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quarta-feira, 6 de junho de 2012

A INTERNET TORNA QUALQUER PESSOA INTELIGENTE


Hoje em dia qualquer pessoa transparece ser inteligente, graças a internet e aos sites de busca. Um trabalho de escola, ou de faculdade, pode ser facilmente elaborado com base em pesquisas acessadas no Google ou Wikipédia. Um discurso pode ser preparado usando textos prontos disponibilizados ao público na internet e redes sociais. O “pseudo-intelectual” pode se tornar o centro das atenções num jantar entre amigos com algumas poucas clicadas de mouse em sites de curiosidades.
A internet nos facilitou a vida, nos proporcionou um caminho mais rápido à pesquisa e ao conhecimento, mas nos tornou preguiçosos intelectualmente. Não precisamos mais ler; não necessitamos mais sondar, inquirir por sabedoria. Na dúvida: clique!
Lembro, no meu tempo de Ensino Médio, a dificuldade que tinhamos quando os professores nos davam um tema para desenvolver. Certa vez, metade da nota do trimestre dependia de uma pesquisa sobre “Quem inventou a Imprensa?” Meus colegas e eu passamos dias nas bibliotecas à procura do tema. Hoje, basta reescrever “quem inventou a imprensa” no Google e, numa fração de segundo, somos inteligentes o suficiente pra saber que Gutenberg a inventou na Alemanha, em 1450 e que sua primeira publicação foi uma bíblia.
Mas quando nem a internet consegue responder – e o desespero bate – é que percebemos o quanto nos tornamos dependentes cognitivos dessa ferramenta moderna.
Assim foi quando, em aula, perguntei aos alunos algo que não existe na internet:
“Quem foi o uruguaianense que morreu assassinado com um tiro, na saída da Catedral, num dia de eleição e hoje é nome de rua?”
Uns, querendo aparentar inteligência, acessavam seus celulares por baixo da classe, pesquisando, sem achar nada. Outros, desesperados, saíam da aula e ligavam até pros pais, na esperança de conseguir alguma resposta válida. Outros tantos, em ato extremo, arriscavam na base de suposições falhas, valendo-se da dica: “nome de rua”.
"- Getulio Vargas, professor." Exclamou um aluno, no fundo da aula.
Boa tentativa, meu jovem. Mas a bala que matou Vargas foi disparada por ele próprio, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
"- Não teria sido 'Sant’Ana', professor?" Respondeu perguntando uma aluna timidamente curiosa.
Não, minha filha. Impossível alguém assassinar a Santa Padroeira da nossa cidade, na saída de sua própria Igreja.
"- Estou em dúvida, professor. Não sei se foi Duque de Caxias ou Santos Dumond." Disse, meio contrariado, mas com pose de intelectivo, o rapaz que queria impressionar a colega ao lado.
Em dúvida fiquei eu, sobre a sanidade mental daquele aluno, depois daquela diarréia frásica que ouvi.
"- Já sei! Foi o... '13 de Maio', eu moro lá!" Vomitou, em forma de palavras, o confuso adolescente que chegara durante a aula e quis arriscar na base do chute.
Claro. O ilustríssimo “Senhor 13 de Maio”? Casado com a “Dona XV de Novembro”? Sendo que deste casamento nasceram os jovens “7 de Setembro” e “14 de Julho”. Não, meu caro. Estas datas não são nomes de pessoas.
"- Aaahhhh; eu sei professor! O Uruguaianense que foi assassinado e hoje é nome de rua se chamava JOAQUIM MORTINHO!" Respondeu com ênfase, aquele aluno, sem expressar nenhum sinal de ironia e sim de convicção.
Agora eu já me sentia o próprio Professor Raimundo com aquela turma.
Foi então que dei por encerrada a aula. Pois concluí que a internet, o Google, os sites de pesquisa e as redes sociais, infelizmente, hoje já fazem parte enraizada de nossas vidas; e, adstritos à esse fenômeno, todos nós recorremos – ou um dia recorreremos – à ela.
Prova disso é que, depois de hoje, todos saberão, outros farão comentários, citações, apologias políticas, muitos fingirão ser intelectuais em conversas, dizendo que Feliciano Ribeiro foi um uruguaianense morto, na saída da Catedral, num dia de eleição.
Tudo isso porque eu, pra contar esta história, disponibilizei esta curiosidade na internet.

domingo, 3 de junho de 2012

A CULPA É DE HOLLYWOOD...

... pelos fracassos amorosos que se tornaram rotina, atualmente, na vida das pessoas.
Isto porque o cinema nos vende esta imagem distorcida, utópica e fantasiosa de relacionamentos que só existem em filmes; e nós, pobres e iludidos mortais, buscamos ser – e viver – estes personagens fictícios, com seus amores perfeitos, em cenas que somente a sétima arte foi capaz de imortalizar.
E o resultado disso: frustrações românticas da vida real.

Pois somente na ficção que Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman) desafiaram os horrores da guerra e sobreviveram, mantendo vivo o amor em tempos de ódio, em Casablanca.
Apenas nas telas do cinema viram-se amores impossíveis; como do anjo Seth (Nicolas Cage) pela mortal Maggie (Meg Ryan). Um amor de auto-sacrifício, para transpor a barreira dos limites e viver por pelo menos um dia o sentimento sublime; em Cidade dos Anjos.
Amor além da morte, como de Molly (Demi Moore), pelo seu amado Sam (Patrick Swayze) em Ghost – Do Outro Lado da Vida. Ou como o de Gerry (Gerard Butler), por Holly (Hilary Swank); que, em cartas, deixou sinais de seu amor pós-vida, em P.S. Eu Te Amo.
O doce encontro do simples dono de uma biblioteca Will (Hugg Grant) com a estrela do cinema Anna (Julia Roberts), onde mesmo com seus antagonismos sociais terminou em final feliz no filme Um Lugar Chamado Notting Hill.
Ou ainda, no livro de Gabriel Garcia Marquez, Amor nos Tempos de Cólera, – depois transformado em filme – que Florentino Ariza (Javier Barden) suportou por décadas um amor recolhido pela bela Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) em meio à doença e o preconceito social, na Colômbia do início do século XX.


Amor! Como em tantos outros filmes, de tantas histórias fantásticas, com seus casais perfeitos em belos cenários e finais surpreendentemente felizes.
Foi isso que Hollywood nos vendeu; mas não é isso que encontramos quando conhecemos uma pessoa na vida real. Pois o amor não é perfeito.
O amor é como a estátua da Deusa Atena. De longe, aquele mármore talhado é belo, perfeito, e magnífico aos olhos. Porém, quanto mais perto chegamos, percebemos suas pequenas falhas e suas leves rachaduras; e muitos se decepcionam ao primeiro sinal de imperfeição do amor, enganados pela falsa propaganda hollywoodiana.
O amor é errado; o amor é falho; o amor tem seus altos e baixos, suas idas e vindas; pois o amor é complicadamente simples ao mesmo tempo que é simplesmente complicado.
Porque amar é aceitar o(a) companheiro(a) como ele(a) é. Conviver com seus defeitos; reconhecer e suportar suas manias; entender que a pessoa ao seu lado não é perfeita porque ela – assim como você – é humana, passível de erros também. Amar é perdoar o erro antes mesmo desta pessoa cometê-lo.
Amar não é belo, como são os filmes. Amar é simples, como a própria vida.
Por isso se apaixone, sem querer encontrar explicação. Deseje, sem procurar beleza. Sinta, sem tentar entender o sentido racional do sentimento. Ame, sem buscar a perfeição.
Até porque a pessoa que lhe ama sabe que você também não é perfeito e mesmo assim vai desejar viver com você um final feliz de filme romântico.
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