Algumas “obrigações” que a vida social nos leva a fazer, muitas vezes faz com que nos deparemos com situações inconvenientes dentro desse mesmo meio social. Assim são os velórios, pelo menos pra mim.
Como contei ano passado (ou retrasado; sei lá) quando fui obrigado a prestar as últimas homenagens à minha tia que falecera num agosto – mês que mata velhos – e fiz essa piadinha infame que me custou a vergonha em frente aos parentes sofredores, percebi o quanto é complicado "e delicado" se comportar num velório. Depois disso resolvi ser o mais ético companheiro a compartilhar a dor quando estivesse na obrigação me fazer presente em um funeral. Novamente o viver em sociedade me levou ao encontro da morte (felizmente não a minha).
A senhora que falecera além de ter um grau de parentesco comigo, ainda era a mãe de um grande amigo meu, por isso dois motivos que me colocavam na função de ombro amigo para com aquele grande companheiro.
Fui acompanhado de outro amigo nosso de infância que buscou-me em casa e ao chegarmos ao velório comecei a lembrar das várias coisas que nós três fizemos juntos em nossa adolescência; resultado: um riso espontâneo e na pior hora possível. Por isso tive que tratar de pensar em coisas completamente abomináveis para tirar aquele sorriso impróprio para a situação em que me encontrava.
Quando chegamos encontramos a capela velatória relativamente cheia, tomada por parentes, pessoas do nosso convívio e muitos desconhecidos. Como praxe, um abraço e frase “que descanse em paz” foram a minha arma para tentar demonstrar o pesar que sentia pela perda da mãe do meu amigo; mas algo teimava em me fazer rir num momento onde muitos choravam. E para piorar a situação, nosso outro amigo – querendo amenizar o clima pesado daquele momento – falava de fiascos e gafes que outros amigos nossos cometeram, na esperança de tirar um sorriso do nosso companheiro que ali convalescia da perda de sua mãe.
Quando eu já conseguia controlar o impulso por rir, comecei a analisar o comportamento de algumas pessoas que ali estavam e vi que eu não era o único me comportar de forma estranha para um momento de profundo pesar.
As mulheres se trocavam olhares invejando a roupa uma das outras; é impressionante a vaidade feminina que faz as mulheres aproveitarem um encontro mórbido para fazer desfile de moda.
Um senhor aproveitou o cafezinho e os biscoitos, na entrada, para fazer o desjejum que certamente não fez em casa.
Muitos chegavam à porta sorrindo e até gargalhando entre si; mas, ao entrar no recinto, de súbito vestiam-se de um pesar e conseguiam até a façanha de chorar copiosamente em torno do caixão.
Outros tratavam de aumentar a dor dos parentes dizendo frases prontas como: “que tragédia, tão jovem”, “pelo menos parou de sofrer”, ou ainda: “agora ela está melhor que nós”; fazendo aumentar a dor daqueles que sofriam a perda daquela pessoa.
Mas tem sempre aqueles que contam histórias fantásticas de mortes incríveis; foi essa a parte mais “chocante” (vamos dizer assim) do funeral.
Aquele senhor entrou na capela abraçando contagiosamente todos os presentes, inclusive eu que nem o conhecia. Após estender sua dor a todos os presentes fitou por alguns minutos a falecida e depois virou para o nosso grupo, onde encontrava-se marido e filho da senhora e começou a contar a história de um amigo seu que havia morrido por causa de uma cabeceada que dera num jogo de futebol.
Consta (segundo o senhor esse) que seu amigo estava jogando futebol, e depois de desviar de cabeça para as redes a bola que tinha sido cruzada num escanteio, chegou em casa com dor de cabeça e veio a falecer dias depois devido ao impacto da bola. A história causou os mais diversos sentimentos nos ouvintes presentes. Chorava o viúvo, sorria amarelo o filho órfão, gargalhava o nosso amigo, irritava-se uma senhora que escutava próximo (talvez ela não gostasse tanto de futebol); mas eu, particularmente, fiquei em estado de choque.
Pode uma cabeceada em um jogo de futebol matar? Pode um homem não ter o mínimo de senso a ponto de contar tal história num momento de plena dor entre as pessoas? Pode haver algum evento pior do que velório?
Depois disso resolvi não ir mais a funerais, realmente não sei como me comportar em um.
Mas também resolvi evitar cabecear muito nas nossas “peladas” de fins-de-semana. Por via das dúvidas agora tento de bicicleta (se eu quebrar a coluna pelo menos ainda que paraplégico, continuarei vivo).
Como contei ano passado (ou retrasado; sei lá) quando fui obrigado a prestar as últimas homenagens à minha tia que falecera num agosto – mês que mata velhos – e fiz essa piadinha infame que me custou a vergonha em frente aos parentes sofredores, percebi o quanto é complicado "e delicado" se comportar num velório. Depois disso resolvi ser o mais ético companheiro a compartilhar a dor quando estivesse na obrigação me fazer presente em um funeral. Novamente o viver em sociedade me levou ao encontro da morte (felizmente não a minha).
A senhora que falecera além de ter um grau de parentesco comigo, ainda era a mãe de um grande amigo meu, por isso dois motivos que me colocavam na função de ombro amigo para com aquele grande companheiro.
Fui acompanhado de outro amigo nosso de infância que buscou-me em casa e ao chegarmos ao velório comecei a lembrar das várias coisas que nós três fizemos juntos em nossa adolescência; resultado: um riso espontâneo e na pior hora possível. Por isso tive que tratar de pensar em coisas completamente abomináveis para tirar aquele sorriso impróprio para a situação em que me encontrava.
Quando chegamos encontramos a capela velatória relativamente cheia, tomada por parentes, pessoas do nosso convívio e muitos desconhecidos. Como praxe, um abraço e frase “que descanse em paz” foram a minha arma para tentar demonstrar o pesar que sentia pela perda da mãe do meu amigo; mas algo teimava em me fazer rir num momento onde muitos choravam. E para piorar a situação, nosso outro amigo – querendo amenizar o clima pesado daquele momento – falava de fiascos e gafes que outros amigos nossos cometeram, na esperança de tirar um sorriso do nosso companheiro que ali convalescia da perda de sua mãe.
Quando eu já conseguia controlar o impulso por rir, comecei a analisar o comportamento de algumas pessoas que ali estavam e vi que eu não era o único me comportar de forma estranha para um momento de profundo pesar.
As mulheres se trocavam olhares invejando a roupa uma das outras; é impressionante a vaidade feminina que faz as mulheres aproveitarem um encontro mórbido para fazer desfile de moda.
Um senhor aproveitou o cafezinho e os biscoitos, na entrada, para fazer o desjejum que certamente não fez em casa.
Muitos chegavam à porta sorrindo e até gargalhando entre si; mas, ao entrar no recinto, de súbito vestiam-se de um pesar e conseguiam até a façanha de chorar copiosamente em torno do caixão.
Outros tratavam de aumentar a dor dos parentes dizendo frases prontas como: “que tragédia, tão jovem”, “pelo menos parou de sofrer”, ou ainda: “agora ela está melhor que nós”; fazendo aumentar a dor daqueles que sofriam a perda daquela pessoa.
Mas tem sempre aqueles que contam histórias fantásticas de mortes incríveis; foi essa a parte mais “chocante” (vamos dizer assim) do funeral.
Aquele senhor entrou na capela abraçando contagiosamente todos os presentes, inclusive eu que nem o conhecia. Após estender sua dor a todos os presentes fitou por alguns minutos a falecida e depois virou para o nosso grupo, onde encontrava-se marido e filho da senhora e começou a contar a história de um amigo seu que havia morrido por causa de uma cabeceada que dera num jogo de futebol.
Consta (segundo o senhor esse) que seu amigo estava jogando futebol, e depois de desviar de cabeça para as redes a bola que tinha sido cruzada num escanteio, chegou em casa com dor de cabeça e veio a falecer dias depois devido ao impacto da bola. A história causou os mais diversos sentimentos nos ouvintes presentes. Chorava o viúvo, sorria amarelo o filho órfão, gargalhava o nosso amigo, irritava-se uma senhora que escutava próximo (talvez ela não gostasse tanto de futebol); mas eu, particularmente, fiquei em estado de choque.
Pode uma cabeceada em um jogo de futebol matar? Pode um homem não ter o mínimo de senso a ponto de contar tal história num momento de plena dor entre as pessoas? Pode haver algum evento pior do que velório?
Depois disso resolvi não ir mais a funerais, realmente não sei como me comportar em um.
Mas também resolvi evitar cabecear muito nas nossas “peladas” de fins-de-semana. Por via das dúvidas agora tento de bicicleta (se eu quebrar a coluna pelo menos ainda que paraplégico, continuarei vivo).
2 comentários:
Professor Pedrinho, ri muito lendo tua crônica, embora o assunto seja meio fúnebre. Lembrei de uma cena que protagonizei nos anos sessenta, que sou meio antiga, com a morte do pai de uma colega do Horto. Fomos toda nós confortar a querida amiga e lá chegando tive um "ataque" de riso, mas daqueles de escorrer lágrimas e chamar a atenção. A casa era na campanha e as pessoas meio barulhentas na emoçao da perda. Eu ria, ria e chorava, parava e voltava a rir, e a chorar de rir.
Resultado,perdi a amiga mas ganhei a lição para minhas próprias perdas.
Parabéns pelo estilo elegante e divertido da crônica! Não sou "expert", mas gosto de ler o que é bom e interessante!
Um abraço fraterno.
Tudo Bem? interessante este espaço parece bem posicionado.........Boa pinta :/
Muito Bonito faz mais posts deste modo !
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