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sábado, 24 de setembro de 2016

A CENA QUE NÃO FOI NOTÍCIA

A cena da semana não foi a prisão de algum político; tampouco a revelação de algum escândalo; muito menos alguma tragédia exposta na capa de um jornal.
A cena da semana esteve distante da mídia, longe dos holofotes, e pouca gente teve acesso a ela. E eu presenciei essa cena.

Há alguns dias, no intervalo entre uma aula e outra, passei por uma padaria para comprar algo. Havia uma certa fila e pessoas aguardavam para serem atendidas. Uma mãe também aguardava sua vez, enquanto sua pequena filha pegava algumas coisas e pedia outras. Normalmente, em situações assim, as mães diriam "nãos!", lançando olhares punitivos aos seus filhos, que normalmente também chorariam e até se jogariam no chão (cena clássica de uma família que não é família). Mas mãe e filha protagonizaram, aos olhos de quem não viu, uma cena completamente diferente: a mãe a pegou no colo, conversou algo sorrindo para a filha, que a abraçou e começou a beija-la no rosto e alisar seu cabelo até o momento de se dirigirem ao caixa.


Em um mundo onde hoje só convivemos com situações tristes e ruins, ver uma cena de extrema singeleza acaba nos saltando aos olhos. E a cena da semana foi um gesto de harmonia, convivência, amor maternal e compreensão.

Infelizmente a cena da semana não ganhou destaque na mídia, até porque as notícias falam de fatos passados, e quase sempre ruins. Porém, aquela cena mostrou, para quem não viu, que o futuro está seguro e bem encaminhado, nos braços de uma mãe.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Quem vive por trás de um perfil falso (fake) em redes sociais?

Quem vive por trás de um perfil falso refugia-se na vergonha da falta de coragem de encarar os outros.
Quem vive por trás de um perfil falso esconde-se da verdade e encobre-se na mentira de sua adultera identidade para viver vidas que nunca terá.
Quem vive por trás de um perfil falso oculta-se na covardia de poder bater em outros sem "dar a cara tapa".

Quem vive por trás de um perfil falso está despido de qualquer tipo de honra e vive sepultado no subterrâneo da moral.
Quem vive por trás de um perfil falso reside na sombra dos outros e está sentenciado a olhar de baixo pra cima aqueles que crescem, pois quem vive por trás de um perfil falso já nasceu para ser baixo.
Quem vive por trás de um perfil falso convive diariamente com a vergonha de saber que nunca será ninguém. Pois mesmo quando esta pessoa que vive por trás de um perfil falso sai das redes sociais e se olha num espelho sabe que aquela imagem refletida não passa de uma falsa realidade de si mesmo, nada mais que um "fake".

domingo, 1 de maio de 2016

O DIA DO BATALHADOR

Tenho por hábito, todos os anos, fazer um grande churrasco todo dia 1º. de Maio para celebrar o Dia do Trabalho e "ter um trabalho" num Brasil que hoje apresenta a maior taxa de desemprego dos últimos 25 anos.
Ontem já havia comprado "quase tudo" no mercado e vi que a inflação e a crise nacional não me permitiram comprar "tudo". Hoje até dormi um pouco mais, pois as viagens que tenho feito para as cidades vizinhas, onde leciono, tem sido cansativas e minha taxa de sono estava precisando ser reabastecida.
Porém, ao acordar, ouvi alguém bater palmas na frente de casa mas não cheguei a tempo de atender. Não sabendo quem poderia ser, perguntei para meu vizinho. Ele disse que era o pedreiro que esteve fazendo as obras aqui em casa há umas duas semanas. Teria dito ao meu vizinho que precisava pegar as ferramentas de trabalho.
Achei estranho tudo aquilo. Afinal, quem em pleno Dia do Trabalhador atravessa a cidade para buscar suas ferramentas de trabalho e não está celebrando com a família o seu próprio dia?
Instantaneamente percebi que aquele pedreiro, um senhor sério, educado, de valor e muito orgulhoso, talvez tivesse procurado algum mínimo pretexto para vir conversar comigo e, quem sabe, oferecer algum pequeno serviço de reforma para ser remunerado.
Cheguei a tentar alcança-lo, indo até a esquina, mas infelizmente ele já tinha ido embora de bicicleta sem que eu pudesse encontra-lo.
Tentei esquecer o fato e fui tratar de fazer o churrasco da família, mas aquela situação ainda me incomodava.
Será que aquele homem estava precisando de ajuda?
Será que ele estava sem dinheiro e por isso veio oferecer serviço?
Será que aquela família não teria uma digna refeição para celebrar o Dia do Trabalhador?
Não me contive.
Contei os poucos reais que ainda me sobravam na carteira, peguei o carro e fui até o seu encontro, buscando encontrá-lo através da rota que ele sempre faz para voltar pra casa.
Foi quando o vi voltando pra casa e o chamei. Sempre sorridente, me cumprimentou, trocamos parabenizações pelo nosso dia e disse que gostaria de lhe dar R$ 35,00 para ajudar no "churrasco do trabalhador".
Emocionado, pois realmente ele precisava de um "vale", aquele sério homem não soube como me agradecer e prometeu vir na próxima semana limpar a calha da minha casa. Eu disse que não precisava. Ele insistiu. Eu concordei.
Nos despedimos e logo adiante, no sinal vermelho, uma senhora estava pedindo esmolas entre os carros. E enquanto os motoristas levantavam o vidro para não ter de responder a ela, aquele pedreiro tirou do bolso da camisa R$ 5,00 dos R$ 35,00 reais que a pouco eu havia lhe dado e entregou àquela senhora.
Eu pensava ter compartilhado o pouco que tinha.
E ele conseguiu compartilhar o pouco que tínhamos mais ainda.
Ao voltar pra casa pensava sobre como nós brasileiros, mesmo sofrendo com tantos problemas ainda podemos sorrir frente às adversidades e celebrar o Dia do Trabalhador.
Talvez seja porque mesmo tendo tudo contra nós, ainda somos capazes de manter a cabeça erguida, compartilhar o que temos e acreditar num Brasil melhor. Afinal, somos "batalhadores".
E hoje, nós brasileiros não celebramos apenas o Dia dos Trabalhador. Celebramos a vitória dos Batalhadores. Pois amanhã recomeça a nossa batalha diária que só o suor do trabalho é capaz de ajudar a vencer.
Portanto, Feliz Dia da Batalha Diária Vencida!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

CORTE APENAS OS CABELOS BRANCOS

Hoje, na barbearia, enquanto eu lia um jornal e Dartagnan se distraía olhando tv, aguardando a nossa vez para cortar o cabelo, ele interrompeu nosso silêncio fazendo uma pergunta:
"- Pai, o senhor vai envelhecer antes que eu?"
Fechei o jornal e, em meio as pessoas ali presentes, lhe disse que todos nós um dia envelheceremos; porém, cada um a seu tempo.
Quando chegou a minha vez de cortar o cabelo, ao sentar na cadeira, escutei Dartagnan falar baixinho para o barbeiro:
"Por favor, Maicon, tire todos os fios de cabelo branco do meu pai, para não deixar ele ficar velho!"
Ahhh, os filhos!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

NA DÚVIDA, TOME UM COMPRIMIDO

Desde que meu filho começou a estudar numa escola pública da rede municipal de Uruguaiana, seguidamente eu era chamado por professores e supervisores para tratar sobre o suposto "deficit de atenção" dele em sala de aula para determinadas disciplinas.
Ano retrasado, a professora que é orientadora da escola solicitou que o encaminhássemos para um tratamento psicológico dada a sua "falta de atenção" e ainda sugeriu que num caso como o dele o uso de medicamento para desenvolver atenção e suprir essa necessidade seria uma das soluções para o caso.
Concordando com o pedido da professora, mas discordando da sugestão dada pela mesma, no decorrer do ano passado, realizamos todos os tipos de exames e, para surpresa de todos (e confirmação do que eu já avaliava), provou-se que meu filho não tem nenhum problema psicológico.
As eventuais "faltas de atenção" se dão em decorrência da péssima qualidade de ensino que ao invés de atrair o aluno para o conhecimento, o afasta, devido a sua didática ineficaz.

Passados mais de dois anos do caso onde a professora sugeriu que somente com medicação faríamos meu filho se tornar um bom aluno, comecei a perceber que atualmente, para qualquer situação humana, faz-se uso de medicamentos.
Pois se você estiver triste, basta tomar Prozac. Se você estiver com insônia, basta tomar Diazepam ou Valium. Se você estiver ansioso, basta tomar Rivotril. Se você não conseguir ter atenção, basta tomar Ritalina. E até se você estiver impotente, basta tomar Viagra.

No fim das contas, a vida passa por uma pílula. Qualquer que seja o seu problema, vá na farmácia e compre a cura.
10.000 anos de evolução humana e seus problemas solucionados numa capsula?
Que triste fim da nossa humanidade.

Dispense comprimidos. Não procure na farmácia aquilo que devemos procurar na vida. Afinal, para deixar de estar triste, procure redescobrir a alegria. Para evitar a insônia e dormir uma boa noite de sono, procure estar em paz. Para evitar a ansiedade procure se conhecer melhor e desafiar-se. Para ter atenção, concentre-se naquilo que você mais gosta. E até para ter seus desejos por outra pessoa, procure alguém que verdadeiramente seja como você quer.
E para aquela professora que acha que aluno precisa se medicar pra ser um bom aluno...
.. bom, infelizmente pra ela ainda não inventaram a pílula para ser professora.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A INFELIZ MANIA QUE AS PESSOAS TEM DE QUERER JULGAR OS OUTROS

Há alguns dias eu chegava para conversar com um grupo de amigos quando fui chamado por dois deles para ser juiz de uma discussão histórica sobre aquilo que teria sido o "Caráter de Getúlio Vargas".
Sobre Vargas, até aquele momento da discussão, pesavam acusações de manipulador, maquiavélico, violento, autoritário e ditador.
Perguntado se Vargas - de fato - fora tudo isso, imediatamente concordei com os pejorativos morais que o qualificavam.
Meu amigo ainda disse: "Viram? Eu sempre disse que Vargas era um ditador; uma pessoa sem moral."
Porém, dessa vez precisei retificar minha opinião, explicando o que quase nenhum historiador faz: interpretar o personagem histórico dentro do seu próprio tempo histórico.
Por isso pedi que meus amigos primeiramente entendessem os motivos históricos que levaram Vargas a ter cometido atos que hoje julgamos incorretos.
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 1882, num Rio Grande do Sul agrário de homens rudes e sempre envolvidos em guerra e violência. Cresceu sob o espectro de ideologias fortes e conviveu com homens que faziam do Poder um mecanismo de opressão. Viveu numa sociedade que apenas conhecia a palavra Democracia, mas nunca a utilizara. Tanto é que "Democracia" era apenas uma palavra contida dentro das Constituições que estes mesmos homens do Poder as redigiam sozinhos, sem consultar a demos.
Vargas foi um personagem histórico forjado pela própria história da época. Tanto é que Vargas teve como contemporâneos outros tantos personagens de comportamento semelhante a ele: Hitler na Alemanha foi o exemplo de autoritarismo em nome do povo; Mussolini repetira tal atitude na Itália fascista concentrando "tutto nello stato"; Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul manipulou eleições, reprimiu revoltas e se manteve por 25 anos no Poder; Flores da Cunha em Uruguaiana foi um déspota local; até na maior democracia do mundo - os EUA - Roosevelt governou por quatro mandatos, mostrando que naquela época o apreço pelo poder era algo comum e até justificável como moral em nome do Estado (Maquiavel, em O Príncipe, explica melhor).

E Getúlio Dornelles Vargas AO SER JULGADO PELOS SEUS ATOS DE ÉPOCA COM A VISÃO MORAL DE NOSSA ÉPOCA é vítima desse erro comum que muitas pessoas até hoje cometem: o pós-julgo fora do seu tempo.
Pois a moral depende muito da época.
Porém, independente da moral - que modifica-se conforme a época - o que eu constatei naquela discussão entre amigos é que a mania de sempre querer julgar e criticar as pessoas, fazendo uso de um pré ou pós-julgo, está presente em todas as épocas.
Sendo que na maioria das vezes, quem julga o outro nem moral tem para fazê-lo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O CAUSO DO GAÚCHO E O PEN-DRIVE

Essa aconteceu em Uruguaiana!
Um homem campeiro, daqueles nascido e criado no campo, desses que até hoje é alheio aos modismos e modernismos do povo (cidade), estava voltando das lides da estância quando recebeu um telefonema em seu celular (aqueles Nokia antigão, de tela verde).
Era sua esposa, professora, que estava na cidade assistindo uma palestra.
“-Marcolino, onde estás?”
“-Tô aqui na mangueira, vacinando as vacas, nêga véia. Que houve?”
“-Me faz um favor, pega tua caminhonete, vem até a cidade e vai lá na escola buscar o meu pen-drive e traz ele aqui na palestra onde eu estou.”
“-Mas chê, Bibiana, vou terminar a lida e me toco pra cidade então pra te levar esse troço.” Respondeu Marcolino sem perguntar o que era o tal “pen-drive”.

Por via das dúvidas, Marcolino chamou um peão para lhe ajudar; um rapazote a quem ele ordenou, achando que o rapaz saberia dizer sobre o que se tratava a demanda:
“-Chê, Felipe. Vamos lá na cidade buscar um PEN-DRIVE!”
O rapazote não sabia do que se tratava, mas imaginou que fosse algo muito pesado e sugeriu que levasse junto o Paulão, um mulato forte que domava cavalos na estância.
Nessa altura, Marcolino pensou: “Óh, esse guri conhece esse treco e sabe que é pesado!” E gritou pros lados do galpão:
“-Chê, Paulão, larga as éguas e vamos pra cidade buscar um pen-drive!”
Paulão deu uma bombeada pro céu e propôs pro patrão que levasse lonas e cordas, pois havia ouvido no rádio que o tempo estava se armando pra chuva.
“-Tens razão, Paulão, vamos prevenidos.”
E lá se foram os três, com lonas e cordas na traseira da caminhonete para buscar o desconhecido artefato chamado PEN-DRIVE.

Quando chegaram na escola, Marcolino já foi logo estacionando de ré, próximo ao portão. Os dois peões saltaram da caminhonete e foram logo estendendo a lona no chão do pátio da escola, para enrolar o tal pen-drive antes que começasse a chover.
Marcolino foi até a diretora da escola, que já estava lhe esperando e o cumprimentou, entregando aquela minúscula peça que ele segurou com a ponta dos dedos. Sem saber o que dizer, chegou gaguejar: “ma-mas é-é só isso?”
“-E agora, o que eu digo pros meus homens?” Pensou ele.
Ao sair da escola, Felipe lhe perguntou:
“- E o pen-drive, patrão?”
“-Não tá pintado ainda, gurizada. Depois a gente volta pra buscar.”

GAÚCHO NÃO PERDE UMA!