Recentemente fui a Bella Unión comprar um ar-condicionado.
Logo na chegada, nos postes de luz da cidade uruguaia, vi sinalizações verdes, de três pontas, ao que eu pensei ser algum novo tipo de seta indicativa de trânsito indicando uma saída de três vias. Só depois percebi que se tratava de pichações com desenhos de folhas de Cannabis Sativa.
No Free-Shop fui recepcionado por um atendente de dreadlocks com nome de "Juan Rayo de Sol" escrito em seu crachá, que saudou-me fazendo o sinal "paz e amor" com os dedos.
Percebi que o, outrora sempre cheio, setor de perfumaria agora cedeu espaço para uma pequena, e disputada, prateleira onde vende-se narguilés de todas as marcas e modelos.
Whisky, vodka e outras bebidas já não "fazem mais a cabeça" (literalmente) dos clientes que buscam ficar "alegres". Novidade no shop, saquinhos estranhos, próximo ao caixa, são o frisson da loja, anunciados por um comunicador que falava palavras de forma muito lenta e arrastada, ao som de Bob Marley ao fundo.
Em meio a tudo aquilo, escolhi quase sem olhar o ar-condicionado que buscava e fui direto ao caixa. A atendente de caixa me pediu a identidade e ainda disse: "- só aceitamos dólares VEEEEEEEERDES nesta loja."
Eu mal via a hora de voltar para meu país. Minha odisseia pela "Nova Jamaica" parecia cena de filme de Cheech e Chong.
Ao chegar de volta ao Brasil, o instalador do ar-condicionado já me aguardava aqui em casa. Quando tiramos da caixa o produto, para nossa surpresa vimos que a marca do ar é: JAH!
Depois de instalado, percebemos que o novo ar-condicionado uruguaio, além de gelar, também larga uma "fumacinha".
O instalador e eu começamos e rir e sentimos uma "larica" forte.
Entenda, meu amigo, que existem dois tipos de vida:
Aquela vida confortável: como sentar numa poltrona cômoda e assistir televisão, vendo o mundo passar diante dos seus olhos. Sem sabor, sensação, sem emoção alguma.
aquela vida prazerosa: como sentar com os amigos numa mesa bar, num final de tarde, após o cansativo dia de trabalho, vendo o mundo passar e fazendo parte deste mundo. Com sabores, sinergia e emoções.
O conforto desta sua vida talvez não seja a vida que você quer. Não foi a poltrona que se moldou à tua forma de sentar; foi teu corpo que se ajustou à comodidade que esta vida lhe ofereceu. Mesmo assim você, com medo de mudar, inerte à situação, aceitou.
Eu prefiro a cadeira da mesa de bar com os amigos; nunca fui dado a conformismo; não tenho medo de mudar. Mesmo mal acomodado, sem saber se amanhã estarei aqui sentado outra vez com os mesmos amigos. Prefiro arriscar; e ter a liberdade de viver como eu prefiro.
Fui ao restaurante jantar e pedi ao Cheff o “Prato do Dia”.
Ele me respondeu dizendo não servem mais, pois a especiaria
para realizar tal prato se tornou artigo raro hoje em dia.
“Que especiaria é essa?” Perguntei.
Ele me respondeu: “Amor!”
Como procurar amor num período onde prevalecem emoções
instantâneas e requentadas de microondas a um sentimento saboroso, servido a
luz de velas e com acompanhamentos?
O amor, este prato principal de nossas vidas, hoje não passa
de um fast-food mal servido, pedido na tele-entrega, pois não temos tempo nem
de sair para jantar fora.
Fecharam-se as cozinhas dos corações; demitiram-se os
cupidos garçons; não há mais flerte, paquera, conquista, tampouco romance no
Menu Principal. No Buffet servem apenas desapegos e trocas rápidas de carinho
sem intimidade, onde você se serve sozinho.
Esta comida, assim como o sabor que ela proporciona, é insossa.
Onde foi parar o amor? Em que alfândega da insensibilidade
terá sido confiscada? Que hoje não chega até nós. Ou será que nem mesmo os produtores
não cultivam mais? Será que ainda existe, pelo menos, uma última semente?
Não jantei naquela noite, no restaurante. Voltei para casa
recordando de forma gustativa os amores do passado, enquanto via em outdoors os
“novos lanches da vida”, sendo expostos de forma apelativa. Senti sabores
esquecidos de um beijo num fim de tarde de chuva, um entrelaçar de dedos
durante um filme, uma lágrima que cai ao final de um pedido de perdão.
Cheguei em casa, abri a geladeira semi-vazia, e decidi
cozinhar. Mesmo tarde da noite fiz um refeição especial com o pouco que tinha.
E mesmo sabendo que o amor está em falta nos dias de hoje, temperei com
bastante esperança.
Sem ter absolutamente nada de valor para criar, ultimamente
os políticos estão se esforçando demais na arte de criar leis incrivelmente
banais e/ou absurdas, testando assim a paciência do povo e provando o quanto
são indignos de exercer o cargo que representam.
Assim, o deputado Daniel Almeida, do PCDdoB propõe a
instituição do “Dia Nacional do Trabalho Decente”, 07 de Outubro (PLC 5192/2013);
dessa forma “trabalhos indecentes” seriam terminantemente proibidos neste dia
solene.
Walter Feldman, do PSDB, e sua PLC 5363/2013, quer
institucionalizar um tempo mínimo de 15 minutos de sol, três vezes por semana, para
cada cidadão brasileiro, facilitando assim a absorção de Vitamina D. Me
pergunto se durante toda semana chover, como teremos nosso direito de sol
ressarcido?
Não obstante querem desarmonizar os três poderes, submetendo
ao Congresso Nacional as decisões do Supremo Tribunal Federal. O Deputado
Nazareno Fonteles, do PT (e que outro partido poderia ser?) certamente não frequentou
aulas de Teorias do Direito. Montesquieu certamente está dando voltas no túmulo,
de tanta raiva.
Nessa onda alucinante (e alucinógena) de leis mirabolantes
uns tentaram instituir a “Cartilha e o Kit Gay”, outros quiseram a “Cura Gay”.
E a farra não termina.
Em abril deste ano, em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad
sancionou uma lei que permite a troca de nomes de ruas que homenageiam
autoridades do período do Regime Militar. Logradouros com nomes como: Rua Doutor
Sergio Fleury, Via Costa e Silva, Avenida Presidente Castelo Branco e Rua João
Batista Figueiredo deverão mudar de nome.
Recentemente, em Porto Alegre, um grupo está “rebatizando”
algumas ruas, colando adesivos com nomes de personalidades como Carlos
Mariguella (líder comunista e guerrilheiro), Vladmir Herzog (jornalista
austríaco, torturado e morto), entre outros, que na época do regime militar se
opuseram aos governos. Se
a mania pegar, daqui pra frente teremos ruas com nomes como: Rua Del Che,
Alameda Mao Tse Tung, Via Lenin, Avenida Stalin e Bairro Gulag.
.
Porém, se é para trocar alguns nomes de ruas, deveríamos
trocar o nome de outros tantos logradouros, que como tal, ou denigrem a imagem
do Brasil ou causaram grandes problemas de ordem econômica e social ao país.
Vejamos algumas sugestões de mudança de nomes - criadas por mim e por alunos, em sala de aula - para as ruas
de Uruguaiana:
- RUA DA DÍVIDA EXTERNA (Antiga 7 de Setembro): Afinal,
bastou D. Pedro bradar a independência que adquirimos esta centenária dívida
que até hoje nos custa consideráveis valores dos cofres públicos brasileiros.
- RUA DAS COTAS (Antiga 13 de Maio):pois
Isabel apenas assinou a libertação dos pouco mais de 700 mil negros que ainda
trabalhavam de forma compulsória no Brasil - após mais de 350 anos de
exploração de mão-de-obra escrava - mas nada fez por eles depois. Hoje,
passados mais de cem anos da abolição, o negro – que foi relegado à
marginalização da sociedade –, ainda não foi efetivamente integrado na
sociedade que ele ajudou a construir.
- RUA DO NUNCA ESTIVE AQUI (Antiga Domingos de Almeida):
mineiro, fazendeiro e comerciante de charque em Pelotas, durante a Revolução
farroupilha ajudou a projetar a cidade de Uruguaiana, mas nunca esteve no
município.
- RUA DO DAQUI NÃO SAIO (Antiga Borges de Medeiros):
ex-governador do Rio Grande do Sul, que governou por 25 anos o estado,
mantendo-se no poder por meio de fraudes eleitorais e coronelismo.
- AVENIDA POPULISMO (Antiga Presidente Vargas): Considerado
o maior presidente brasileiro de todos os tempos, Getúlio deu vida à este tipo
de política demagógica que fundamenta-se ideologicamente na defesa dos
interesses e reivindicações das camadas populares, visando o voto do eleitor
enganado com este tipo de assistencialismo. Depois de Vargas, quase que a
totalidade dos governantes brasileiros fez do populismo a sua arma para se
perpetrar no poder. Em Brasília, Lula e Dilma deram “bolsas”; em Uruguaiana,
Felice deu "asfalto casquinha".
EM TEMPO: E se caso algum dia em Uruguaiana
implantarem uma nova rua, margeando o rio Uruguai, quem sabe devêssemos homenagear
nosso mais proeminente ex-presidente, batizando-a de MARGINAL LUIZ INÁCIO LULA
DA SILVA.
Num mundo onde a velocidade faz parte de nossas vidas, corremos a todo instante para cumprir as tarefas do dia-a-dia; aceleramos o ritmo da jornada de trabalho para concluir atividades; em disparate – assoberbados de compromissos – passamos pelo dia, sem que ele tenha passado por nós.
Realizamos as refeições rápido demais. Não relaxamos nos intervalos. Mesmo não sendo horário de pique, caminhamos com urgência. A agenda de compromissos nos exige cada vez mais; por isso, açodados, nos tornamos cada vez mais mecânicos e menos humanos.
Nossa vida está presa ao objeto que carregamos no pulso. Não vivemos mais; apenas sobrevivemos apressadamente.
Quando bate 18 horas de um dia normal de semana é possível perceber o quanto esta vida moderna nos comprime de forma funcional e menos sentimental.
Não damos “até amanhã!” para o colega. Não cumprimentamos o conhecido que passou por nós na esquina. Não retornamos a ligação que o amigo nos fez durante o horário de trabalho. Não respondemos a mensagem de celular que a namorada(o) nos mandou, dizendo “tenha um bom dia!”.
O dia passou, caminhou pelas suas horas, normalmente. E nós corremos, todos os minutos, loucamente.
Mas foi justamente na “Hora do Rush”, depois que um motorista cortou a frente do meu carro em alta velocidade – para quase bater de frente noutro motorista que cortava a preferencial, apressado –, enquanto um motociclista ziguezagueava por entre os automóveis, batendo no retrovisor do carro que trafegava a minha esquerda – e ainda acenando de forma obscena para ele – que o semáforo de uma das ruas mais movimentadas da cidade acendeu a luz vermelha e, pelo menos naquele instante, todos tivemos que parar.
Esbravejava o motorista do farol quebrado. Mal-encarado, olhava fixo para todos o motociclista. Acelerava o motor aquele senhor suado, com a gravata afrouxada. Com olhares cansados, os passageiros no ônibus se acotovelavam voltando para casa (ou indo para outra tarefa). Batia os dedos no volante – nitidamente nervoso – o motorista do coletivo, olhando atentamente para o semáforo.
Em completo contraste com o cenário, sorria aquele homem com roupas esfarrapadas, rosto pintado, nariz de palhaço e com malabares em chamas, fazendo arte numa esquina, em troca de esmola.
Ninguém olhava para ele; muitos fingiam não vê-lo, para não ter que dar uma moeda ao final de sua apresentação. Ainda assim o palhaço de dreadlocks seguia sorrindo, mesmo após ter derrubado uma das hastes que ele girava.
Quando o sinal abriu, todos partiram em disparada. A vida segue, mesmo depois dos 40 segundos em sinal vermelho.
Para sorte dele, no bolso da minha camisa tinha dois reais que lhe dei ao abrir o vidro do carro.
Enquanto eu já arrancava, devido as buzinas que recebia dos motoristas que estavam atrás de mim, ao receber ele me disse, com sotaque meio espanhol:
“- Que passe bién e que tenga um ótimo fim de semana!”
.
Quem me deu esmola, naquele fim de tarde, foi ele.
.
Numa época onde a lavoura
dos sentimentos anda seca, e o solo das emoções tornou-se infértil em
decorrência da escassez de chuva que assola os campos da compaixão, senti que
preciso cultivar em mim sementes de uma vida nova.
Com as mãos ainda
calejadas de agricultor que lavra sozinho a própria fazenda, busquei no galpão
das lembranças enxadas, pá e arado para lavrar esta terra preta que por anos
gerou quase nada.
Exterminei saudades
daninhas; podei, das grandes árvores do passado, as sombras de lembranças
nocivas, para permitir que o sol do destino possa aquecer este novo terreno que
agora estou fertilizando.
Antes eu plantava mágoas,
rancores e desgostos. Como resultado, colhia apenas os frutos amargos do
dissabor.
Agora, eu cultivarei
nesta terra apenas felicidade e alegria.
Estou semeando a
esperança; plantei cada uma destas sementes com as próprias mãos, depositando
sonhos neste torrão. Desta gleba quero colher realizações.
Vou irrigar esta nova
lavoura da minha vida com fé. A água que uso vem dos campos do Vizinho; e sei
que Ele, por também ser lavoureiro de sonhos e esperanças (igual a mim), não negará ajuda a este vizinho lindeiro.
Pouco me importa se estou
plantando fora de época; neste inverno da sociedade pós-moderna. O vento gelado
deste novo mundo frio de sentimentos já não me assusta mais.
Plantei um pouco de mim
em cada sulco que abri nesta terra.
Neste curto espaço de tempo que temos aqui na terra, em
muitas fases da vida somos postos à prova. São etapas que precisamos vencer
para progredir humanamente.
A primeira fala.
O primeiro passo.
O primeiro dia na escola; a primeira apresentação em público
para pais, professores e colegas; a primeira prova; a primeira nota vermelha no boletim e o
medo de mostrar para os pais.
O primeiro amor (seja ele correspondido ou não).
A formatura no ensino médio.
A primeira habilitação de motorista.
O vestibular; a faculdade; novamente o primeiro dia em aula;
a apresentação do trabalho de conclusão; a formatura, agora na Universidade.
O primeiro emprego.
O sim em frente ao altar.
O nascimento de um filho.
E todo este ciclo anterior - onde você foi o ator principal - que a partir agora vai se repetir; só
que desta vez tendo-o como coadjuvante e as vezes mero espectador.
.
Hoje, fui coadjuvante e espectador de mais um capítulo
importante na maturação pessoal do meu filho.
Como há alguns anos atrás - quando bebê - soltei sua mão
para que ele desse seus primeiros passos sozinho, hoje ao ensiná-lo a andar de
bicicleta senti que fui coadjuvante ao vê-lo se equilibrar sozinho e pedalar
sorrindo mais uma de suas conquistas.
Naquele momento parei – agora como espectador – para assisti-lo
vencer o medo (que muitas vezes a vida tenta nos impor) e conquistar o equilíbrio
(que todos nós buscamos nesta breve passada aqui na Terra).
Meu filho Dartagnan e eu temos vários hábitos. Jogamos videogame
juntos; assistimos filmes infantis, de ação, aventura e até dramas e gostamos
de prever as cenas; brincamos usando uma linguagem só nossa; mesmo com sua
tenra idade, discutimos sobre culinária e cozinhamos; ele me questiona sobre
assuntos complicados e eu tento lhe responder com exemplos simples; pescamos
lambaris fins de tarde no Rio Uruguai; e sempre aos domingos e feriados saímos
de carro a percorrer a cidade, tomando mate.
Na tarde de hoje, domingo de Páscoa, enquanto rodávamos a
cidade, passamos por uma casa e percebi que ele fixou seu olhar nas pessoas que
estavam sentadas na frente. Não lhe perguntei nada, apenas segui dirigindo.
Dartagnan então me pediu para dar a volta e passar de novo ali. Perguntei qual
o motivo ele me respondeu: “- Ali mora a minha colega (nome). E eu gosto dela.”
Quando chegamos em casa Dartagnan me perguntou se poderíamos
levar algum presente de Páscoa para sua colega. Respondi que não haveria como,
pois é domingo e não teríamos onde comprar chocolate. Ele então disse que daria
um dos vários ovos de páscoa que ganhou. Novamente tentei dissuadi-lo de fazer
o que queria, dizendo que deixaríamos para levar amanhã ou outro dia.
Determinado, ele me pediu que levássemos ainda naquela noite, enquanto ainda
era dia de páscoa.
Comovido pela sua insistência preparamos o presente e fomos
levar à sua coleguinha.
Durante o percurso até a casa da coleguinha de aula de
Dartagnan voltei à minha infância; aqueles meus tempos de escola; retornei à
tardes hoje já acinzentadas e quase esquecidas na memória. Professoras, amigos
de sala de aula e meninas coleguinhas por quem eu cultivava amores platônicos
que nunca foram correspondidos. Lembrei daquela menina que sentava ao meu lado
na quarta-série, mas que hoje não lembro mais seu nome. Quantas vezes fui pra
escola pensando se ela algum dia notaria em mim, me pediria a borracha
emprestada ou sentaria em dupla comigo para fazer algum trabalho. Perdi as
contas de quantas vezes me pegava imaginando o que conversar com ela. Por medo
nunca fiz nada. Terminamos a escola e nossos caminhos se desfizeram. Sofri com
sentimentos em silêncio, aprendendo logo na infância dores de adultos.
Vi naquele olhar luzente de meu filho o momento em que
despertamos para o amor. A noite caia calma com tons de púrpura como que
coroando o cenário de um filme infantil. Tudo estava belo, perfeito. Nascia
naquele momento um coração apaixonado.
Ele parecia calmo; olhava atentamente para o laço do
presente e certamente decorava mentalmente algumas falas. Quem estava nervoso
era eu.
Quando chegamos na casa da menina os pais dela estavam
sentados na frente. Senti junto com Darta o peso do mundo nas suas costas.
Sem me olhar, desceu do carro, deu boa noite e perguntou pela colega. Sua mãe
disse que ela estava na sala e que passasse. Mesmo distante, consegui escutar
sua única, curta e trêmula frase: “Oi, vim te trazer um presente. Feliz Páscoa!”.
Aqueles segundos que pra ele foram longas horas de ansiedade
e euforia, foram também como uma eternidade para mim. Pois enquanto aquele
menino partia rumo ao seu primeiro contato com a vida, eu como pai senti que
precisava ajuda-lo, protege-lo, guia-lo naquele momento. Quantas vezes eu sofri
por amor? Quantas vezes, enquanto jovem, chorei por alguém? Quantas dores senti
por um amor não correspondido? Agora chegava a vez de meu filho. Aquele
menininho, que havia descido do carro, estava naquele momento iniciando uma
longa e penosa caminhada em busca de seus sentimentos. Nada eu poderia fazer
para ampara-lo.
Nervoso, porém com um leve sorriso no canto da boca, ele se
despediu dos pais da coleguinha e entrou de volta no carro. Nada falamos. Ele
olhava longe pela janela do carona os outros carros e as pessoas naquela noite
de domingo. Tentei imaginar o que estava passando pela sua jovem cabeça naquele
momento. Não lhe perguntei nada; até porque quando se está assim não se pensa:
é apenas o coração que pulsa.
Quando chegamos em casa Dartagnan voltou ao seu mundinho de
criança: assistiu desenho, jogou videogame (mesmo estando de castigo, deixei),
comemos uma pizza e fizemos os deveres de casa. Não comentamos nada sobre o
assunto. Não foi preciso; nos conhecemos muito bem e nos entendemos apenas com
olhares.
. Porém percebi que naquela noite mais uma pessoa havia
despertado para o amor.
Depois da inesperada renúncia do Papa Bento XVI – algo raro
na história da Igreja Católica, pois apenas outros três pontífices (Gregório
XII, Celestino V e Ponciano) abdicaram ao cargo de Pedro – o último conclave
espantou o mundo ao eleger no prazo de pouco mais de dois dias, em apenas 5 escrutínios, um Papa vindo
da América do Sul.
Cardeal, da Ordem Jesuíta, Jorge Mario Bergoglio, argentino
nascido em Buenos Aires, tornou-se o primeiro Papa Latino-Americano, o primeiro
Papa Jesuíta e o primeiro a adotar o nome de um dos santos mais humildes da
história do Catolicismo: Francisco.
Enquanto brasileiros lamentavam com resignação a derrota de
seu candidato gaúcho, argentinos comemoravam o novo pontificado, rogando que
este lhes traga um pouco mais de alegria e bênçãos à este povo vizinho que há
muito sofre política e economicamente. Porém, aqui na região da fronteira, já correm especulações
sobre o quê pode mudar nas relações Brasil-Argentina tendo este último país,
agora, um Sumo Pontífice portenho. Por isso, com base em hipóteses fúteis, discussões de botequim e
teorias sem fundamento sócio-político-econômico (tampouco religioso), vejam a seguir o
que pode ser alterado na Argentina - e no mundo - agora que o Papa é Hermano:
- A Guarda Suíça do Vaticano será imediatamente substituída
por Gendarmes.
- Paso de Los Libres agora é considerada Terra Santa; a “Calle Colón”
será local de peregrinação e “O Buraco de Libres” uma filial do Vaticano.
- A Ponte Internacional Brasil-Argentina agora irá se chamar “Starway to
Heaven” quando estivermos indo pra Argentina e "Highway to Hell" quando estivermos voltando para o Brasil.
- As missas não terão mais as celebrações com hóstia. Agora
cada fiel vai comungar recebendo um alfajor (“Tatin” nas missas semanais e
“Grandote” nas missas dominicais).
- A música “Eu Sou Apenas Um Rapaz Latino-Americano” será
transformada em canto gregoriano e oração, em homenagem ao primeiro
Papanamericano da história.
- Novos Santos entrarão para o Hall dos Homens de Deus; são
eles: San Martin (leia-se “São Martin”), São Perón, Santa Evita de los
Descamisados e São Diego Maradona (que recebeu a graça de “La Mano de Diós”).
Em tempo: Lionel Messi, por ser considerado muito jovem ainda para ser
santificado, já está sendo retirado do Barcelona para ingressar como
seminarista.
- A Opus Dei perderá espaço para a Igreja Maradoniana
(apenas por questões óbvias).
- O Colégio Nossa Senhora do Horto deverá mudar de nome (só
os fortes entenderão).
- Aquela piada sobre "O Padre Brasileiro e os Argentinos" agora faz parte do INDEX LIBRORIUM PROHIBITORUM (os livros proibidos pelo Vaticano). [clique aqui para ouvir a piada proibida]
- Aquelas comprinhas não permitidas pela Polícia Federal
(carne e produtos de origem animal e vegetal) deixarão de ser proibidas. Agora
“O Chibo é de Deus”.
- Para ingressar em território argentino não será mais
aceita a “Carta Verde”. Agora todo o estrangeiro que quiser ingressar no país
precisa apresentar “Carta Santa” e certificado de Catequese e Crisma.
- As Malvinas não pertencem mais aos ingleses. Eles serão
expulsos das ilhas assim como Henrique VIII expulsou a Santa Igreja da Inglaterra no
século XVI.
Em tempo: O Vaticano esperou 500 anos pra se vingar de
Henrique VIII e dos ingleses.
.
Algumas dúvidas também começam a pairar agora que a
Argentina tem um Papa. Por exemplo:
- A demora de dois dias no conclave deveu-se a “catimba argentina”?
- “Quem tem Boca vai à Roma!” Mas e quem é do River Plate
vai pra onde?
- Quem apostar no Cassino de Libres pode considerar aquele
valor perdido nos caça-níqueis como “ofertório”?
- Todo aquele que for abastecer seu veículo num posto de
Libres estará enchendo o tanque com “gasolina batizada” ou “água benta”?
- Como faremos para pedir “batatas” em espanhol? - Sendo
assim, pedir “Papa frita” é uma heresia?
- Se Deus é brasileiro e o Papa é argentino, Jesus então é
Uruguaio?
.
Mesmo assim, brincadeiras à parte, desejo um longo e
bem-sucedido pontificado à Francisco I; e que o Papa traga novamente a paz e
leve acalanto e felicidade ao mundo com suas palavras, sendo ele (mesmo que
argentino) um enviado de Deus.
.
A PROPÓSITO: E Cristina Kirchner?
Infelizmente esta nem Papa Argentino e nem Deus salva.
Obrigado
brasileiros! Por nascermos submissos desde a origem e nunca termos questionado
ou imposto nossa vontade desde o nascimento do Brasil. Chegaram aqui os
portugueses e sem consultar decretaram que seriamos colônia de um povo
europeu e desconhecido; fomos índios, negros e colonos passivos a aceitar as imposições
metropolitanas; levaram quase toda nossa riqueza. Não nos questionou quando bradou solene D. Pedro, naquela
manhã ás margens do Ipiranga, e – sem perguntar à nós – decidiu fazer daqui um
país; inertes assistimos a alvorada de uma nação sem participarmos. Anos depois militares
republicanos sequer cogitaram a hipótese de indagar o povo quando derrubaram a
monarquia; surgia uma república, e nós, apáticos, apenas assistimos a mudança
da forma de governo. Mas de que adiantou mudar a forma de governo? Se nunca
nenhum deles governou pra nós?
Obrigado
brasileiros! Por termos criado o carnaval e fazermos dele o maior espetáculo da
terra. Por termos acolhido aqui aquele esporte inglês e nos tornarmos o país do
futebol. Assim deixamos de nos importar com política e com a própria sociedade.
O resultado disso é a decadência da saúde pública, a falta de empregos e de
oportunidades, a precariedade da educação, o sem-teto humilhando-se a esmolar
pela rua, a falta do que comer em casa. Mas faça chuva ou faça sol, fevereiro
tem carnaval e também queremos ver nosso time vencer algum campeonato. Vamos desfilar
e nossa escola de samba precisa sair campeã; felizes pois em 2014 a Copa do Mundo
será aqui e será nossa! Mas como farei para desfilar, se estou doente à espera de um leito
no hospital? Como assistirei meu time ganhar ou torcer pra seleção, se não tenho emprego e estou sem
dinheiro?
Obrigado
Brasileiros! Pois mesmo sendo uma nação jovem, podermos hoje viver no gozo da
democracia plena e termos Constituição e Justiça que nos ampare e protege. Por
escolhermos nossos governantes de forma direta e termos assegurados nossos direitos
na forma de leis que nos cobram e punem caso não as cumpramos. Por sermos
dominados, quando devíamos dominar; pois o poder emana de nós, e mesmo assim
não temos poder – nem sequer coragem – para tirarmos “do poder” aqueles
poderosos homens que criam as leis que nos castra. Por termos uma constituição
tão nossa que é chamada de “Cidadã”, mas como cidadão que não somos não a
usamos por descaso, e tampouco a justiça a aplica, por ser omissa e negligente;
por isso vemos o imperar entre nós o assassínio, a corrupção, o roubo e a
tragédia premeditada. Só depois dos fatos ocorridos, de sentirmos na pele, bradamos
aos governantes e recorremos à Justiça. Mas quem são nossos governantes, se amnésicos já nem lembramos em quem votamos na última vez? E à que Justiça poderemos
recorrer, se desmazela ela nunca se fez pesar?
Muito
obrigado Brasileiros! Que talvez nem tenham chegado ao final desta leitura, pois precisamos cuidar da vida do vizinho, postar alguma imagem no facebook, assistir a novela
ou saber quem foi o eliminado do Big Brother. Acomodados na poltrona, vemos o Brasil ruir na nossa volta enquanto tomamos uma cerveja e displicentes nada
fazemos, pois somos brasileiros e acreditamos que sempre é possível “dar um
jeitinho”. Só que este câncer do comodismo e da incúria, que temos impregnado em
nossa sociedade, não há remendo que cure.
Muitíssimo
obrigado brasileiros! Sequer senti vontade de terminar esta crônica; pois ao escrevê-la
senti por um momento vergonha de ser brasileiro, preguiçoso e inerte. Tentei fazer minha parte. Desiludido, percebo que não mudei nada. Porém acredito, mesmo que
carregado de incredulidade e ceticismo, que um dia verei o povo brasileiro se
levantar e agir, e assim poder dizer, com orgulho: “Obrigado por ser brasileiro!” -
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas
mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a
ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa)