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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A INFELIZ MANIA QUE AS PESSOAS TEM DE QUERER JULGAR OS OUTROS

Há alguns dias eu chegava para conversar com um grupo de amigos quando fui chamado por dois deles para ser juiz de uma discussão histórica sobre aquilo que teria sido o "Caráter de Getúlio Vargas".
Sobre Vargas, até aquele momento da discussão, pesavam acusações de manipulador, maquiavélico, violento, autoritário e ditador.
Perguntado se Vargas - de fato - fora tudo isso, imediatamente concordei com os pejorativos morais que o qualificavam.
Meu amigo ainda disse: "Viram? Eu sempre disse que Vargas era um ditador; uma pessoa sem moral."
Porém, dessa vez precisei retificar minha opinião, explicando o que quase nenhum historiador faz: interpretar o personagem histórico dentro do seu próprio tempo histórico.
Por isso pedi que meus amigos primeiramente entendessem os motivos históricos que levaram Vargas a ter cometido atos que hoje julgamos incorretos.
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 1882, num Rio Grande do Sul agrário de homens rudes e sempre envolvidos em guerra e violência. Cresceu sob o espectro de ideologias fortes e conviveu com homens que faziam do Poder um mecanismo de opressão. Viveu numa sociedade que apenas conhecia a palavra Democracia, mas nunca a utilizara. Tanto é que "Democracia" era apenas uma palavra contida dentro das Constituições que estes mesmos homens do Poder as redigiam sozinhos, sem consultar a demos.
Vargas foi um personagem histórico forjado pela própria história da época. Tanto é que Vargas teve como contemporâneos outros tantos personagens de comportamento semelhante a ele: Hitler na Alemanha foi o exemplo de autoritarismo em nome do povo; Mussolini repetira tal atitude na Itália fascista concentrando "tutto nello stato"; Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul manipulou eleições, reprimiu revoltas e se manteve por 25 anos no Poder; Flores da Cunha em Uruguaiana foi um déspota local; até na maior democracia do mundo - os EUA - Roosevelt governou por quatro mandatos, mostrando que naquela época o apreço pelo poder era algo comum e até justificável como moral em nome do Estado (Maquiavel, em O Príncipe, explica melhor).

E Getúlio Dornelles Vargas AO SER JULGADO PELOS SEUS ATOS DE ÉPOCA COM A VISÃO MORAL DE NOSSA ÉPOCA é vítima desse erro comum que muitas pessoas até hoje cometem: o pós-julgo fora do seu tempo.
Pois a moral depende muito da época.
Porém, independente da moral - que modifica-se conforme a época - o que eu constatei naquela discussão entre amigos é que a mania de sempre querer julgar e criticar as pessoas, fazendo uso de um pré ou pós-julgo, está presente em todas as épocas.
Sendo que na maioria das vezes, quem julga o outro nem moral tem para fazê-lo.

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