Está na vocação do professor de
história ser cético. Contrariamos a religião – e suas historinhas fabulosas – e
nos baseamos apenas na ciência e suas teorias. Ironizamos Adão e Eva e o Paraíso,
enquanto discutimos australopitecos vagando pelas savanas africanas há milhões
de anos.
Assim nos foi ensinado na
faculdade, e nos orgulhamos de ter Darwin como “o homem que matou Deus!”.
A cada descoberta, nestes últimos
cem anos extremamente revolucionários para ciência, o homem conseguiu se
distanciar da fé e se aproximar daquilo que chamamos de razão. Assim, constatamos
cientificamente que antes de tudo não havia nada, e que desse nada teria
resultado de uma grande explosão que deu origem a tudo, surgindo o universo. Desta
forma comprovou-se, através de experimentações, análises e estudos, que o homem
é o resultado de um lento processo evolutivo de primatas, que por necessidade
de sobrevivência, ao passar de milhões de anos foram adaptando-se ao meio
ambiente, chegando a tornar-se hoje o dono de toda a natureza que antes era sua
dona.
Solucionamos dúvidas com a
ciência. Retiramos enormes pontos de interrogação da humanidade com base no
estudo e na razão. Tornamos verossímil – através de teorias – aquilo que antes
era inexplicável.
Mas como explicar tantas teorias
quando não há razão para entender? Nem toda a ciência do mundo consegue suplantar a inocente ignorância.
-
Foi assim que passei por mais um
dos meus grandes constrangimentos em sala de aula, anos atrás, quando uma jovem aluna da
quinta série parou uma explicação minha sobre pré-história:
- Teorias indicam que nós humanos
viemos de um ancestral em comum do macaco, há milhões de anos na África. Dizia
eu aos alunos.
- E de onde vieram os macacos,
professor? Perguntou a menina.
- Certamente de animais que
teriam sobrevivido ao asteroide que extinguiu com quase toda vida na terra,
inclusive os dinossauros. Repliquei, tentando assim desviar a atenção da jovem
pra outro assunto (dinossauros, quem sabe). Em vão.
- Então de onde vieram os
dinossauros?
- De repteis que evoluíram de
anfíbios!
- E os anfíbios vieram de onde?
Nesse momento em já sentia uma
vontade de mandar a menininha pra coordenação por princípio de tumulto.
- Dos peixes. Respondi friamente;
achando que terminaria ali o interrogatório. Ledo engano.
- E os peixes?
- De seres que viviam nos
oceanos.
- E estes “seres”, professor?
Vieram da onde?
Minha vontade era de dizer que
vieram da casa da vovozinha!
- De micro-organismos, que
surgiram a partir de um arranjo de moléculas que teriam criado vida supostamente
através de um raio que caiu.
Pronto! Agora eu achava ter dado
um nó no cérebro da criança. Mas ela não desistia...
- O que são micro-organismos? O
que são moléculas? Como é que o raio acertou neles? Aaaahhhhh... E de onde
vieram os micro-organismos e as moléculas então?
- ...
Foi quando o sinal bateu para o
recreio e todos os alunos saíram correndo para o pátio; inclusive aquela terrível
infanto-inquisidora, de trancinhas e aparelho nos dentes, para meu alívio; pois
eu estava na iminência de ter que rasgar meu diploma frente àquele pequeno questionário-vivo.
Pelo menos aquela curiosa
menina fez com que eu também começasse a me indagar até onde a razão consegue
explicar os fatos; e percebi que quando a ciência não consegue mais explicar,
aí então, recorremos a Deus. Pois somente um ato divino faria um raio despertar
uma matéria bruta.
Mesmo assim, durante estes anos, continuei
me perguntando sobre a origem do universo e a resposta final que eu nunca dei
àquela mocinha.
Quando surgiu a vida, de fato? O
que havia antes do Big Bang? Como, do nada, surgiu isso tudo?
Tantas perguntas sem explicação, cientistas se confrontando em teorias que explicam mais teorias; e quando parecia já não haver mais explicação: Bang!
“Cientistas descobrem o Bóson de Higgs”.
O Santo Graal da Física. Uma
partícula capaz de dotar de massa outras partículas. A origem de tudo.
Que ironia!
Em tempos onde fé e religiosidade
estavam sendo deixadas em segundo plano, na busca por explicações racionais, veio justamente ela - a ciência -, a inimiga da fé, que provar que Deus existe.
Eis o dom da Criação. O Criador –
Deus – explicado pela criatura, através da física. Dotando de matéria e vida o
universo. Presente em cada elemento, em cada ser, em cada partícula.
“A Partícula de Deus”.
-
E aquela menininha?
Certamente vai querer ser cientista quando crescer.
Certamente vai querer ser cientista quando crescer.
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