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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pela necessidade de apostar

Tem alguns números na roleta que são perigosos, assustadores; que causam arrepios tanto no jogador, que deposita todas as suas esperanças na aposta que faz, como no crupiê que atira a bolinha buscando desviar de todas as fichas dispostas da mesa sem ter que pagar à ninguém.
Como se fosse hoje eu lembro o meu primeiro encontro com um desses números fatais.
Eu ainda era jovem e inexperiente na arte do jogo e ia ao cassino para perder dinheiro e voltar pra casa dizendo que havia ganhado.
Foi numa tarde, já meio cinzenta na memória, que entrei no cassino e ao passar pela roleta vi um senhor com aparência indígena, roupas rotas e um olhar misto de esperança e desespero, jogar suas últimas fichas em torno do número “vermelho 32”.
Era a aposta derradeira, enquanto a bolinha da sorte girava no prato ele abria a carteira pra conferir que já não tinha mais dinheiro algum. Seu destino, pelo menos naquele dia, estava sendo definido no giro da roleta.
Não havia mais ninguém ali. O cassino estava semi-vazio. Apenas três pessoas presenciaram e protagonizaram aquele instante. O crupiê, interpretando o agente do destino a ser traçado; o apostador, como o personagem principal em um filme com final inesperado; e eu, como espectador passivo do que a vida estava por traçar.

Depois daquele dia, comecei a gostar cada vez mais do jogo pela emoção que ela nos proporciona. São sentimentos que alternam da frustração à euforia, da tristeza à explosão de alegria, do sufoco à redenção.
O “vermelho 32” virou o meu número também, todas as vezes que eu apostava na roleta.
De início, raramente eu acertava e por muito pouco quase desisti de seguir aquele instinto que os alguns jogadores chamam de “sorte”.
Mas recentemente a Srta. Sorte veio bater a minha porta e pediu para ficar comigo por algum tempo. Sorridente, se manifestou repetidas vezes em torneios de truco – onde sagrei-me campeão – , em jogos de pôquer – onde eu desbanquei adversários que muitas vezes tinham mãos de cartas melhores que as minhas – , e também no cassino, onde o “vermelho 32” me rendeu muito dinheiro.
São emoções que somente alguém que aposta pode definir a sensação. O nervosismo de depositar tudo em uma mentira de “falta envido” no truco; ou de aguardar a resposta do adversário enquanto se dá um “all-in” no pôquer; ou ainda, aguardar a trajetória circular que a bolinha faz enquanto a roleta gira.
Por isso sou um jogador; pelo prazer de apostar a vida numa jogada.
Pois tanto na vida como no jogo é aquela pessoa que está disposta a morrer que ganha (palavras de Al Pacino no filme “Um Domingo Qualquer”). E sempre que eu apostei, tanto nos jogos como na própria vida, eu joguei como se aquele instante valesse toda a minha existência.

Ao lado do “32”, na roleta, está o mais temido número dos apostadores, o “zero”. Talvez por isso este meu número seja tão emocionante e tão místico. Para chegar à glória, tenho que passar pelo inferno; para chegar à vitória tenho que arriscar a derrota.

Quantas vezes a roleta da vida nos derrubou com o “zero”. Cabe à cada um de nós aceitar essa jogada ou enfrentar novamente a sorte.

Assim como fez aquele senhor com aparência indígena, roupas rotas e sem mais dinheiro na carteira, eu joguei mais uma vez - e dessa vez todas - as minhas fichas do destino no “vermelho 32”. Em tantas outras vezes deu “zero”, mas um jogador deve seguir seus instintos, mesmo que isso lhe custe as últimas fichas, mesmo que o cassino já esteja por fechar, mesmo que a derrota seja iminente e a chance de vitória mínima, mesmo que essa aposta lhe custe a vida, um jogador deve apostar!




terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Pedro anda alienado?

Diriam aqueles meus amigos e outros leitores desse blog que sim.
Escrever sobre modos de vida, anseios, perspectivas, quase que de forma filosofal não é bem o estilo de escrita desse rapaz que até alguns meses atrás era uma metralhadora de críticas não poupando quem quer que fosse.
Terá o Pedro perdido o estilo pontiagudo e afiado de escrever?
Terá o Pedro se corrompido ao sistema?
Ou terá o Pedro se tornado mais um alienado dentro dessa sociedade que nos emite mensagens e notícias prontas?


Pois o Pedro lhes responde:
- O que mesmo vocês me perguntaram?



O que tem me ocorrido ultimamente é a sobrecarga de informações e notícias paralelas, que eu gostaria de escrever, mas que não dou conta. Na verdade, eu inicio um tema e quando estou quase na metade dele, o assunto já não é mais novidade e acabo tendo que enviar o arquivo pra lixeira. Depois, leio todas as notícias importantes sobre o novo tema, começo a escrever outro texto e o “novo assunto” vira “assunto velho” em questão de horas.

Então o que fazer? Se antes eu era o crítico, agora tenho críticos sobre mim e o que escrevo. Por um lado é bom; me motiva a escrever. Por isso vou fazer nessa postagem pequenos comentários sobre os fatos recentes que já estão virando coisa do passado:

01 – CRISE MUNDIAL
Não se assustem; o Lula disse que ela não chegará ao Brasil. Quem sou eu pra duvidar do homem?
Mas todos aqueles que projetaram futuro, foram fadados à ridicularização histórica. Foi assim com muitos teóricos e filósofos. Mas como o Lula não é nem um nem outro, talvez ele queira mesmo fazer papel de ridículo pra tentar ser lembrado – mesmo que seja por erros.
Em tempo: assim como em 1929, a crise mundial daquela época foi como as ondas que se propagam depois de uma pedra ser atirada na água. Sobre a Crise de 2008, recém as ondas estão se propagando.

02 – ACIDENTES E TRAGÉDIAS
Tragédia em Santa Catarina; inundações em São Paulo; avião que cai no rio Hudson; mortes e mais mortes nas estradas; ônibus com jogadores de futebol deixa vítimas fatais; até o teto de um lugar sagrado desaba matando fiéis em momento de fé. Em pleno século XXI temos segurança?
Pelo menos vimos que Danrlei – ex-jogador do Grêmio, hoje do Brasil de Pelotas – sobrevivente do acidente do ônibus realmente é IMORTAL. Porém, vimos também que nem a fé segura alicerces de igrejas quando elas estão condenadas pelo Ministério Público. Será que o dinheiro dos dízimos vai cobrir as indenizações, tratamentos médicos e funerais desse sinistro? Se depender de Kaká (maior dizimista dessa igreja que tem seus principais bispos presos por evasão de divisas) sim.

03 – BARACK HUSSEIN OBAMA
Tomou posse aquele que já está sendo considerado o “Messias dos Novos Tempos”. Não que Obama seja a salvação para todos os males. É que esse 43º. presidente, o qual nem cito o nome, – que felizmente deixou o cargo – foi o grande mal da humanidade. Nunca um estadista norte-americano foi tão odiado na história. Qualquer que fosse o novo presidente já seria um grande alívio para o mundo. Melhor ainda sendo essa pessoa alguém como Barack Obama. Alguém com as características dele nos faz acreditar em um mundo melhor, um mundo mais humano, “um mundo para todos” – como ele disse em seu discurso de posse.
Eu acredito em Obama, mesmo sabendo que ele não é Jesus Cristo; mas pior do que foi, para o mundo, esse legado do mal que durou oito anos, não pode ficar.
The Change is coming!!! Yes, we can!!!

04 – A SUCESSÃO DE LULA
Não tem no PT alguém com o carisma do Lula, só se ressuscitassem o Getulio Vargas ou o JK e os filiassem ao PT.
Agora dão os créditos do PAC à Dilma. E como se não bastasse, plastificam o rosto dela pra ficar “mais bonitinha”.
Beleza é só em novela e carnaval. Política é coisa séria.
Infelizmente 99% do Brasil não percebe isso.

05 – RIO GRANDE DO SUL E URUGUAIANA
Ninguém se entende no governo Yeda; nem ela mesmo se entende. A educação – a minha praia – vai de mal a pior; burocratas que não conhecem o ambiente escolar editam novos parâmetros incabíveis para a realidade de uma sala de aula (é a diferença entre a teoria e a prática). O secretariado do governo estadual parece estar participando daquele joguinho infantil chamado “dança da cadeira”, onde sai um por vez. Até quando a governadora vai resistir? Bobeia nem conclui o mandato.
Enquanto isso, em Uruguaiana, temos 80% da mídia local tendenciosa e extremamente bajuladora de um governo reeleito que exerce uma gestão “clean”; fazendo de tudo para dar “pão e circo” à comunidade, mas que vira os olhos pra realidade de quem vive nas periferias.
Um natal com tanta luz acesa que eu andava na minha casa apagando as minhas pra não pagar tão alto na conta de luz (sim, pagamos uma taxa pela iluminação pública, não sabiam?). E o pior, o Natal já vai longe e as luzes seguem ligadas.

Vejo então que as vezes é bom ser alienado, estar fora da realidade; assim a gente não se aborrece nem sofre vendo tais coisas. Porém, se deixarmos passar tudo em frente aos nossos olhos corremos o risco de sermos vítimas de nossas próprias fraquezas como pessoas dentro de uma sociedade.
Por isso se me perguntarem se eu ando alienado, direi que não sei. Queria poder bradar mais alto, criticar e ser criticado, mas já se aproxima a noite em Uruguaiana, tenho que desligar algumas luzes e aparelhos, pois a praça precisa estar bem iluminada.



O último a sair, por favor, apague a luz.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Coisas simples

Cada vez mais o mundo vai ficando complicado, modernizado, rápido e inseguro. A sociedade parece não conseguir acompanhar esse acelerado processo que ela mesmo criou; e no final das contas quem paga isso somos nós mesmos, que ficamos à mercê daquilo que nos é ditado.
Percebi recentemente quantas vezes eu fiquei preso no escritório, por causa da internet, das pesquisas por fazer, do bendito "msn" e do maldito "orkut". Perdi a conta de quantas tardes eu dediquei minhas horas fazendo coisas complicadas só porque é necessário se enquadrar no sistema.
Mas hoje de tarde eu resolvi me libertar disso (pelo menos por algumas horas eu fugi da realidade dessa matrix).
Preparei um mate, peguei o carro, busquei meu filho, levei algumas revistas e fui para a beira do rio ver o cair da tarde que há muito eu não fazia.
Relembrei inúmeras tardes de minha infância e juventude - ao lado dos meus amigo - quando se não estávamos jogando futebol, estávamos pescando no rio. Naquela época as horas não importavam, o que determinava a hora de voltar era o escurecer e não uma ligação de celular. Entre os amigos, nos combinávamos indo uns na casa dos outros, não por "scraps" ou "sms". E as tardes eram realmente “fagueiras”.
Nessas horas que passei entre a natureza, a paz e o meu filho, percebi que o ritmo alucinante da vida moderna, as vezes, precisa de intervalos, dessas breves folgas, como a que me dediquei hoje.


Mesmo assim trouxe meu notebook, e daqui do rio registrei esse momento, afinal, já que estamos presos às coisas complicadas da modernidade, nada impede de uní-la com as coisas simples como a nostalgia do passado.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Como se comportar num velório (Parte 2)

Algumas “obrigações” que a vida social nos leva a fazer, muitas vezes faz com que nos deparemos com situações inconvenientes dentro desse mesmo meio social. Assim são os velórios, pelo menos pra mim.
Como contei ano passado (ou retrasado; sei lá) quando fui obrigado a prestar as últimas homenagens à minha tia que falecera num agosto – mês que mata velhos – e fiz essa piadinha infame que me custou a vergonha em frente aos parentes sofredores, percebi o quanto é complicado "e delicado" se comportar num velório. Depois disso resolvi ser o mais ético companheiro a compartilhar a dor quando estivesse na obrigação me fazer presente em um funeral. Novamente o viver em sociedade me levou ao encontro da morte (felizmente não a minha).
A senhora que falecera além de ter um grau de parentesco comigo, ainda era a mãe de um grande amigo meu, por isso dois motivos que me colocavam na função de ombro amigo para com aquele grande companheiro.
Fui acompanhado de outro amigo nosso de infância que buscou-me em casa e ao chegarmos ao velório comecei a lembrar das várias coisas que nós três fizemos juntos em nossa adolescência; resultado: um riso espontâneo e na pior hora possível. Por isso tive que tratar de pensar em coisas completamente abomináveis para tirar aquele sorriso impróprio para a situação em que me encontrava.
Quando chegamos encontramos a capela velatória relativamente cheia, tomada por parentes, pessoas do nosso convívio e muitos desconhecidos. Como praxe, um abraço e frase “que descanse em paz” foram a minha arma para tentar demonstrar o pesar que sentia pela perda da mãe do meu amigo; mas algo teimava em me fazer rir num momento onde muitos choravam. E para piorar a situação, nosso outro amigo – querendo amenizar o clima pesado daquele momento – falava de fiascos e gafes que outros amigos nossos cometeram, na esperança de tirar um sorriso do nosso companheiro que ali convalescia da perda de sua mãe.
Quando eu já conseguia controlar o impulso por rir, comecei a analisar o comportamento de algumas pessoas que ali estavam e vi que eu não era o único me comportar de forma estranha para um momento de profundo pesar.
As mulheres se trocavam olhares invejando a roupa uma das outras; é impressionante a vaidade feminina que faz as mulheres aproveitarem um encontro mórbido para fazer desfile de moda.
Um senhor aproveitou o cafezinho e os biscoitos, na entrada, para fazer o desjejum que certamente não fez em casa.
Muitos chegavam à porta sorrindo e até gargalhando entre si; mas, ao entrar no recinto, de súbito vestiam-se de um pesar e conseguiam até a façanha de chorar copiosamente em torno do caixão.
Outros tratavam de aumentar a dor dos parentes dizendo frases prontas como: “que tragédia, tão jovem”, “pelo menos parou de sofrer”, ou ainda: “agora ela está melhor que nós”; fazendo aumentar a dor daqueles que sofriam a perda daquela pessoa.
Mas tem sempre aqueles que contam histórias fantásticas de mortes incríveis; foi essa a parte mais “chocante” (vamos dizer assim) do funeral.
Aquele senhor entrou na capela abraçando contagiosamente todos os presentes, inclusive eu que nem o conhecia. Após estender sua dor a todos os presentes fitou por alguns minutos a falecida e depois virou para o nosso grupo, onde encontrava-se marido e filho da senhora e começou a contar a história de um amigo seu que havia morrido por causa de uma cabeceada que dera num jogo de futebol.
Consta (segundo o senhor esse) que seu amigo estava jogando futebol, e depois de desviar de cabeça para as redes a bola que tinha sido cruzada num escanteio, chegou em casa com dor de cabeça e veio a falecer dias depois devido ao impacto da bola. A história causou os mais diversos sentimentos nos ouvintes presentes. Chorava o viúvo, sorria amarelo o filho órfão, gargalhava o nosso amigo, irritava-se uma senhora que escutava próximo (talvez ela não gostasse tanto de futebol); mas eu, particularmente, fiquei em estado de choque.
Pode uma cabeceada em um jogo de futebol matar? Pode um homem não ter o mínimo de senso a ponto de contar tal história num momento de plena dor entre as pessoas? Pode haver algum evento pior do que velório?

Depois disso resolvi não ir mais a funerais, realmente não sei como me comportar em um.
Mas também resolvi evitar cabecear muito nas nossas “peladas” de fins-de-semana. Por via das dúvidas agora tento de bicicleta (se eu quebrar a coluna pelo menos ainda que paraplégico, continuarei vivo).