Meu primeiro amor não surgiu de um clique numa rede social;
não nos conhecemos de fora pra dentro, através de conversas em chats; meu
primeiro amor não despertou através de mensagens de celular; não se originou de
uma curtida; meu primeiro amor nasceu aos poucos, lento como internet de 56kb -
e que sequer usávamos-.
Estudávamos na mesma escola onde nossas mães lecionavam.
Quando nos conhecemos ela estudava
na primeira série, na turma onde minha mãe dava aula; eu estava na terceira
série, na turma ao lado da sala de aula onde a mãe dela era professora.
A primeira vez que conversamos foi
numa tarde de outono, quando voltávamos todos de carona no carro de outra
professora e sentamos um do lado do outro. Não lembro ao certo quem sorriu
primeiro para o outro (acredito que tenha sido ela, dado o meu nervosismo),
assim como não lembro quem falou primeiro. Só lembro de me despedir dela
através do para-brisa do carro após ela e a mãe dela terem descido primeiro.
Naquele mesmo ano eu dancei com ela
na festa junina. Foi a primeira vez que percebi o verde dos olhos dela.
Graças à amizade entre nossas mães,
fui convidado para o aniversário dela. Quando entreguei o presente pra ela,
ganhei um abraço meio forçado dela, depois de ter ouvido da sua mãe: “Agradeça
ao presente, minha filha!”. Mas naquela tarde ela fez questão de me mostrar
toda casa e deixou de dar atenção aos outros convidados para brincar por mais
tempo comigo. Antes de ir embora, ainda tiramos uma foto, sentados no sofá, sob
os olhares sugestivos de nossos pais. (Felizmente – ou infelizmente – perdi a
tal foto, meu rosto de vergonha era digno de pena).
No final daquele ano nossos
caminhos se descruzaram e passei alguns anos sem vê-la.
Eu já estava no primeiro ano do
ensino médio quando a reencontrei.
Era outono novamente e eu voltava
pra casa com alguns amigos quando passei por ela na rua e a reconheci. Ela me
olhou e sorriu; eu apenas perdi a noção de tempo e espaço; sem conseguir lhe
dizer uma palavra, ainda tive que voltar pra casa sob risadas dos amigos que se
divertiram com a cena.
Não haviam meios de comunicação como hoje (internet, celulares, sms), poucas eram as casas que tinham telefone fixo. Mas eu ainda lembrava do endereço da casa dela. Escrevi uma carta, atravessei a cidade de ônibus e deixei o envelope na janela do quarto dela, que fazia frente pra rua. Um mês depois encontrei um bilhete na porta da minha casa. Assim seguimos por meses conversando quinzenalmente, através de cartas que, envergonhadamente, eu enviava por um vizinho meu, que eu pagava com pacotes de bolachinhas cada ida dele. Meses depois descobri que ele não fazia aquele favor por causa das bolachinhas; ele também havia se apaixonado por ela e via naquela oportunidade uma forma de dizer oi pra ela.
Não haviam meios de comunicação como hoje (internet, celulares, sms), poucas eram as casas que tinham telefone fixo. Mas eu ainda lembrava do endereço da casa dela. Escrevi uma carta, atravessei a cidade de ônibus e deixei o envelope na janela do quarto dela, que fazia frente pra rua. Um mês depois encontrei um bilhete na porta da minha casa. Assim seguimos por meses conversando quinzenalmente, através de cartas que, envergonhadamente, eu enviava por um vizinho meu, que eu pagava com pacotes de bolachinhas cada ida dele. Meses depois descobri que ele não fazia aquele favor por causa das bolachinhas; ele também havia se apaixonado por ela e via naquela oportunidade uma forma de dizer oi pra ela.
Um dia combinamos de nos encontrar
em uma lanchonete. Eu cheguei quase uma hora antes do combinado; ela chegou na
hora. Nunca comi um cachorro quente tão devagar, para aproveitar o tempo; ela,
envergonhada, comeu apenas metade. O pouco que conversamos foi sobre nossas
mães e as matérias que estávamos estudando na escola. Depois acompanhei ela até
metade do caminho, para evitar que sua mãe nos visse (mesmo ambas as mães
sabendo de nosso encontro).
Naquele mesmo mês fomos num baile
de gala no Tênis Club. Ela desceu do carro usando um vestido verde; eu pela
primeira vez usava smoking.
Durante toda festa as únicas duas
conversas que tivemos foram iniciadas por mim e sem muito diálogo entre as
partes:
“- Vamos comprar um guaraná?”
Perguntei. “- Vamos!” Respondeu ela.
“- Acho que já está tarde, queres
ir embora?” Consultei. “Vamos!” Respondeu novamente ela.
O ponto alto da noite foi a hora
que segurei da mão dela para atravessarmos o salão e sairmos da festa.
Paguei o taxista e pedi que lhe deixasse em casa. Não sabia que ao entrar naquele taxi eu não a veria por mais dois anos.
Paguei o taxista e pedi que lhe deixasse em casa. Não sabia que ao entrar naquele taxi eu não a veria por mais dois anos.
Eu já estava concluindo o ensino médio quando alguns amigos me convidaram para uma festinha de garagem que os jovens da nossa época faziam. Qual a minha surpresa, quando vi que a festa era nos blocos onde ela morava.
Assim nos reencontramos e – pela
primeira vez – conversamos por horas. Naquele mesmo final de semana, ela
convidou algumas amigas e veio com elas, conversar com a minha turma que sempre
se reunia numa esquina de perto de casa aos domingos. Algum amigo estava
escutando Legião Urbana no seu walkman quando ambos dissemos ao mesmo tempo
gostar de Legião.
Quando ela foi embora chamei ela e
pedi um beijo; ela disse que não podia e saiu apressada.
Meu domingo foi tão melancólico
quanto o trecho “Quem inventou o amor? / Explica, por favor” da música de
Renato Russo.
Porém na outra semana eu estava
saindo de casa quando vi um bilhete entrando por baixo da porta. Era ela!
Esperei ela sair apressada, enquanto olhava pelo “olho mágico” da porta e abri
aquele bilhete com um pedido de desculpas e perguntando quando poderíamos nos
ver. Saí correndo, a tempo de alcança-la na parada de ônibus, antes que o
coletivo chegasse e a beijei.
Um beijo que no suspiro de algum de
nós, fez meus óculos de embaçar. Parei para limpar os óculos e quando vi ela já
estava dentro do ônibus, me acenando tchau.
Por mais alguns meses continuamos nos vendo; eu a buscava da escola, nos encontrávamos aos finais de semana, lhe acompanhava a pé até em casa e, por mais que eu force a memória, não consigo lembrar como terminou nosso curto namoro.
Continuei a vê-la eventualmente na
rua; certa vez vi ela numa festa; anos depois vi passar por mim com sua filha
no carrinho de bebê. Por fim, nunca mais a vi. Nunca mais soube notícias dela.
São os vieses da vida que nos distanciaram. Uns chamam de destino; eu chamo de
“caminhos”.
O amor que eu vi nascer e crescer ao longo de anos, lento e gradual, me fez refletir sobre esta pressa e falta de amor nos dias de hoje. Pulam-se etapas, acelera-se um sentimento que por vezes, prematuro, nem chega a existir. Rapidamente substituímos pessoas e, por fim, não amamos, apenas enganamos o sentimento com falsas emoções de momento, fugazes, efêmeras, passageiras, e que não deixam marcas em nós.
O amor que eu vi nascer e crescer ao longo de anos, lento e gradual, me fez refletir sobre esta pressa e falta de amor nos dias de hoje. Pulam-se etapas, acelera-se um sentimento que por vezes, prematuro, nem chega a existir. Rapidamente substituímos pessoas e, por fim, não amamos, apenas enganamos o sentimento com falsas emoções de momento, fugazes, efêmeras, passageiras, e que não deixam marcas em nós.
Afinal, o amor deixa marcas. Marcas
da lembrança um olhar na escola, marcas do som de um primeiro “oi”, marcas de
um bilhete enviado e respondido, marcas ao recordar da primeira vez que pegamos
a mão de uma pessoa, e marcas de um primeiro beijo com suspiros. E mesmo que
não tenha dado certo, permanecerá marcado na memória, como quando toca aquela
música que nos faz lembrar daquela pessoa.
Se não marcou, é porque não foi
amor; foram apenas mensagens, sms, cliques e touchs, que ficam ali,
temporariamente armazenadas em alguma memória virtual, e quando não as queremos
mais, esvaziamos a pasta, deletamos e jogamos na lixeira.
Meu primeiro amor não conheceu
mundo virtual, on-line.
Meu primeiro amor foi real,
off-line.
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Naquela mesma época, um seriado norte-americano embalava minhas tardes:
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