaeda conseguiu controla-los, o ISIS aproveitou-se do "Vazio de Poder" deixado pela saída dos EUA da região em 2011, confiscando armas, e ainda expandiu-se com a Guerra Civil na Síria fortalecendo-se e ocupando áreas ricas na exploração de petróleo, que hoje financia seu crescimento.

Praticando assassinatos brutais (os quais são filmados e expostos à mídia como forma de disseminação do terror e do medo), escravizando mulheres e crianças cristãs e de outras etnias, destruindo prédios, igrejas, templos e obras de arte, e praticando atentados contra a população mundial, o Estado Islâmico não respeita credo, cor, pensamento político, gênero ou opção sexual. Qualquer que seja sua forma de viver e pensar é infiel.
Portanto, seja capitalista, socialista, branco, negro, pobre, rico, homem ou mulher, quem não seguir a sua doutrina religiosa fanática, merece (segundo eles) morrer.

O mundo - e principalmente o Ocidente - está à merce da barbárie do E.I.
Os princípios morais - liberdade, direito, respeito, democracia e paz - que a sociedade levou milhares de anos para consolidar estão em xeque.

ESTA GUERRA QUE SE APROXIMA NÃO É UMA GUERRA "POLÍTICO-ECONÔMICA".
A GUERRA CONTA O E.I. É UMA LUTA DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA CONTRA O FANATISMO FUNDAMENTALISTA.
EXPOSTOS OS FATOS, E PREOCUPADO COM A ATUAL GEOPOLÍTICA MUNDIAL, DEIXO UMA PERGUNTA:
ESTARÍAMOS NO PRENÚNCIO DE MAIS UMA CRUZADA OU DE UMA NOVA GUERRA MUNDIAL?
SOMENTE A HISTÓRIA RESPONDERÁ.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A "DÍVIDA HISTÓRICA" DA PRÓPRIA HISTÓRIA

Tenho lido muito e ouvido falar que hoje em dia que a sociedade brasileira precisa pagar uma "Dívida Histórica" que tem com os negros.
Mas essa acusação falaciosa se torna confusa quando percebe-se que o próprio negro também escravizava.
* Zumbi de Palmares (aquele que os livros do MEC disseram ser o líder de um exemplo de sociedade comunitária) tinha escravos e matou Ganga Zumba, seu tio, para se tornar o líder daquele Quilombo.
* Chica da Silva, casada com um capitão-mor português, só conseguiu se inserir na sociedade mineira por ter diversas escravas que eram oferecidas como prostitutas à elite colonial.
* O maior comerciante de escravos do século XIX era um negro; seu nome era Francisco Felix "O Xaxá", e só ele foi responsável pelo tráfico de 500 mil escravos (todos eles registrados em atas comerciais).
Quem cobrará a "Dívida Histórica" desses negros que também escravizaram?
Para tentar resolver esse imbróglio, os professores de história criaram o mito de Zumbi (o herói negro, símbolo da resistência) e ocultaram os fatos da vida de Chica da Silva e Xaxá.
A tendenciosidade da Historiografia Brasileira é abusadamente maldosa. E esse "revanchismo histórico", que joga classes sociais x classes sociais e etnias x etnias nunca quis, de fato, falar de história, apenas usar a história com finalidades políticas.
Que a hecatombe da escravidão no Brasil foi um episódio terrível na história mundial, todos sabemos e condenamos. Mas não se deve culpar determinados grupos em favor de outros.
A culpa pela escravidão, que durou oficialmente 358 no Brasil, não é apenas de uma determinada etnia. Ela é milenar e vem desde os tempos da própria África.
Por isso, antes de querer debater de forma acusativa, é necessário ler a história de forma ampla, buscando as origens, não apenas as consequências sociais.
Portanto, quando alguém vem apenas com chavões falaciosos repetidos em bancos escolares, como um papagaio que apenas repete o que ouviu, sem nem ao menos saber o que está repetindo, eu tenho o gosto de expor documentos, fatos, nomes e provas, para destacar que história é muito mais que uma leitura.
História é pesquisa, compreensão e, acima de tudo, REFLEXÃO.
Mas reflexão é algo que se deve fazer sozinho, por isso reitero: para conhecer a História é preciso LER e, acima de tudo, ENTENDER sem alguém murmurando doutrinas em seus ouvidos.
EM TEMPO: a maior "Dívida Histórica" que existe é da própria história, que por tantos anos mentiu nas escolas para nossos filhos.

sábado, 26 de setembro de 2015

MOTEL E VIAGENS AÉREAS EM URUGUAIANA

Quando o primeiro motel foi inaugurado em Uruguaiana, mesmo sem saber a real utilidade do serviço prestado, famílias inteiras (pai, mãe, filhos e sogros) se programavam para passarem os fim de semana no estabelecimento. Vereadores marcavam hora e, após noitadas na nova hospedagem de cama redonda, grandes espelhos e luzes piscantes, discursavam eloquentemente na tribuna da Câmara, enaltecendo o prestigioso serviço prestado pela nova empresa.
O Uruguaianense, naquela época, não sabia o que era, mas achava chique frequentar motel.

Com inauguração marcada para outubro, ao preço de irrisórios R$89,00 reais, os voos entre Uruguaiana e Porto Alegre farão até mesmo o mais bairrista querer viajar pela primeira vez de avião, mesmo sem ter motivo algum pra ir a Porto Alegre. Famílias vão tirar férias em "POA", políticos vão fazer "merchan" no aeroporto e tirar fotos com o comandante do avião.

E assim, vai ter gente comprando passagem, tirando selfies e fazendo check-in quando chegarem na capital.
O Uruguaianense, em outubro, vai se achar chique viajando de avião.

Enquanto isso, muitos vão continuar aproveitando os finais de tarde na pracinha do Aeroporto Ruben Berta pra tomar mate e jogar bola com os filhos, viajando de avião apenas quando realmente for necessário e frequentando motel para...
... ok, vocês sabem pra quê.

-
NOTÍCIA: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/08/uruguaiana-tera-voo-diario-e-direto-para-porto-alegre-4828343.html
VALORES: http://redejovemhits.com.br/wp/index.php/2015/09/24/voos-de-uruguaiana-a-porto-alegre-a-partir-de-r-8990/

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O DIA QUE URUGUAIANA VIU O PODEROSO EXÉRCITO PARAGUAIO SE RENDER E O IMPÉRIO BRITÂNICO SE CURVAR AO BRASIL

18 de Setembro de 1865
Durante todo século XIX o sol jamais se punha sob o Império Britânico e a Inglaterra reinou soberana em todas as partes do mundo. Poderosa e inclemente, a Rainha Vitória, decretava leis para aprisionamento de navios e autoproclamava a Grã-Bretanha como a "polícia dos mares".
O jovem Brasil enfrentou a Inglaterra pela primeira vez quando Dom Pedro II negou-se a pagar indenização exigida pelo embaixador inglês no Brasil, William Dougal Christie, decorrente do naufrágio do navio Prince of Wales no litoral gaúcho em 1861.
Um ano depois, após marinheiros ingleses terem sido presos na cidade do Rio de Janeiro por embriaguez e arruaça, novamente o embaixador Christie exigiu que o imperador brasileiro ordenasse a libertação dos marujos britânicos e demissão dos policiais brasileiros. Mais uma vez D. Pedro II negou-se a atender às ordens inglesas. Em represália a Inglaterra aprisionou navios brasileiros e o imperador brasileiro, em resposta rompeu laços diplomáticos com a poderosa Senhora dos Mares. Era o início da Questão Christie, um atrito entre o Império Brasileiro e o Império Britânico que só terminaria depois de dois anos de uma longa batalha jurídica, quando o Brasil saiu vencedor da Questão, após o Rei da Bélgica, Leopoldo I, ter dado ganho de causa favorável ao Brasil. Orgulhosa, a Rainha Vitória negou-se a reconhecer a derrota.
D. Pedro II, assim, defendeu a honra e a soberania brasileira contra os abusos da autoridade inglesa.

Em 1864 o Ditador Paraguaio Solano Lopez invadiu o Brasil com um poderoso exército armado e treinado, buscando uma saída para o mar.
Em 1865 o Paraguai já ocupava a província do Mato Grosso e todo Norte da Argentina.
Por onde passavam, as tropas paraguaias deixavam um rastro de destruição e morte. São Borja, Santo Tomé, Paso de Los Libres e Itaqui não foram páreo para os 6.500 soldados paraguaios comandados pelo General Estigarribia. Em sua rota de guerra, Uruguaiana seria apenas mais uma cidade a ser dominada.
Ao entrar triunfal na cidade de Uruguaiana, evacuada às pressas por ordens do General David Canabarro, os paraguaios ficaram sitiados num cerco que durou semanas, feito pelas tropas aliadas de Brasil Argentina e Uruguai.
Confinados, os paraguaios sentiam em Uruguaiana sua primeira terrível derrota.
Sabendo da iminente rendição das tropas invasoras, D. Pedro II viajou do Rio de Janeiro à Uruguaiana para ser testemunha ocular da derrocada paraguaia em solo brasileiro.

No dia 18 de setembro de 1865, em Uruguaiana, D. Pedro II assistiu o poderoso exército paraguaio se render a seus pés e, de quebra, ainda recebeu a visita do constrangido embaixador inglês na Uruguai com pedidos oficiais de desculpas escrito a punho pela Rainha Vitória.
Uruguaiana, há 150 anos, foi palco de uma vitória militar e outra diplomática do Brasil.
Mais que isso, há 150 anos, em Uruguaiana, o Brasil mostrou sua soberania pro mundo.
Viva Uruguaiana e o Sesquicentenário da Retomada.
Viva a nossa história!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

AQUELE MENINO SÍRIO NA PRAIA ME FEZ CHORAR

Aquele menino sírio na praia me fez chorar.
Aquele menino na praia, inerte, de bruços, recebendo as batidas das ondas não estava brincando com elas.
Aquele menino na praia, repousado na imagem, imóvel na areia, não estava construindo um castelinho com seus grãos.
Aquele menino na praia, estático, em silêncio, não estava com seus pais, como num dia em que a família tira fotos na orla.
Aquele menino na praia, que deveria estar rindo, desfrutando a sua inocência, usufruindo a sua infância, recreando-se nesta que deveria ser a sua fase mais bela, infelizmente teve sua vida ceifada pelas agruras do mundo adulto e cruel que o impossibilitou de existir.
Aquele menino na praia me fez sentir raiva por ser adulto; pois somos nós, os adultos, que complicamos o mundo, que se fosse infantil seria tão simples como brincar nas areias da praia, algo que aquele menino não pode fazê-lo.
Aquele menino sírio na praia me fez querer ser criança também para não ter que ver tudo isso que está acontecendo hoje em dia.
Aquele menino na praia me fez chorar de vergonha e morrer um pouco por dentro. Pois hoje, o mundo adulto, ao qual eu infelizmente também pertenço, puniu sem querer quem apenas queria viver.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

JAMAIS DESAFIEM OS GAÚCHOS


Getúlio Vargas havia perdido a eleição presidencial de 1929 para Julio Prestes, candidato paulista apoiado pelo então presidente - também paulista - Washington Luís.

Em meio a protestos contra as fraudes eleitorais que teriam dado a vitória a São Paulo, além do assassinato do candidato a vice da chapa de Vargas (João Pessoa) e o acidente aéreo que matou o tenente Siqueira Campos, os gaúchos articularam um golpe para derrubar o governo de Washington Luís e empossar Getúlio Dornelles Vargas.
Ao saberem que os gaúchos haviam partido de trem e a cavalo do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro, alguns jornais paulistas e cariocas publicavam reportagens desafiantes, afrontando que "jamais os gaúchos atarão seus cavalos no Obelisco da Avenida Rio Branco".

Em 03 de Novembro de 1930, após entrarem triunfais no RJ, gaúchos atavam seus cavalos no Obelisco, derrubavam o governo de Washington Luís, encerravam a República do Café com Leite, venciam a Revolução de 1930, mudavam o rumo da história do país e provavam ao Brasil que JAMAIS deve-se desafiar o Rio Grande do Sul.

Honramos o hino que diz: "Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra!"

Viva o Rio Grande do Sul!
Viva a Verdadeira Revolução que o Rio Grande venceu!


* COMPARTILHE A HISTÓRIA HEROICA DO RS *



domingo, 30 de agosto de 2015

A CRISE ECONÔMICA INSTITUCIONALIZADA E O "NOVO BRASILEIRO"

O Brasil, o Rio Grande do Sul e Uruguaiana deram passos pra trás em 2015.
A Prefeitura Municipal não tem dinheiro em seus cofres públicos.
O Governo Estadual, completamente quebrado, corta verbas, aumenta impostos e parcela salários de servidores públicos.
O Governo Federal vive a maior crise econômica, política e moral da história do Brasil. Inflação e dólar nas alturas, desemprego e queda de 1,9% do PIB é apenas uma pequena amostra grátis (pois você não tem mais dinheiro, né?) do que está acontecendo.
O Brasil voltou à "Década Perdida" de 1980.
Muitos que estão lendo não viveram, ouros eram pequenos demais para lembrar, mas quem viveu aqueles terríveis anos do Brasil, recorda muito bem o que era sobreviver com o salário que não chegava ao fim do mês, o terror das remarcadoras de preços, as filas no supermercado nos dias de "rancho", a inflação estratosférica, o desemprego, o déficit público anual e a corda no pescoço da família brasileira.
Mesmo assim, nos anos 80 o Velho Brasileiro ainda conseguia sobreviver a crise porque não tinha muitas coisas. Raras eram as famílias com carro do ano na garagem, casa financiada, ar condicionado em quase todas as peças casa, diversos eletrodomésticos consumindo energia elétrica, etc.
Não havia internet pra pagar, tampouco aparelho celular e tanta conta de telefonia.
Os filhos não pediam I-phones, I-pads e tablets, pois não havia.
As crianças não tinham roupas da moda, de marcas famosas; ostentação era quando o menino ganhava um kichute novo.
Na década de 1980 não havia luxo; e talvez tenha sido por esse fator que o Velho Brasileiro sobreviveu.
Em 2015, o Novo Brasileiro está vivendo como se estivesse nos anos 80, porém, dessa vez, com todo luxo e ostentação que agora custa muito caro.

Pobre Novo brasileiro.

Agora mais do que sobreviver a crise, o Novo Brasileiro precisa aprender a viver normalmente.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

PERDI A CHAVE DO CARRO

   Justo hoje, no final da tarde deste que está sendo dos dias mais corridos da semana, sendo que tive aula todo o dia e ainda tinha alguns períodos agora a noite, e há pouco menos de 24h do lançamento do novo Jornal do qual faço parte da equipe de redação e atrasado no envio das reportagens que precisam estar na edição de amanhã, perdi a chave do meu carro para aumentar por completo o meu desespero.
   Sem tempo para procurar ou chamar um chaveiro, liguei para que um táxi me levasse ao programa de rádio num dos extremos da cidade e ainda consegui carona para que me deixassem no curso, do outro lado da cidade.
   Depois da aula, sem dinheiro na carteira (problemas da vida de professor), minha única alternativa foi voltar caminhando pra casa.
   Percebi, com aquela situação, que em meio a toda essa tragicômica situação era possível tirar algum proveito: um para tempo colocar os pensamentos em dias e refletir, além de caminhar a aproveitar o trajeto. Ainda desliguei o celular, a fim de me desconectar completamente das redes sociais virtuais, enquanto percorria por ruas e calçadas a verdadeira rede social real de Uruguaiana.
   Pelo caminho vi tanta gente que há muito não via pessoalmente. Cumprimentei, acenei e apertei a mão de pessoas que ultimamente só tenho visto através de fotos de Facebook e conversado por Whatsapp.

   Encontrei com um amigo e trocamos um dedo de prosa banal.

  Parei na frente da casa de outro amigo e tomei dois mates com ele enquanto ele se queixava da inflação e da economia nacional.
   Atravessei a rua quando fui chamado por um grupo de conhecidos que discutiam política na esquina da praça e dediquei alguns minutos àquele debate informal.
  Cruzei por amigos que estavam indo jogar futebol, no único dia que suas esposas e namoradas os liberam e eles me perguntaram quando me farei presente às "peladas" novamente. Infelizmente minha agenda de compromissos não coincide com o ciúme das cônjuges deles.
   Ainda passei os olhos numa boa camisa na vitrine de uma loja e prometi pra mim mesmo compra-la assim que tiver dinheiro sobrando. Mais adiante, ao consultar o saldo da conta no banco, percebi que não vai ser tão cedo assim que comprarei aquela camisa.
   Quase chegando em casa, vi gente apressada acelerando com seus carros e cheguei por um momento a sentir pena destas pessoas. Presas a seus relógios, nenhuma delas talvez tenha percebido a bela noite que caía diante dos nossos olhos. Nem eu teria visto também se não fosse aquela chave.

  Foi quando dobrei a esquina de casa que voltei a normalidade da vida. O carro estacionado na frente, os compromissos à minha espera naquela luz acesa do meu escritório e, por um instante, quase que apertei o passo para chegar logo ao destino das minhas responsabilidades; mas não o fiz. Continuei com passos calmos os últimos metros daquele prazeroso passeio forçado pelos vieses que meu tumultuado dia me impôs e dei por concluído mais um dia de trabalho. Depois de fazer um mate e sentar para escrever, em meio a pilhas de documentos e papéis, ela estava ali: a chave do carro.
   Escondida sob os compromissos, eu acredito que aquela bendita chave se encobriu de propósito, abrindo a possibilidade de me permitir viver um dia que eu não jamais teria aproveitado se estivesse com ela.
   Pela primeira vez uma chave que não foi usada abriu, por alguns instantes, uma porta.


terça-feira, 11 de agosto de 2015

A CULPA É DO PERO VAZ (COMO NASCEM OS LADRÕES NO BRASIL)

Quando a frota de Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500, para verificar as posses lusitanas na América, o escrivão oficial da Coroa Portuguesa, Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei Dom Manuel uma carta onde destacava que: “... nessa terra, aqui, em se plantando, tudo dá!”
O problema é que nessa mesma viagem dois ladrões que acompanhavam a frota de Cabral e Caminha ao chegar ao Brasil pegaram febre, morreram e foram enterrados aqui.
E justo aqui nessa terra, onde “em se plantando, tudo dá”, nunca mais, desde então, parou de nascer ladrão no Brasil.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

A CORDIALIDADE VIRTUAL E A MORTE DO MUNDO REAL

Sou do tempo em que se atravessava a rua para cumprimentar um amigo.
Apertar a mão de uma pessoa, acenar para alguém que passa à distância ou apenas responder com um sorriso sincero eram gestos comuns de cordialidade duma época onde se praticava a amizade real.
Hoje em dia as pessoas conversam por horas através de textos, cliques e emoctions; e silenciam quando se encontram. Participam de grupos de amigos no Facebook e Whatsaap; mas não são – de fato – amigos, pois na rua fingem não se conhecer.

O mundo se inverteu na lógica das relações humanas que atualmente as redes sociais aproximam quem está longe, mas afastam quem está perto.
A cordialidade parece ter ficado restrita ao mundo virtual. As pessoas baixaram demais a cabeça olhando apenas a tela fria de seus recursos digitais.
O mundo tangível ficou vazio. E se as pessoas erguessem a cabeça para olhar o mundo 45° graus acima novamente, veriam recursos reais da vida que estão dia-a-dia sendo descartados.

Essa semana eu vi dois amigos conversando através de seus celulares; cada um de um lado da rua, pois não se viram ou talvez não quiseram se saudar.
E eu ainda sou do tempo em que se atravessava a rua para cumprimentar um amigo.

AMIGOS, CUMPRIMENTEM-SE.

terça-feira, 14 de julho de 2015

QUANDO NEM MAIS A HISTÓRIA SERVE DE EXEMPLO

Na década de 70 jovens saíram às ruas para enfrentar o Regime Militar.

Na década de 80 jovens saíram às ruas para pedir a volta da democracia, nas Diretas Já. 

Na década de 90 jovens saíram às ruas, com caras pintadas, para derrubar um presidente.

Hoje os jovens postam suas "raivinhas" em redes sociais achando que estão praticando um grande ato de cidadania.

Desculpe informá-los, mas ‪#‎ARevoluçãoNãoSeráOrkutizada‬



* * *

domingo, 5 de julho de 2015

O FACEBOOK NÃO MERECE CHATOS


Não é à toa que Mark Zuckerberg já disse várias vezes estar triste com o comportamento dos brasileiros no Facebook, rede social criada por ele em 2004. Nas palavras de Mark: “Se por um lado, os brasileiros fazem o Facebook crescer, por outro estragam tudo!”.
O que era pra ser uma rede social onde amigos trocam mensagens, compartilham fotos, curtem postagens e – até – se cutucam, agora o face virou um campo de batalha virtual onde a bandeira que cada um diz representar e o posicionamento ideológico pessoal deve prevalecer sobre os outros.
O Facebook se tornou a última fronteira quente da guerra fria. Esquerdizantes e neoliberais, que se xingam desde os tempos da Cortina de Ferro, agora se atacam em postagens, comentários, respostas e contra-respostas. Em 2014 pró-Dilma e pró-Aécio quase se dilaceraram verbalmente durante a campanha eleitoral. Mais recentemente, a discussão sobre a redução da maioridade penal saturou o feed de notícias das nossas timelines.
Chego a ficar admirado com a quantidade de "Cientistas Políticos Ctrl-C, Ctrl-V" que tenho como amigos de rede social.
Insuportavelmente, o Facebook criou nas pessoas a doença do POLITICAMENTE CORRETO, da qual eu diagnostico como: hipocrisia crônica. Pois a grande maioria do que estes moralistas cibernéticos pregam, se limita apenas ao mundo virtual deles. Lá fora, muitos destes arautos da ética não praticam toda essa retidão exemplar que publicam.
E “ai” de quem queira postar o que realmente pensa. No Brasil ter opinião própria se tornou crime. E no Facebook o arbítrio está censurado.
Porém, o que mais tem se visto ultimamente no Facebook é a proliferação da DITADURA DO OFENDIDO. Nada mais pode ser dito, sem que alguém se ofenda profundamente, vitime-se, dê início ao bate-boca on-line e declare guerra. As forças aliadas, de um lado e de outro, vão tomar partido e outro confronto de "mimimis" terá início.
Das trincheiras de cada computador, notebook e celular essas pessoas se atacam. E na “terra de ninguém” fica a minha – e a sua – timeline sendo diariamente massacrada por esse enfastiante mau comportamento de seus usuários.
Amizades de anos estão acabando em um clique.
Em atos de extremo ódio, raivosos chegam a se bloquear.
Prevejo o dia (e não está muito longe disso acontecer) em que pessoas irão brigar a socos na rua pelo fato de uma curtida mal dada no Facebook.
Uma cutucada poderá custar a vida!
O Facebook ficou chato! Mas ficou chato porque são essas pessoas chatas, e que não sabem conviver em sociedade, que estragaram a proposta de ser viver em uma rede social e - principalmente - não respeitam o direito do outro de pensar, agir ou ser diferente.
Pobre Voltaire! Se vivesse nos tempos de hoje e publicasse na sua linha do tempo "Posso não concordar com uma única palavra que dizeis, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la", receberia uma onda de críticas a ponto de ter de apagar sua postagem, por causa dos chatos que o contrariariam ou se ofenderiam com o iluminista.
Hoje, Zuckerberg ao olhar para o comportamento que essas pessoas chatas adotaram, deve estar se lamentando por ter criado o que já se tornou uma REDE ANTI-SOCIAL.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

A SEMANA (21 a 27/06) – O QUE FOI NOTÍCIA, XISME OU PURA INVENÇÃO

Decidi publicar toda sexta-feira os fatos (sejam eles verdadeiros, aumentados ou imaginados) que foram notícia e tiveram repercussão em jornais e redes sociais durante a semana. Preparado que já me sinto para a onda de críticas de alguns ignóbeis “politicamente corretos” de plantão, não deixarei de expressar – em alguns casos – minha opinião sobre o assunto.

DOMINGO (pois a semana começa no domingo):
* A seleção brasileira de futebol, sem Neymar, venceu a Venezuela, provando mais uma vez que futebol é coletividade. Mesmo com um elenco muito inferior em relação a outros tempos, o Brasil apresentou um futebol rápido e com boa troca de passes. Vitória por 2x1 e a cada gol da seleção brasileira a TV dava closes em Neymar, que assistia da plateia. O futebol da Venezuela, novamente, caiu de “Maduro”
* Agora sim que os senadores brasileiros não serão bem recebidos por lá.

SEGUNDA-FEIRA:
* O inverno chegou no hemisfério sul, mostrando que certamente será muito frio conforme as postagens que tomaram conta das redes sociais. Mais da metade dos facebookianos se tornaram meteorologistas. Até os jornais locais – por falta de matérias – fizeram reportagens ao vivo dizendo: “Faz frio em Uruguaiana”. Obrigado amigos de facebook e telejornais locais; graças a vocês descobri que está frio porque é inverno.
* Neymar abandona a delegação brasileira e diz: "Pra mim acabou!" Um viva para o Brasil e sua "Neymardependência"

TERÇA-FEIRA:
* Sob clima tenso, a Assembleia Estadual do RS aprovou o Plano Estadual de Educação sem mencionar a proposta ao ensino sobre identidade de gênero nas escolas públicas do RS. A base governista removeu o termo, causando forte alvoroço entre partidários do PT e PSOL.
Em tempo: as escolas públicas, na sua maioria, não sabem ensinar matemática, português, ciências e disciplinas básicas; que dirá educação de gênero!? Depois de ler isso, alguns “amigxs” irão me excluir do facebook.
* A cereja do bolo da semana não podia vir de ninguém mais, ninguém menos, que ela: Dilma.
Durante a cerimônia de abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, a presidente Rousseff enalteceu a mandioca e, num rompante de antropologia, arqueologia e evolucionismo, ao mostrar uma bola que lhe foi presenteada, criou uma nova espécie para a raça humana: “Aqui tem uma bola que eu passei o tempo inteiro testando. É uma bola que é uma bola que o Terena me presenteou e que eu vou levar - e ela vai durar o tempo que for necessário (...)é uma bola que eu acho que é um exemplo, ela é extremamente leve. Eu já testei e ela quica. Eu testei, eu fiz assim uma embaixadinha, minto, uma meia embaixadinha (...) para mim essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em Homo sapiens ou ‘mulheres sapiens’.” ROUSSEFF, Dilma.
* Após o discurso o mundo se curvou ao Brasil; pois por sermos inclusivos, somos o único país a ter uma portadora de necessidades especiais como presidente da república. #DilmaDaDislexia

QUARTA-FEIRA:
* Num dos dias mais trágicos dos últimos anos, pela quantidade de fatos no mesmo dia, o cantor Cristiano Araújo, de 29 anos, morreu em acidente de carro em Goiás; em Uruguaiana faleceu Sérgio Gomes “O Xucro”, aos 66 anos; no final do dia Nico Fagundes, grande tradicionalista, faleceu aos 80 anos.
Proliferaram-se nas redes sociais postagens em homenagem a “dupla Cristiano & Araújo”, “Cristiano Ronaldo” e até “Araújo Lanches”.
* Num dia triste para a música, mórbido e curiosamente, há 80 anos, num mesmo 24/06 falecia Carlos Gardel em um acidente aéreo na Colômbia.
* Devido às fatalidades, pouca gente lembrou que na data que se passou Lionel Messi comemorou 28 anos; enquanto no mesmo dia Cavani, centroavante da seleção uruguaia, realizou o primeiro exame de próstata em pleno campo de futebol durante a partida entre Chile e Uruguai válida pela Copa América.

QUINTA-FEIRA:
* Seguindo a máxima que “notícia boa é notícia ruim”, os assuntos do dia continuaram sendo as mortes. Homenagens a Nico Fagundes e o vazamento de fotos e vídeos do acidente e da autópsia de Cristiano Araújo. Pelas redes sociais, enquanto uns non sense compartilhavam imagens e vídeos, outros – pseudo-eruditos – publicavam: “será que só eu nunca ouvi falar de Cristiano Araújo?”

SEXTA-FEIRA:
* Terrorismo volta a ser notícia no mundo, com atentados em três continentes distintos. Europa (França), Ásia (Kuwait) e África (Tunísia) foram sacudidos por atentados terroristas que já deixaram, ao todo, mais de 50 mortos.
* Uruguaiana, sempre largando na frente e pioneira em tudo, teve um atentado dias antes (no fatídico 24/06), quando o carro de um empresário local foi atacado com um coquetel molotov, em plena luz do dia. O empresário passa bem; o carro não.
* Por falta de mais notícias, comunico que esta semana o Parque de Diversões vai embora de Uruguaiana. Portanto encerro esta primeira publicação aqui pois vou ao Parque com meu filho aproveitar os últimos dias em que os ingressos estão mais baratos. Meu filho já havia me pedido para ir há dias, só não fomos antes porque a Dilmãe anda castigando meu bolso.



A PROPÓSITO: dados divulgados essa semana destacam que o Brasil terá a maior inflação e o maior encolhimento do PIB dos últimos 25 anos. 

terça-feira, 9 de junho de 2015

O PERCURSO DAS LEMBRANÇAS

Hoje, depois de sair do trabalho, fui buscar meu filho da casa de uns parentes e no caminho de volta, ao parar numa esquina, relembrei que ali, há muito tempo atrás eu havia conhecido uma pessoa que marcou a minha adolescência. Quantas centenas de vezes eu já havia cruzado por ali e estranhamente só agora recordara? É que lembranças não vão embora; permanecem muitas vezes em silêncio, no passado, para não nos importar no presente.
Na ironia do trajeto, novamente me deparei com recordações, ao passar por aquela praça pouco frequentada, mas que um dia foi meu local de encontro com alguém que sempre me esperava lendo um livro aguardando para tomar mate comigo.
Dali então resolvi refazer o percurso de algumas lembranças:
Recordei, ao passar, daquela árvore de copa baixa onde beijei alguém pela primeira vez.
Percorri pela quadra daquela casa (que por sinal, nem existe mais) onde pela primeira vez enfrentei a missão de conhecer os pais de uma namorada.
Vi a vitrine da loja onde um dia combinei – mesmo que contrariado – com uma pessoa que não compraríamos nada ali. Afinal, quem é que entende manias de mulher?
Encontrei o banco do parque onde pela primeira vez pedi perdão por um erro que cometi.
Cruzei pelo senhor que até hoje vende pipoca e relembrei daquela pessoa que gostava tanto de cinema quanto eu e discutia comigo na frente do cinema sobre pipoca e filme. Ela gostava de pipoca doce, eu de salgada. Ela preferia dramas, eu aventuras.
Me impressionei ao ver que ainda existe aquele jardim bem cuidado onde eu sempre roubava uma flor pra levar pra filha do próprio dono do jardim.
Ri sozinho ao passar pela escola onde uma vez me pediram: “- Fica comigo pra sempre?” E eu respondi: “- Pra sempre não, mas por uns 70 anos, sim!”


Senti que já havia escordado demais para uma noite só esta coleção de memórias.
Estava na hora de voltar para casa.


Alheio a tudo, meu filho, que havia me acompanhado o tempo todo em silêncio, de repente me pediu:
“- Pai, o senhor pode passar na casa daquela minha ex-colega só pra eu ver?”
“- Por que, meu filho?” Perguntei.
“- É que já faz uns dois anos que não vejo ela.”



Neste momento percebi que alguém também começou a criar o percurso de suas próprias lembranças.
-

segunda-feira, 1 de junho de 2015

CADA CABELO BRANCO

Cada cabelo branco tem na sua raiz a memória de um passado.
Cada cabelo branco acinzenta, sem apagar, momentos.
Cada cabelo branco nasce por uma gargalhada inesquecível ou uma lágrima teimosa.
Cada cabelo branco guarda saudades.
Cada cabelo branco é um erro.
Cada cabelo branco é uma conquista.
Cada cabelo branco é um amor.
Cada cabelo branco é um pedaço de vida, que a vida registra em nós.

terça-feira, 12 de maio de 2015

AS BORBOLETAS E O AMOR

Tenho a impressão que o amor, pelo menos pra mim, sempre foi como as borboletas nas diferentes estações do ano.

Distraído e desinteressado, quase nunca prestei atenção nelas, não cultivei flores para atraí-las e, confesso, até fugi destas borboletas em alguns verões.

Nos outonos senti as suas ausências.
Em invernos, arrependido, procurei-as sem encontrá-las.
Hoje, ainda na primavera da vida, deixo que o acaso dos ventos as tragam ao meu encontro.

terça-feira, 21 de abril de 2015

O COMPASSO DOS NOSSOS RELÓGIOS

Não são os fusos horários distintos que podem causar o fim de uma relação, são os milésimos de segundo de descompasso entre dois relógios que acabam por afastar uma pessoa da outra. Pois muitas vezes o relógio de pulso e o de parede não tique-tacam na mesma prossecução.

O amor é como um relógio de pulso belíssimo que vemos na vitrine de uma joalheria.
Entre tantos outros relógios a escolher no mostruário, o amor é aquele pelo qual nos desperta a atenção, nos fascina como joia rara e, encantados, o adquirimos para, inevitavelmente, entrar em nossa vida. Colado à pele, controlando e administrando nossa rotina, seduzindo-nos a cada segundo, os ponteiros desse relógio batem ditando um ritmo.

A vida, entretanto, é como aquele nosso velho relógio de parede, no corredor de casa.
Não recordamos desde quando ele está ali; até porque não o compramos; ele já estava ali quando chegamos. Poucas vezes fixamos o olhar em seu compasso das horas. Simples, sereno e despretensioso, suas batidas repousam ritmo no dia-a-dia.

Porém, nosso relógio de pulso e o relógio de parede as vezes desalinham segundos entre um e outro. Não percebemos que cada um tem um mecanismo diferente. E acabamos não sabendo mais que horas são.

O relógio de pulso é movido à pilha.
O relógio da parede é movido à corda.
O amor bate de um jeito
A vida tique taca de outro.

Essa semana meu relógio de pulso parou. Preciso trocar a pilha e tentar regula-lo novamente ao velho relógio de parede que também precisa de corda, na esperança que possam, quem sabe, bater na mesma cadência.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

DIÁRIO DE UM PROVINCIANO QUE NÃO FOI PRA PRAIA COM A FAMÍLIA E DECIDIU FICAR SOZINHO EM CASA

Esta mania de gostar tanto de Uruguaiana a ponto de raramente querer sair da cidade (entendam que férias, pra mim, o mais longe que vou é até às Termas) sempre causou críticas e problemas familiares. Lembro da última vez em que toda família combinou de passar uma temporada na praia e eu fiz todos voltarem após dois dias de viagem alegando “saudade da terrinha”; depois disso nunca mais fui convidado para grandes viagens e eventos distantes da província. Porém, recentemente, minha família decidiu comprar um pacote de viagem para algum balneário daqui do Rio Grande e me convidaram para acompanha-los. Minha resposta não podia ser diferente: “Não, obrigado; vão vocês que eu ficarei cuidando a casa!”
Estava selado, ali, o meu destino. Todos eles foram viajar e eu fiquei para “cuidar da casa”.


DIA 01:
Dada a despreocupação por estar completamente sozinho em casa, levantei depois do meio-dia.
Como não achei comida pronta na geladeira, preparei um prato requintado que há muito tempo não cozinhava.
Aproveitei toda a tarde para jogar videogame e ler um livro.
Pela noite, convidei vários amigos para fazer um churrasco, tomar cerveja e jogar carta até altas da madrugada.
Meu primeiro dia sozinho foi ótimo!


DIA 02:
Acordei mais cedo do que eu esperava porque ouvi alguns latidos estranhos; lembrei que são meus cachorros lá no pátio. Acho que eles estão com fome; dei toda comida que sobrou de ontem com um pouco de ração, mas a menorzinha parece não ter gostado da comida. 
Depois do churrasco de ontem a casa parece estar meio desorganizada; pratos por todo lado, copos e latas de cerveja espalhados até no banheiro, manchas de gordura e restos de carne na estante da TV. Vou ligar para alguns amigos virem ajudar com a limpeza.
Ninguém pôde vir.
Acho que não terei tempo pra jogar videogame hoje.
Preciso limpar a casa mas não sei por onde começar.
Procurei na despensa produtos de limpeza, mas não sei pra que serve o tal de alvejante nem o que significa água sanitária.
Tentei tirar a gordura dos pratos com sabonete, mas só o que consegui fazer foi espuma.
Liguei para a nossa diarista vir limpar a casa, mas por ironia ela também está na praia.
Depois de três horas assistindo vídeos no youtube de “como limpar a casa”, passei outras cinco horas colocando em prática tudo o que acredito não ter aprendido direito.
Não tive tempo de cozinhar, pedi uma pizza. A cadelinha menorzinha que não havia gostado da comida para os cães, parece ter se agradado de pizza.
Meu segundo dia sozinho foi cansativo.


DIA 03:
Parece que entrei numa eterna rotina de: dar comida aos animais, cozinhar, lavar pratos, limpar a casa e arrumar o quarto. Até que fiz tudo isso rapidamente, em apenas quatro horas. Queria ver se me sobra tempo de passar de fase no jogo do videogame ou assistir um filme, mas o cesto de roupa suja está cheio e preciso lavá-las. 
Achei estranho que algumas roupas perdem a cor quando a gente coloca Ki-Boa na máquina de lavar. Onde será que se compra o produto pra devolver a cor das roupas?
Coloquei as roupas no varal e fiz um churrasco enquanto as peças secavam. A fumaça da churrasqueira perfumou as roupas.
Pela noite fui buscar minha namorada do curso e ela disse que eu e minhas roupas estávamos cheirando a bacon.
Ao chegar em casa percebi que os móveis estavam acumulando muito pó e tive que fazer uma nova faxina, agora com espanador e vassoura.
Estou com as costas doloridas de tanto varrer, cansado, com sono, fome e cheirando a bacon.
Neste terceiro dia sozinho estou me sentindo a Escrava Isaura depois de um dia de trabalhos forçados na Casa Grande. Vou dormir no meu quarto, que esqueci de limpar, e parece uma senzala.


DIA 04:
Estou me sentindo numa realidade paralela onde todos os dias são iguais: cozinhar, dar comida aos animais, lavar pratos, limpar a casa e tirar o pó dos móveis, sendo que ontem eu havia tirado.
Meus amigos me convidaram para jogar futebol logo a noite, mas não poderei ir porque preciso comprar mantimentos no supermercado, mas não sei o que comprar.
Vou ligar para minha tia, talvez ela saiba me orientar.
Minha prima disse que ela também foi pra praia.
Percebo que estou ficando afetado, depois que passei a maior parte do tempo no supermercado no setor de limpeza e ainda ajudei uma senhora que estava em dúvida sobre qual marca de desengordurante comprar.
Meu jantar foi apenas um miojo para não ter que limpar muita louça amanhã.
Antes de dormir recebi uma mensagem de meus parentes, perguntando se estava tudo bem e como eu estou.
Quatro dias que parecem quatro meses; e eu não estou bem.


DIA 05:
Não lembro mais há quantos dias estou sozinho.
Meus amigos ligaram perguntando se dava pra fazer um churrasco e tomar cerveja, assistindo o jogo de futebol na TV e mandei eles à m...
Não acesso facebook, twitter e e-mail há dias. Minhas novas redes sociais se restringiram a conversar com os cachorros e discutir preço de produto no mercado com as velhinhas donas-de-casa.
Cozinhar todos os dias se tornou uma tortura.
Recebi uma mensagem com foto, via celular, com toda minha família almoçando frutos do mar num restaurante de frente pro mar.
Joguei meu celular contra a parede de tanta alegria!


DIA 06:
Desisti de lutar contra a sujeira da casa.
Liguei a TV para saber o que está acontecendo no mundo lá fora e a repórter dizia: “Dia de muito sol e calor e as pessoas se divertindo na praia!”
Dei uma voadora na televisão.
Acabou a comida dos cachorros. Pedi uma pizza tamanho família e comi junto com eles, acho até que convidei minha cadela boxer pra jogar videogame comigo.
Pela noite, todos nós uivávamos. E eu comecei a achar tudo isso engraçado.


DIA 07:
Logo pela manhã minha família chegou da praia, felizes, contando todas as suas aventuras.
Perguntaram como foram os dias que fiquei sozinho cuidando da casa.
Apenas dei dois latidos e saí sem dizer onde estou indo.


O Provinciano, enfim, agora resolveu sair de férias!