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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

BREVE HISTÓRIA DA RECENTE COMPRA QUE FIZ NO URUGUAI

Recentemente fui a Bella Unión comprar um ar-condicionado.
Logo na chegada, nos postes de luz da cidade uruguaia, vi sinalizações verdes, de três pontas, ao que eu pensei ser algum novo tipo de seta indicativa de trânsito indicando uma saída de três vias. Só depois percebi que se tratava de pichações com desenhos de folhas de Cannabis Sativa. 
No Free-Shop fui recepcionado por um atendente de dreadlocks com nome de "Juan Rayo de Sol" escrito em seu crachá, que saudou-me fazendo o sinal "paz e amor" com os dedos.
Percebi que o, outrora sempre cheio, setor de perfumaria agora cedeu espaço para uma pequena, e disputada, prateleira onde vende-se narguilés de todas as marcas e modelos.
Whisky, vodka e outras bebidas já não "fazem mais a cabeça" (literalmente) dos clientes que buscam ficar "alegres". Novidade no shop, saquinhos estranhos, próximo ao caixa, são o frisson da loja, anunciados por um comunicador que falava palavras de forma muito lenta e arrastada, ao som de Bob Marley ao fundo.
Em meio a tudo aquilo, escolhi quase sem olhar o ar-condicionado que buscava e fui direto ao caixa. A atendente de caixa me pediu a identidade e ainda disse: "- só aceitamos dólares VEEEEEEEERDES nesta loja."
Eu mal via a hora de voltar para meu país. Minha odisseia pela "Nova Jamaica" parecia cena de filme de Cheech e Chong.
Ao chegar de volta ao Brasil, o instalador do ar-condicionado já me aguardava aqui em casa. Quando tiramos da caixa o produto, para nossa surpresa vimos que a marca do ar é: JAH!
Depois de instalado, percebemos que o novo ar-condicionado uruguaio, além de gelar, também larga uma "fumacinha".
O instalador e eu começamos e rir e sentimos uma "larica" forte.
Sóóóóóóó...

domingo, 27 de outubro de 2013

AOS AMIGOS QUE JÁ SENTARAM AO MEU LADO


Entenda, meu amigo, que existem dois tipos de vida:

Aquela vida confortável: como sentar numa poltrona cômoda e assistir televisão, vendo o mundo passar diante dos seus olhos. Sem sabor, sensação, sem emoção alguma.
aquela vida prazerosa: como sentar com os amigos numa mesa bar, num final de tarde, após o cansativo dia de trabalho, vendo o mundo passar e fazendo parte deste mundo. Com sabores, sinergia e emoções.
O conforto desta sua vida talvez não seja a vida que você quer. Não foi a poltrona que se moldou à tua forma de sentar; foi teu corpo que se ajustou à comodidade que esta vida lhe ofereceu. Mesmo assim você, com medo de mudar, inerte à situação, aceitou.
Eu prefiro a cadeira da mesa de bar com os amigos; nunca fui dado a conformismo; não tenho medo de mudar. Mesmo mal acomodado, sem saber se amanhã estarei aqui sentado outra vez com os mesmos amigos. Prefiro arriscar; e ter a liberdade de viver como eu prefiro.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O AMOR ESTÁ EM FALTA NOS RESTAURANTES DA VIDA

Fui ao restaurante jantar e pedi ao Cheff o “Prato do Dia”.
Ele me respondeu dizendo não servem mais, pois a especiaria para realizar tal prato se tornou artigo raro hoje em dia.
“Que especiaria é essa?” Perguntei.
Ele me respondeu: “Amor!”
Como procurar amor num período onde prevalecem emoções instantâneas e requentadas de microondas a um sentimento saboroso, servido a luz de velas e com acompanhamentos?

O amor, este prato principal de nossas vidas, hoje não passa de um fast-food mal servido, pedido na tele-entrega, pois não temos tempo nem de sair para jantar fora.
Fecharam-se as cozinhas dos corações; demitiram-se os cupidos garçons; não há mais flerte, paquera, conquista, tampouco romance no Menu Principal. No Buffet servem apenas desapegos e trocas rápidas de carinho sem intimidade, onde você se serve sozinho.
Esta comida, assim como o sabor que ela proporciona, é insossa.
Onde foi parar o amor? Em que alfândega da insensibilidade terá sido confiscada? Que hoje não chega até nós. Ou será que nem mesmo os produtores não cultivam mais? Será que ainda existe, pelo menos, uma última semente?
Não jantei naquela noite, no restaurante. Voltei para casa recordando de forma gustativa os amores do passado, enquanto via em outdoors os “novos lanches da vida”, sendo expostos de forma apelativa. Senti sabores esquecidos de um beijo num fim de tarde de chuva, um entrelaçar de dedos durante um filme, uma lágrima que cai ao final de um pedido de perdão.
Cheguei em casa, abri a geladeira semi-vazia, e decidi cozinhar. Mesmo tarde da noite fiz um refeição especial com o pouco que tinha. E mesmo sabendo que o amor está em falta nos dias de hoje, temperei com bastante esperança.

Bon Appetit!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

AS LEIS ABSURDAS NO BRASIL E AS NOVAS RUAS DE URUGUAIANA

Sem ter absolutamente nada de valor para criar, ultimamente os políticos estão se esforçando demais na arte de criar leis incrivelmente banais e/ou absurdas, testando assim a paciência do povo e provando o quanto são indignos de exercer o cargo que representam.
Assim, o deputado Daniel Almeida, do PCDdoB propõe a instituição do “Dia Nacional do Trabalho Decente”, 07 de Outubro (PLC 5192/2013); dessa forma “trabalhos indecentes” seriam terminantemente proibidos neste dia solene.
Walter Feldman, do PSDB, e sua PLC 5363/2013, quer institucionalizar um tempo mínimo de 15 minutos de sol, três vezes por semana, para cada cidadão brasileiro, facilitando assim a absorção de Vitamina D. Me pergunto se durante toda semana chover, como teremos nosso direito de sol ressarcido?
Não obstante querem desarmonizar os três poderes, submetendo ao Congresso Nacional as decisões do Supremo Tribunal Federal. O Deputado Nazareno Fonteles, do PT (e que outro partido poderia ser?) certamente não frequentou aulas de Teorias do Direito. Montesquieu certamente está dando voltas no túmulo, de tanta raiva.
Nessa onda alucinante (e alucinógena) de leis mirabolantes uns tentaram instituir a “Cartilha e o Kit Gay”, outros quiseram a “Cura Gay”.
E a farra não termina.
Em abril deste ano, em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad sancionou uma lei que permite a troca de nomes de ruas que homenageiam autoridades do período do Regime Militar. Logradouros com nomes como: Rua Doutor Sergio Fleury, Via Costa e Silva, Avenida Presidente Castelo Branco e Rua João Batista Figueiredo deverão mudar de nome.
Recentemente, em Porto Alegre, um grupo está “rebatizando” algumas ruas, colando adesivos com nomes de personalidades como Carlos Mariguella (líder comunista e guerrilheiro), Vladmir Herzog (jornalista austríaco, torturado e morto), entre outros, que na época do regime militar se opuseram aos governos. Se a mania pegar, daqui pra frente teremos ruas com nomes como: Rua Del Che, Alameda Mao Tse Tung, Via Lenin, Avenida Stalin e Bairro Gulag.
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Porém, se é para trocar alguns nomes de ruas, deveríamos trocar o nome de outros tantos logradouros, que como tal, ou denigrem a imagem do Brasil ou causaram grandes problemas de ordem econômica e social ao país.
Vejamos algumas sugestões de mudança de nomes - criadas por mim e por alunos, em sala de aula - para as ruas de Uruguaiana:
- RUA DA DÍVIDA EXTERNA (Antiga 7 de Setembro): Afinal, bastou D. Pedro bradar a independência que adquirimos esta centenária dívida que até hoje nos custa consideráveis valores dos cofres públicos brasileiros.
- RUA DAS COTAS (Antiga 13 de Maio): pois Isabel apenas assinou a libertação dos pouco mais de 700 mil negros que ainda trabalhavam de forma compulsória no Brasil - após mais de 350 anos de exploração de mão-de-obra escrava - mas nada fez por eles depois. Hoje, passados mais de cem anos da abolição, o negro – que foi relegado à marginalização da sociedade –, ainda não foi efetivamente integrado na sociedade que ele ajudou a construir.
- RUA DO NUNCA ESTIVE AQUI (Antiga Domingos de Almeida): mineiro, fazendeiro e comerciante de charque em Pelotas, durante a Revolução farroupilha ajudou a projetar a cidade de Uruguaiana, mas nunca esteve no município.
- RUA DO DAQUI NÃO SAIO (Antiga Borges de Medeiros): ex-governador do Rio Grande do Sul, que governou por 25 anos o estado, mantendo-se no poder por meio de fraudes eleitorais e coronelismo.
- AVENIDA POPULISMO (Antiga Presidente Vargas): Considerado o maior presidente brasileiro de todos os tempos, Getúlio deu vida à este tipo de política demagógica que fundamenta-se ideologicamente na defesa dos interesses e reivindicações das camadas populares, visando o voto do eleitor enganado com este tipo de assistencialismo. Depois de Vargas, quase que a totalidade dos governantes brasileiros fez do populismo a sua arma para se perpetrar no poder. Em Brasília, Lula e Dilma deram “bolsas”; em Uruguaiana, Felice deu "asfalto casquinha".
EM TEMPO: E se caso algum dia em Uruguaiana implantarem uma nova rua, margeando o rio Uruguai, quem sabe devêssemos homenagear nosso mais proeminente ex-presidente, batizando-a de MARGINAL LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

domingo, 4 de agosto de 2013

A ESMOLA NO SEMÁFORO

Num mundo onde a velocidade faz parte de nossas vidas, corremos a todo instante para cumprir as tarefas do dia-a-dia; aceleramos o ritmo da jornada de trabalho para concluir atividades; em disparate – assoberbados de compromissos – passamos pelo dia, sem que ele tenha passado por nós.
Realizamos as refeições rápido demais. Não relaxamos nos intervalos. Mesmo não sendo horário de pique, caminhamos com urgência. A agenda de compromissos nos exige cada vez mais; por isso, açodados, nos tornamos cada vez mais mecânicos e menos humanos.
Nossa vida está presa ao objeto que carregamos no pulso. Não vivemos mais; apenas sobrevivemos apressadamente.
Quando bate 18 horas de um dia normal de semana é possível perceber o quanto esta vida moderna nos comprime de forma funcional e menos sentimental.
Não damos “até amanhã!” para o colega. Não cumprimentamos o conhecido que passou por nós na esquina. Não retornamos a ligação que o amigo nos fez durante o horário de trabalho. Não respondemos a mensagem de celular que a namorada(o) nos mandou, dizendo “tenha um bom dia!”.
O dia passou, caminhou pelas suas horas, normalmente. E nós corremos, todos os minutos, loucamente.

Mas foi justamente na “Hora do Rush”, depois que um motorista cortou a frente do meu carro em alta velocidade – para quase bater de frente noutro motorista que cortava a preferencial, apressado –, enquanto um motociclista ziguezagueava por entre os automóveis, batendo no retrovisor do carro que trafegava a minha esquerda – e ainda acenando de forma obscena para ele – que o semáforo de uma das ruas mais movimentadas da cidade acendeu a luz vermelha e, pelo menos naquele instante, todos tivemos que parar.
Esbravejava o motorista do farol quebrado. Mal-encarado, olhava fixo para todos o motociclista. Acelerava o motor aquele senhor suado, com a gravata afrouxada. Com olhares cansados, os passageiros no ônibus se acotovelavam voltando para casa (ou indo para outra tarefa). Batia os dedos no volante – nitidamente nervoso – o motorista do coletivo, olhando atentamente para o semáforo.

Em completo contraste com o cenário, sorria aquele homem com roupas esfarrapadas, rosto pintado, nariz de palhaço e com malabares em chamas, fazendo arte numa esquina, em troca de esmola.
Ninguém olhava para ele; muitos fingiam não vê-lo, para não ter que dar uma moeda ao final de sua apresentação. Ainda assim o palhaço de dreadlocks seguia sorrindo, mesmo após ter derrubado uma das hastes que ele girava.
Quando o sinal abriu, todos partiram em disparada. A vida segue, mesmo depois dos 40 segundos em sinal vermelho.
Para sorte dele, no bolso da minha camisa tinha dois reais que lhe dei ao abrir o vidro do carro.
Enquanto eu já arrancava, devido as buzinas que recebia dos motoristas que estavam atrás de mim, ao receber ele me disse, com sotaque meio espanhol:
“- Que passe bién e que tenga um ótimo fim de semana!”
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Quem me deu esmola, naquele fim de tarde, foi ele.
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terça-feira, 30 de julho de 2013

PRECISO TRABALHAR A LAVOURA DA MINHA VIDA

Preciso trabalhar a lavoura a minha vida.
Numa época onde a lavoura dos sentimentos anda seca, e o solo das emoções tornou-se infértil em decorrência da escassez de chuva que assola os campos da compaixão, senti que preciso cultivar em mim sementes de uma vida nova.
Com as mãos ainda calejadas de agricultor que lavra sozinho a própria fazenda, busquei no galpão das lembranças enxadas, pá e arado para lavrar esta terra preta que por anos gerou quase nada.
Exterminei saudades daninhas; podei, das grandes árvores do passado, as sombras de lembranças nocivas, para permitir que o sol do destino possa aquecer este novo terreno que agora estou fertilizando.
Antes eu plantava mágoas, rancores e desgostos. Como resultado, colhia apenas os frutos amargos do dissabor.
Agora, eu cultivarei nesta terra apenas felicidade e alegria.
Estou semeando a esperança; plantei cada uma destas sementes com as próprias mãos, depositando sonhos neste torrão. Desta gleba quero colher realizações.
Vou irrigar esta nova lavoura da minha vida com fé. A água que uso vem dos campos do Vizinho; e sei que Ele, por também ser lavoureiro de sonhos e esperanças (igual a mim), não negará ajuda a este vizinho lindeiro.
Pouco me importa se estou plantando fora de época; neste inverno da sociedade pós-moderna. O vento gelado deste novo mundo frio de sentimentos já não me assusta mais.
Plantei um pouco de mim em cada sulco que abri nesta terra.
Agora vou esperar a primavera.
Quando ela chegar, quero colher amor.

terça-feira, 16 de julho de 2013

ATORES E COADJUVANTES NOS CAPÍTULOS DA VIDA

Neste curto espaço de tempo que temos aqui na terra, em muitas fases da vida somos postos à prova. São etapas que precisamos vencer para progredir humanamente.
A primeira fala.
O primeiro passo.
O primeiro dia na escola; a primeira apresentação em público para pais, professores e colegas; a primeira prova; a primeira nota vermelha no boletim e o medo de mostrar para os pais.
O primeiro amor (seja ele correspondido ou não).
A formatura no ensino médio.
A primeira habilitação de motorista.
O vestibular; a faculdade; novamente o primeiro dia em aula; a apresentação do trabalho de conclusão; a formatura, agora na Universidade.
O primeiro emprego.
O sim em frente ao altar.
O nascimento de um filho.
E todo este ciclo anterior - onde você foi o ator principal - que a partir agora vai se repetir; só que desta vez tendo-o como coadjuvante e as vezes mero espectador.
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Hoje, fui coadjuvante e espectador de mais um capítulo importante na maturação pessoal do meu filho.
Como há alguns anos atrás - quando bebê - soltei sua mão para que ele desse seus primeiros passos sozinho, hoje ao ensiná-lo a andar de bicicleta senti que fui coadjuvante ao vê-lo se equilibrar sozinho e pedalar sorrindo mais uma de suas conquistas.

Naquele momento parei – agora como espectador – para assisti-lo vencer o medo (que muitas vezes a vida tenta nos impor) e conquistar o equilíbrio (que todos nós buscamos nesta breve passada aqui na Terra).

domingo, 31 de março de 2013

QUANDO DESPERTA O AMOR

   Meu filho Dartagnan e eu temos vários hábitos. Jogamos videogame juntos; assistimos filmes infantis, de ação, aventura e até dramas e gostamos de prever as cenas; brincamos usando uma linguagem só nossa; mesmo com sua tenra idade, discutimos sobre culinária e cozinhamos; ele me questiona sobre assuntos complicados e eu tento lhe responder com exemplos simples; pescamos lambaris fins de tarde no Rio Uruguai; e sempre aos domingos e feriados saímos de carro a percorrer a cidade, tomando mate.
   Na tarde de hoje, domingo de Páscoa, enquanto rodávamos a cidade, passamos por uma casa e percebi que ele fixou seu olhar nas pessoas que estavam sentadas na frente. Não lhe perguntei nada, apenas segui dirigindo. Dartagnan então me pediu para dar a volta e passar de novo ali. Perguntei qual o motivo ele me respondeu: “- Ali mora a minha colega (nome). E eu gosto dela.”
   Quando chegamos em casa Dartagnan me perguntou se poderíamos levar algum presente de Páscoa para sua colega. Respondi que não haveria como, pois é domingo e não teríamos onde comprar chocolate. Ele então disse que daria um dos vários ovos de páscoa que ganhou. Novamente tentei dissuadi-lo de fazer o que queria, dizendo que deixaríamos para levar amanhã ou outro dia.

   Determinado, ele me pediu que levássemos ainda naquela noite, enquanto ainda era dia de páscoa.
   Comovido pela sua insistência preparamos o presente e fomos levar à sua coleguinha.
   Durante o percurso até a casa da coleguinha de aula de Dartagnan voltei à minha infância; aqueles meus tempos de escola; retornei à tardes hoje já acinzentadas e quase esquecidas na memória. Professoras, amigos de sala de aula e meninas coleguinhas por quem eu cultivava amores platônicos que nunca foram correspondidos. Lembrei daquela menina que sentava ao meu lado na quarta-série, mas que hoje não lembro mais seu nome. Quantas vezes fui pra escola pensando se ela algum dia notaria em mim, me pediria a borracha emprestada ou sentaria em dupla comigo para fazer algum trabalho. Perdi as contas de quantas vezes me pegava imaginando o que conversar com ela. Por medo nunca fiz nada. Terminamos a escola e nossos caminhos se desfizeram. Sofri com sentimentos em silêncio, aprendendo logo na infância dores de adultos.
   Vi naquele olhar luzente de meu filho o momento em que despertamos para o amor. A noite caia calma com tons de púrpura como que coroando o cenário de um filme infantil. Tudo estava belo, perfeito. Nascia naquele momento um coração apaixonado.
   Ele parecia calmo; olhava atentamente para o laço do presente e certamente decorava mentalmente algumas falas. Quem estava nervoso era eu.
   Quando chegamos na casa da menina os pais dela estavam sentados na frente. Senti junto com Darta o peso do mundo nas suas costas. Sem me olhar, desceu do carro, deu boa noite e perguntou pela colega. Sua mãe disse que ela estava na sala e que passasse. Mesmo distante, consegui escutar sua única, curta e trêmula frase: “Oi, vim te trazer um presente. Feliz Páscoa!”.
   Aqueles segundos que pra ele foram longas horas de ansiedade e euforia, foram também como uma eternidade para mim. Pois enquanto aquele menino partia rumo ao seu primeiro contato com a vida, eu como pai senti que precisava ajuda-lo, protege-lo, guia-lo naquele momento. Quantas vezes eu sofri por amor? Quantas vezes, enquanto jovem, chorei por alguém? Quantas dores senti por um amor não correspondido? Agora chegava a vez de meu filho. Aquele menininho, que havia descido do carro, estava naquele momento iniciando uma longa e penosa caminhada em busca de seus sentimentos. Nada eu poderia fazer para ampara-lo.
    Nervoso, porém com um leve sorriso no canto da boca, ele se despediu dos pais da coleguinha e entrou de volta no carro. Nada falamos. Ele olhava longe pela janela do carona os outros carros e as pessoas naquela noite de domingo. Tentei imaginar o que estava passando pela sua jovem cabeça naquele momento. Não lhe perguntei nada; até porque quando se está assim não se pensa: é apenas o coração que pulsa.
  Quando chegamos em casa Dartagnan voltou ao seu mundinho de criança: assistiu desenho, jogou videogame (mesmo estando de castigo, deixei), comemos uma pizza e fizemos os deveres de casa. Não comentamos nada sobre o assunto. Não foi preciso; nos conhecemos muito bem e nos entendemos apenas com olhares.
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   Porém percebi que naquela noite mais uma pessoa havia despertado para o amor.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O QUE MUDA COM O NOVO PAPA ARGENTINO?

Depois da inesperada renúncia do Papa Bento XVI – algo raro na história da Igreja Católica, pois apenas outros três pontífices (Gregório XII, Celestino V e Ponciano) abdicaram ao cargo de Pedro – o último conclave espantou o mundo ao eleger no prazo de pouco mais de dois dias, em apenas 5 escrutínios, um Papa vindo da América do Sul.
Cardeal, da Ordem Jesuíta, Jorge Mario Bergoglio, argentino nascido em Buenos Aires, tornou-se o primeiro Papa Latino-Americano, o primeiro Papa Jesuíta e o primeiro a adotar o nome de um dos santos mais humildes da história do Catolicismo: Francisco.
Enquanto brasileiros lamentavam com resignação a derrota de seu candidato gaúcho, argentinos comemoravam o novo pontificado, rogando que este lhes traga um pouco mais de alegria e bênçãos à este povo vizinho que há muito sofre política e economicamente.

Porém, aqui na região da fronteira, já correm especulações sobre o quê pode mudar nas relações Brasil-Argentina tendo este último país, agora, um Sumo Pontífice portenho. Por isso, com base em hipóteses fúteis, discussões de botequim e teorias sem fundamento sócio-político-econômico (tampouco religioso), vejam a seguir o que pode ser alterado na Argentina - e no mundo - agora que o Papa é Hermano:
- A Guarda Suíça do Vaticano será imediatamente substituída por Gendarmes.
- Paso de Los Libres agora é considerada Terra Santa; a “Calle Colón” será local de peregrinação e “O Buraco de Libres” uma filial do Vaticano.
- A Ponte Internacional Brasil-Argentina agora irá se chamar “Starway to Heaven” quando estivermos indo pra Argentina e "Highway to Hell" quando estivermos voltando para o Brasil.
- As missas não terão mais as celebrações com hóstia. Agora cada fiel vai comungar recebendo um alfajor (“Tatin” nas missas semanais e “Grandote” nas missas dominicais).
- A música “Eu Sou Apenas Um Rapaz Latino-Americano” será transformada em canto gregoriano e oração, em homenagem ao primeiro Papanamericano da história.
- Novos Santos entrarão para o Hall dos Homens de Deus; são eles: San Martin (leia-se “São Martin”), São Perón, Santa Evita de los Descamisados e São Diego Maradona (que recebeu a graça de “La Mano de Diós”).
Em tempo: Lionel Messi, por ser considerado muito jovem ainda para ser santificado, já está sendo retirado do Barcelona para ingressar como seminarista.
- A Opus Dei perderá espaço para a Igreja Maradoniana (apenas por questões óbvias).
- O Colégio Nossa Senhora do Horto deverá mudar de nome (só os fortes entenderão).
- Aquela piada sobre "O Padre Brasileiro e os Argentinos" agora faz parte do INDEX LIBRORIUM PROHIBITORUM (os livros proibidos pelo Vaticano). [clique aqui para ouvir a piada proibida]
- Aquelas comprinhas não permitidas pela Polícia Federal (carne e produtos de origem animal e vegetal) deixarão de ser proibidas. Agora “O Chibo é de Deus”.
- Para ingressar em território argentino não será mais aceita a “Carta Verde”. Agora todo o estrangeiro que quiser ingressar no país precisa apresentar “Carta Santa” e certificado de Catequese e Crisma.
- As Malvinas não pertencem mais aos ingleses. Eles serão expulsos das ilhas assim como Henrique VIII expulsou a Santa Igreja da Inglaterra no século XVI.
Em tempo: O Vaticano esperou 500 anos pra se vingar de Henrique VIII e dos ingleses.
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Algumas dúvidas também começam a pairar agora que a Argentina tem um Papa.
Por exemplo:
- A demora de dois dias no conclave deveu-se a “catimba argentina”?
- “Quem tem Boca vai à Roma!” Mas e quem é do River Plate vai pra onde?
- Quem apostar no Cassino de Libres pode considerar aquele valor perdido nos caça-níqueis como “ofertório”?
- Todo aquele que for abastecer seu veículo num posto de Libres estará enchendo o tanque com “gasolina batizada” ou “água benta”?
- Como faremos para pedir “batatas” em espanhol?
- Sendo assim, pedir “Papa frita” é uma heresia?
- Se Deus é brasileiro e o Papa é argentino, Jesus então é Uruguaio?
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Mesmo assim, brincadeiras à parte, desejo um longo e bem-sucedido pontificado à Francisco I; e que o Papa traga novamente a paz e leve acalanto e felicidade ao mundo com suas palavras, sendo ele (mesmo que argentino) um enviado de Deus.
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A PROPÓSITO: E Cristina Kirchner?
Infelizmente esta nem Papa Argentino e nem Deus salva.


#HabemusTangus


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

OBRIGADO BRASILEIROS!

Obrigado brasileiros! Por nascermos submissos desde a origem e nunca termos questionado ou imposto nossa vontade desde o nascimento do Brasil. Chegaram aqui os portugueses e sem consultar decretaram que seriamos colônia de um povo europeu e desconhecido; fomos índios, negros e colonos passivos a aceitar as imposições metropolitanas; levaram quase toda nossa riqueza. Não nos questionou quando bradou solene D. Pedro, naquela manhã ás margens do Ipiranga, e – sem perguntar à nós – decidiu fazer daqui um país; inertes assistimos a alvorada de uma nação sem participarmos. Anos depois militares republicanos sequer cogitaram a hipótese de indagar o povo quando derrubaram a monarquia; surgia uma república, e nós, apáticos, apenas assistimos a mudança da forma de governo. Mas de que adiantou mudar a forma de governo? Se nunca nenhum deles governou pra nós?


Obrigado brasileiros! Por termos criado o carnaval e fazermos dele o maior espetáculo da terra. Por termos acolhido aqui aquele esporte inglês e nos tornarmos o país do futebol. Assim deixamos de nos importar com política e com a própria sociedade. O resultado disso é a decadência da saúde pública, a falta de empregos e de oportunidades, a precariedade da educação, o sem-teto humilhando-se a esmolar pela rua, a falta do que comer em casa. Mas faça chuva ou faça sol, fevereiro tem carnaval e também queremos ver nosso time vencer algum campeonato. Vamos desfilar e nossa escola de samba precisa sair campeã; felizes pois em 2014 a Copa do Mundo será aqui e será nossa! Mas como farei para desfilar, se estou doente à espera de um leito no hospital? Como assistirei meu time ganhar ou torcer pra seleção, se não tenho emprego e estou sem dinheiro?

Obrigado Brasileiros! Pois mesmo sendo uma nação jovem, podermos hoje viver no gozo da democracia plena e termos Constituição e Justiça que nos ampare e protege. Por escolhermos nossos governantes de forma direta e termos assegurados nossos direitos na forma de leis que nos cobram e punem caso não as cumpramos. Por sermos dominados, quando devíamos dominar; pois o poder emana de nós, e mesmo assim não temos poder – nem sequer coragem – para tirarmos “do poder” aqueles poderosos homens que criam as leis que nos castra. Por termos uma constituição tão nossa que é chamada de “Cidadã”, mas como cidadão que não somos não a usamos por descaso, e tampouco a justiça a aplica, por ser omissa e negligente; por isso vemos o imperar entre nós o assassínio, a corrupção, o roubo e a tragédia premeditada. Só depois dos fatos ocorridos, de sentirmos na pele, bradamos aos governantes e recorremos à Justiça. Mas quem são nossos governantes, se amnésicos já nem lembramos em quem votamos na última vez? E à que Justiça poderemos recorrer, se desmazela ela nunca se fez pesar?

Muito obrigado Brasileiros! Que talvez nem tenham chegado ao final desta leitura, pois precisamos cuidar da vida do vizinho, postar alguma imagem no facebook, assistir a novela ou saber quem foi o eliminado do Big Brother. Acomodados na poltrona, vemos o Brasil ruir na nossa volta enquanto tomamos uma cerveja e displicentes nada fazemos, pois somos brasileiros e acreditamos que sempre é possível “dar um jeitinho”. Só que este câncer do comodismo e da incúria, que temos impregnado em nossa sociedade, não há remendo que cure.

Muitíssimo obrigado brasileiros! Sequer senti vontade de terminar esta crônica; pois ao escrevê-la senti por um momento vergonha de ser brasileiro, preguiçoso e inerte. Tentei fazer minha parte. Desiludido, percebo que não mudei nada. Porém acredito, mesmo que carregado de incredulidade e ceticismo, que um dia verei o povo brasileiro se levantar e agir, e assim poder dizer, com orgulho: “Obrigado por ser brasileiro!”
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“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” (Rui Barbosa)