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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Matar e Morrer - Ontem e Hoje


Talvez o mais cético dos céticos (um ateu legítimo) já esteja começando a acreditar que o fim dos dias, o Apocalipse bíblico, esteja bem próximo de nós. O caos que precederia este fim já nos é visível, já nos é palpável, está na casa ao lado e nos bate a porta, quando vemos casos aterradores de violência, assassinatos, barbáries que nem a pré-história da humanidade foi capaz de protagonizar.
Matar e ser morto sempre foi comum na nossa sociedade; desde que na antiguidade os povos disputavam territórios, bens, propriedades, escravos, etc. E para tanto precisavam medir forças, sendo contingentes humanos o diferencial que decretava qual grupo social prevalecia sobre outro. Mas para tanto matar o semelhante se fazia necessário, quase que obrigatório, pois permitir ao inimigo sobreviver implicava permitir ser morto numa outra oportunidade de disputa.
Assim passamos pela Antiguidade e pela Antiguidade Clássica matando sem piedade; os romanos fizeram da “guerra de conquista” uma estratégia para dominar todo o território que lhes foi possível (e aprimoraram técnicas para matar e não ser morto); a Idade Média trouxe disputas entre nações que surgiam, cruzadas sem sentido e justiças aplicadas com penas de morte pela Santa Igreja Católica[1] que fez de sua doutrina uma justificativa para exterminar quem lhes fosse contrários (matar já não era questão de disputas, mas sim de ideologias também).
“Navegar é preciso”[2] diziam os navegadores europeus, mas ninguém ousou completar a frase dizendo que: “matar também é, nas terras descobertas”; porém em cada ilha, em cada novo continente descoberto e colonizado, era necessário dizimar ou escravizar civilizações locais[3], tudo isso no ímpeto do Velho Mundo de sobreviver, pilhar riquezas e dominar para não ser dominado (pena que os ameríndios não foram avisados do novo sistema econômico que surgia na Europa, por isso foram mortos, escravizados e alguns catequizados para trabalhar de “forma espontânea” baixo a égide da Igreja Católica, já contestada dentro da própria Europa). Séculos depois, um Papa pediu perdão pelos exageros cometidos pela Santa Igreja; terá adiantado?
A Revolução Francesa aprimorou mais ainda as técnicas para se matar; em alguns casos foi completamente original “Sui Generis”, fazendo da guilhotina[4], uma forma mais “indolor” para aplicação da pena máxima: a morte! Literalmente, cabeças rolaram neste período; mas a liberdade, a igualdade e a fraternidade (isso eu até hoje não entendo) prevaleceram por fim, numa França, agora sem seus reis absolutos. Tanta morte pra tirar um regime do poder (motivos políticos, neste momento justificavam tanta matança).
Porém as mortes em massa já não se limitavam mais às porções de terras européias no mundo contemporâneo; o Capitalismo, as relações comerciais e econômicas entre as grandes nações e o engatinhar da globalização fazia com que o mundo todo se tornasse um barril de pólvora e uma fagulha (sim, uma simples fagulha considerando a gravidade do restante dos fatos) foi o suficiente para declarar uma guerra, agora de proporções mundiais. O assassinato do arquiduque Austro-Hungaro Francisco Ferdinando foi o deflagrador de um derramamento de sangue de proporções nunca antes visto pela humanidade: a 1º. Grande Guerra Mundial (uma morte, gerando mais de 15 milhões de outras mortes; só nós mesmos pra fazermos coisas assim).
No sentimento de ego ferido, na busca de reerguer-se de uma considerável derrota, e restituir territórios perdidos pela 1º. Guerra, uma nação resolveu criar uma ideologia de raça pura para exterminar outras etnias, assim se fez (em parte) a 2º. Grande Guerra Mundial, onde 62 milhões (repito: 62 MILHÕES) de pessoas foram mortas das mais diferentes formas: ou em batalha[5], em suas casas[6], ou ainda em salas com gases venenosos[7].
Enfim, matar e morrer é mais humano até do que se reproduzir.
Mas matar com requintes de maldade, matar premeditadamente, matar o semelhante, matar a criança, matar o parente, o pai, a mãe, a avó, o filho?
Já não há explicação histórica; já se esvai a justificativa de sobrevivência, de perpetuação; já não se aplica a primitiva lei de Talião, não se faz argumento a defesa pessoal; não existem motivos para tanto.
Chegamos num estágio da sociedade onde a barbárie humana é ao mesmo tempo tão comum e tão horrenda que não se sabe mais o que é, da fato, crime e quem possa cometê-los.
Os fatos recentes no Brasil e no mundo, o banho de sangue que a televisão nos proporciona, me fez pela primeira vez, recorrer ao meu BLOG pra tentar acercar e buscar uma razão (ao final do que dissertarei) para tanta atrocidade sanguinária e psicótica cometida pelo ‘ser homem’.
Matar pai e mãe já é quase tão comum quanto um homicídio envolvendo discussão.
Matar irmão já não é tão novo assim (há de se lembrar Caim e Abel, nas fantásticas histórias da Bíblia).
Mas o que leva um jovem estudante a matar dezenas de pessoas em uma universidade e depois ceifar a própria vida? O caso Virginia Tech, nos EUA ainda nos choca.
Arrastar uma criança pelo cinto de segurança pelas ruas fingindo ser a vítima um boneco de Judas à ser malhado? Que animais fariam isso? Certamente animais não. Animais tendem a cuidar se seus próximos no instinto de sobrevivência.
Jovem (adolescente) matando outros jovens? Isso é quase que inexplicável; o rapazinho de Novo Hamburgo que declarou já ter matado 12 pessoas, tendo ele apenas 16 anos é uma afronta ao perfil do assassino em série, pois a grande maioria dos “Serial-Killers” só chega ao elevado número macabro com alguns anos de experiência. O menino de Novo Hamburgo ainda não é maior de idade; e será solto quando alcançar a maioridade!
Um pai... uma mãe... matar seu filho!
Não há palavras para descrever tal cena; nem o mais insano diretor de cinema de suspense conseguiria descrever cenas que atualmente se repetem amontoadamente nos jornais e televisão.
Somente a mente criminosa é capaz de arquitetar planos para jogar um filho recém nascido num córrego imundo, como fez a mãe de Belo Horizonte; somente a sórdida e macabra premeditação de um pai (ele ainda vai confessar, escrevam o que estou dizendo) para jogar uma filha pela janela do sexto andar, depois de espancá-la, deixando um rastro de sangue pela casa; somente, mesmo, a mente humana para matar uma continuidade sua, um filho, uma criança, uma vida em formação.
Eu não quis, ao longo deste texto, justificar as dezenas de milhões de mortes que a humanidade protagonizou ao longo do percurso de nossa história. Matar nunca foi um ato a ser merecedor de honrarias.
Mas é que se nem a história foi capaz de nos mostrar isso, para que não cometamos os mesmos erros; se nem o instinto de sobrevivência que nos fez matar para defender nossos irmãos basta para que nos protejamos; o que eu vejo, agora, é que humanidade está sim fadada ao apocalipse, não divino, mas o apocalipse dos homens, estes que construíram impérios, dizimando outros; exterminaram motivados por ideologias de raça e de credo e que hoje matam sem razões, apenas pelo simples prazer recôndito de matar (nesta essência maligna que Kant batizou de “mal radical”).
O mal é rotina no século XXI, mas nem as origens dele explicam as barbáries atuais.
Pregar aqui uma consciência mais humana entre nós foi o meu intuito (mesmo sabendo do limitado número de pessoas que venha à ler isso); mas afinal, o que mais vale neste mundo caótico de hoje: amar (e não ser merecedor de destaque histórico) ou matar (e ser eternizado numa capa de jornal como psicopata ou ainda ser imortalizado num livro de história?
Fernando Cortez, Francisco Pizzaro, Hitler, Bush, pais assassinos que jogam seus filhos de prédios, mães desalmadas que jogam seus filhos em córregos e jovens que matam dezenas ficarão eternizados para sempre em nossas mentes, mostrando que o mal infelizmente vingou e que o amor, mesmo que sublime ainda está em segundo plano (pelo menos historicamente) em nossos sentimentos humanos.






Se Darwin afirmava que estamos em constante evolução neste processo de sobrevivência natural, que chegue de uma vez o dia em que nós humanos tenhamos nos desenvolvido o suficiente para realmente amar.








[1] Por mais de 700 anos a Igreja Católica condenou a matou milhões de pessoas pela Europa e em suas colônias. Somente na Espanha e Portugal o número de condenados ultrapassou os 37.000. (Fonte: Aventuras na História/Março-2008
[2] Frase atribuída à Fernando Pessoa (grande poeta português, nascido em 1888). Porém, os navegadores da Escola de Sagres já se usavam desta frase por volta da metade1400.
[3] O Frei Bartolomé de las Casas relatou os requintes de crueldade com que os espanhóis entravam nas aldeias indígenas não poupando mulheres, velhos e nem crianças, durante a “Conquista” da América.
[4] O médico Joseph-Ignace Guillotin na busca de amenizar o sofrimento dos condenados à morte, inventou o aparelho que tornou-se símbolo da Revolução Francesa: a guilhotina. Somente em 1794, 20.000 pessoas haviam sido decapitadas pela engenhoca de Guillotin. (Fonte: Aventuras na História/Julho-2007)
[5] O Dia “D” pode ser considerado o mais longo dos dias e o que mais rendeu baixas em ambos os lados na 2º Grande Guerra Mundial; um total de mais de 237.000 baixas militares (aliados e alemães). Fonte: www.wikipedia.org
[6] Londres, entre setembro de 1940 e maio de 1941 foi reduzido à chamas e destroços pelos alemães, onde o abrigo para os ingleses era o subsolo. Mais de 300 mil pessoas perderam a vida durante os bombardeios alemães.
[7] Nos campos de concentração a prática mais comum de “se livrar do estorvo” era confinar como animais, judeus em salas que lhes eram apresentadas como banheiros para limpeza, mas a limpeza imposta ali era a da concepção de limpeza humana da raça ariana, matando milhões com gases venenosos e depois atirando-os em valas comuns abertas. O número de judeus exterminados nos Campos de concentração nazistas ultrapassa a marca de 6 milhoes.

3 comentários:

Unknown disse...

O homem pode ser cruel por natureza..
Pelo simples fato de o sofrimento alheio lhe causar o mesmo prazer de tomar uma água gelada sob um calor escaldante.
Nem sempre existem justificativas coerentes [para o senso comum, ou idéia de ação ética] para atos crueis.
As vezes a única razão é o prazer pela dor alheia.
Isso existe, sempre existiu, nós que geralmente tentamos mascarar o sabor delicioso que a maldade tem para algumas pessoas como, disturbios mentais, drogas ou instinto de sobrevivência [que Darwin me perdoe].
Gostei muito do texto.
Bjs

Anônimo disse...

Ah! finalmente eu encontrei o que eu estava procurando. Ás vezes é preciso muito esforço para encontrar ainda pequena peça de informação útil.

Anônimo disse...

Muito bom na verdade eu provavelmente vou fazer o download. Graças