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domingo, 12 de fevereiro de 2012

O SORRISO DO POETA CONQUISTADOR

Me chamou a atenção ver aquele rapaz, sentado no bar com os amigos.

Ele, tão divertido, tão espontâneo, tão poético quando das discussões de mundo e de vida, tão carismático com aquele seu sorriso sempre presente no rosto, estava ali, sentado com os amigos, apenas balançando o gelo no copo de refrigerante enquanto os amigos conversavam e riam.

Mas aquele sempre foi o seu ambiente; e aquele sempre foi o seu principal palco. Os amigos, o centro das atenções para si, as mulheres à mercê de seu olhar, o riso contagiante que ele com facilidade sempre conseguiu passar a todos. Vê-lo ali, apenas de corpo presente, me chamou a atenção pelo fato de saber que naquele momento não era aquela pessoa que todos estavam acostumados. Só quem realmente o conhecesse percebeu o momento.

Não me contive e esperei ele se levantar para perguntar o que estava acontecendo.

Ele sorriu – como para alegrar a mim, e não a si – me deu um tapa nas costas e seguiu em direção a copa para pagar sua conta.

Na saída ainda brincou com os amigos e quase que não se despediu, “saindo à francesa”.

Ele, literalmente, não era – naquele momento – a pessoa que todos conheciam. Talvez nunca tivesse sido.

Pelos dias que se seguiram fiquei a me perguntar como que alguém que leva alegria aos outros pode ficar triste. Como alguém com conhecimento e experiência de vida pode – de súbito – se tornar introspectivo. Como alguém, habituado as multidões, sentia-se só em meio às pessoas. Como alguém com a sua facilidade de comunicação e sorte para relacionamentos (fossem eles longos ou curtos) sequer buscou alguma ação, enquanto as mulheres olhavam para ele, sabendo que na verdade ele deveria estar se fazendo valer de seu principal dom: a conquista. Porem, eu não podia bancar o inconveniente e sanar minhas duvidas com uma pessoa que não estava a fim de dialogar.

Por isso fui buscar na história e nos personagens clássicos a resposta para aquela curiosidade simples da vida e, lendo, percebi que quase que a maioria dos poetas dos quais hoje tiramos frases e lições de vida foram vitimas de suas próprias palavras e não conseguiram levar a vida que apenas conseguiram descrever em palavras. Nietzsche vislumbrou que o homem não era apenas a vontade de sobreviver, mas de vencer. Porém, morreu vítima de uma loucura onde alternou comportamentos que o levaram a encarnar Dionísio (deus grego) e por fim o silêncio derradeiro em seu leito de morte.

Notei que o lendário Don Juan se tornou um dos maiores conquistadores da historia – frio em sentimentos e impiedoso com as mulheres – por ter sido vitimado da doença do coração partido. Não distante, Casanova, na Italia do século XVIII cortejou e ganhou o coração de milhares de mulheres, fazendo do jogo da conquista sua principal arma e no sexo encontrou a fuga que sempre buscou para não enfrentar o amor.

Alguns homens, feridos em sentimentos, investem-se de uma personalidade que não lhes é sua – de forma defensiva – para evitar maiores feridas emocionais.

Percebi também que nem todo o palhaço é cômico quando está longe do palco.

A lágrima na sua maquiagem reflete a realidade depois que a luz do picadeiro se apaga. O maior de todos os palhaços do cinema não sorria tanto longe das câmeras. Mesmo assim Chaplin compôs uma das músicas mais bonitas de todos os tempos, onde pede que as pessoas sorriam, mesmo com o coração doendo.

O sorriso muitas vezes é o subterfúgio para aqueles que choram por dentro.


Foi então que diagnostiquei aquele meu amigo e conclui que:

Nem todo aquele que ensina sobre a vida sabe fazer da sua própria vida um exemplo.

Nem todo aquele que sorri por dentro está feliz.

E nem todo aquele que desperta o amor, consegue amar.

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Hoje entendo o silêncio daquele meu amigo naquela mesa de bar.

Outro dia passei por ele caminhando tomando seu mate, e vi em sua postura - agora séria - que as palavras de ensinamento dele estão sendo ministradas em beneficio próprio. Senti que seus sentimentos agora querem se desfazer da armadura impenetrável que ele mesmo se investiu. E vi em seus olhos um novo sorriso. Não mais aquele que antes estava apenas em seu rosto, mas um que hoje parte de seu coração.






Um comentário:

Danelize Gomes disse...

Escreva sempre. Escreva quando puder. Escreva até em um guardanapo de papel e transcreva para cá depois. Tu tem o dom, Pedro.