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domingo, 12 de abril de 2009

DESPOTISMO, DEMAGOGIA; NOBRES E PLEBEUS; TODOS PODEM SER ENCONTRADOS EM URUGUAIANA

Uruguaiana, esta longínqua cidade brasileira que está mais pra Argentina do que Brasil (geograficamente citando) consegue alternar em sua sociedade várias fases da história da humanidade, tanto no sentido social como no político. Aqui pode se exemplificar a história através das figuras públicas e cenários locais que fazem paródia à personagens e momentos que marcaram o Brasil e o mundo.
Somente aqui encontramos ainda, aristocratas em pleno descenso financeiro; auto-intitulados “lordes”, que outrora esbanjavam riquezas e que hoje buscam manter a pose e sua “finesse” para contentar, em eventos públicos ou em festas sociais, outros decadentes aristocratas numa forçosa tentativa de “manter as aparências”. Uma verdadeira alusão às cortes da Inglaterra e França do século XVIII.
Em Uruguaiana encontramos comerciantes reunidos em tendas, vendendo os mais diversos produtos e especiarias (hoje menos comestíveis e mais utilizáveis, sob a forma de objetos eletrônicos) para aqueles viajantes que de longa distância, de outras culturas, outras etnias, vem buscar para depois revender em seus povos. As Índias dos tempos modernos.
Aqui, Carlotas Joaquinas desfilam extravagâncias e luxo, gastando tempo e dinheiro entre salões de beleza, boutiques e perfumarias, enquanto seus Dons Joãos se dividem entre pagar contas e equilibrar-se diplomaticamente entre Inglaterras e Franças a lhe cobrar. Deve se lembrar que a Carlota Joaquina histórica gostava de “experiências” diferentes – não poderia ser diferente com algumas das Joaquinas locais.
Temos em Uruguaiana muros que separam bairros; dividindo com suas telas de arame o centro da cidade (o âmago do capitalismo), da periferia (aquilo que esse mesmo sistema excluiu). Quem é de fora do bairro não entra, com medo daquele que pede a esmola ou, ainda, daquele que faz da arma a forma de esmolar. Aquele que está dentro, confinado pelo processo de exclusão social, luta para sobreviver; porém, cada vez mais, o muro fica mais alto e a vida - dentro destes que parecem os Guetos de Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial - fica cada vez mais menos possível de se viver.
O auge do Império Romano se faz presente no cenário uruguaianense; contentar a plebe com a política do “Pão e Circo” é prática comum ainda hoje no Brasil e no mundo e não seria diferente nessa cidade cômico-histórica. Praças altamente iluminadas (e a conta disso descontado no bolso do contribuinte), passeios públicos, quadras esportivas e MUITO CARNAVAL, unido a projetos beneficentes para “aliviar” a dor da população carente, distraem a comunidade fazendo com que voltemos os olhos para essas futilidades públicas, sem permitir que enxerguemos os vários cânceres urbanos que assolam o município.
Por falar em carnaval (a maior das festas populares), nossa cidade tem um grande carnaval e nesse evento todos os segmentos da cidade se encontram – a bem da verdade é que muitos não se “encontram”, mas sim “se confrontam”. Maridos financiam esposas como destaques de escolas de samba; famílias da chamada alta classe – que antes evitavam misturar-se a plebe, hoje disputam para ter suas filhas como musas e rainhas de escolas de samba, e tantas outras coisas nessa disputa de vaidades que poderia ser tema para um próximo post. É o mesmo que o carnaval veneziano com seus bailes de máscaras; ninguém se reconhecia, mas todos sabiam quem estava presente e quem ali é nobre, fidalgo, infiltrado ou decadente.

Como não podia faltar, uma cidade como essa precisava de um governo caricatural também. Napoleão Bonaparte, que quis estender seus domínios e promoveu o Bloqueio Continental, pode ser citado na figura de um governante uruguaianense que inflexível, já quis arbitrar até na cidade vizinha de Paso de Los Libres. Bonaparte que fez do poder a arma para se promover com sua população unindo paternalismo e medo, aqui na cidade ressurge montando no seu cavalo acenando que “vencerá”, custe o que custar. Mussolini? Adolf? Bush Jr.? Até mesmo Vargas (que por sinal passava férias nessa cidade, quando cansado de governar e manipular politicamente o Brasil)? Sim, todos esses e muitos outros déspotas se enquadram no perfil de políticos locais. Sofre (ou se ilude) a pobre comunidade, a mercê desses tiranos. A oposição é amordaçada – obrigando a se viver num unipartidarismo típico dos nazi-fascistas e, em alguns casos, comprada com cargos de confiança, como na velha política ambígua que se fez notar durante o Governo Provisório de Vargas, que posteriormente foi trocada pelo ditatorial Estado Novo.

Mas o povo de Uruguaiana, mesmo assim, é feliz e esperançoso como o povo multi-étnico brasileiro. Esse povo é bravamente corajoso como os espartanos e leal como os romanos. Valente como a grande nação guarani e de galhardias e feitos heróicos como a brava raça gaucha.
Esse é o povo de Uruguaiana, que tem em sua sociedade tudo que a história do Brasil e do mundo pode contar. Feitos, passagens e personagens que merecem o rodapé da história. Mas a história é assim. Pois as vezes que as nuvens pesadas e escuras trouxeram consigo momentos turbulentos e tempestuosos que assolaram o mundo, sempre vieram depois momentos históricos de bonança que são lembrados com alegria e citados nos livros com muito mais ênfase.
Mas isso é outra história... uma história que ainda está a ser construída, em se tratando de Uruguaiana; cabe a mim e a cada um de nós cidadãos criarmos essa história. É possível, não é difícil e será lembrado; será histórico.

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