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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ENTRE CARMINHA E RITA EXISTE OUTRA PERSONAGEM


Parece que o alienado sou eu!
Até hoje eu achava ser a única pessoa no Brasil que não está acompanhando a novela das oito, que passa as nove.
Minha mãe e meu filho chegam contar os minutos pra novela começar. Quando chego em casa, estão os dois sentados na sala e o jantar esfriando na mesa. Recentemente reativamos a confraria de amigos e durante a novela não consegui conversar com nenhum deles porque todos se prostraram frente à TV e deles  não consegui ter atenção. No facebook toda hora postam imagens dos personagens, falas que não entendo e comentários sobre o capitulo anterior; mas na hora da novela até as redes sociais parecem ficar desertas.

Não sei o nome desta novela; não sei quem é o diretor, não sei qual o enredo, nem quem são os atores. Apenas fiquei sabendo que retrata a classe média emergente brasileira, que se baseia num desejo de ódio e vingança e que é balizada por duas vilãs: Carminha e Rita. Tive que pesquisar este assunto pra não parecer um E.T. nas conversas informais destas últimas semanas.
A novela faz o Brasil parar.
Porém, outros personagens ocultos, conseguem com isso permanecerem mais ocultos ainda, e longe do centro das atenções. E o Brasil padece em vários outros setores, na vida real.
Caminhoneiros, pararam, trancaram rodovias, queimam pneus e protestam contra o governo. Manifestações desse setor prejudicam a economia nacional e podem levar o problema até mesmo à mesa do consumidor, que desvairado, deixa seu jantar esfriar pra assistir novela.
As universidades federais também pararam (e a culpa não é da Rita!). Em greve desde maio, professores e funcionários querem reajustes dignos e condições de trabalho da qual são merecedores. Alunos perdem o semestre, dinheiro, meses de estudo e de vida. Sem solução aparente – e iminente – faculdades ameaçam não prestar vestibular, fazendo o sonho de muitos se esvair, como nas “cenas dos próximos capítulos”. Num ato de protesto agendado aqui em Uruguaiana, centenas aderiram no facebook, mas pouco mais de vinte pessoas compareceram. E o assunto para se discutir devido à ausência de manifestantes no evento? É... a Carminha!
Na semana onde haverá o Julgamento do Século (curiosamente e misteriosamente marcado em data esportiva: as Olimpíadas), Delúbio Soares, José Genoíno, Marcos Valério, José Dirceu e demais componentes do maior escândalo de corrupção da história do Brasil vão à júri, sete anos depois da chamada Crise do Mensalão (2005), que abalou o governo Lula. Mais estranho ainda é perceber que o romance televisivo das 21 horas teve picos de audiência - jamais alcançados antes  -na semana que antecede o processo. Se naquela época as CPIs e os julgamentos terminavam em pizza, hoje elas são ritmadas ao som de:   oi oi oi   .

Mas o Brasil quer mesmo é saber de trama de novela; quer se emocionar com arroubos vingativos e chorar com dramas familiares; o brasileiro quer se identificar com os personagens, por isso uma novela que retrata a classe emergente chama tanto à atenção do público alienadamente passivo.
“- Não importa o que está acontecendo lá fora!” Diz a velha senhora aposentada, sentada na poltrona assistindo o fim jornal, que ela nem prestou atenção, ansiosa para o início de sua novela, sem se dar conta que o “lá fora” foi ela mesma que elegeu.
“- Preciso postar no face que hoje a Carminha descobre quem realmente é a Rita.” Pensa aquela moça que, em greve, não tem nada mais pra fazer senão assistir a dramaturgia das nove.
“- Não me prejudicando é conta. Deixa que se matem lá em Brasília.” Fala o senhor trabalhador; que depois de um dia de serviço, exausto, só pensa em sentar e assistir a novelinha e depois ir dormir. Sem saber que de seu suor saiu o dinheiro para o pagamento de impostos e desvios de dinheiro público.
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Enquanto isso, entre a Carminha e a Rita, existe uma outra personagem que permanece sutilmente oculta a toda trama, tramando contra todos nós. A grande vilã da novela...
Ela desfila na “Avenida Brasília”
Dilma!