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quarta-feira, 7 de março de 2012

HOJE ENTENDO SARAMAGO

A conversa, que envolvia alunos, funcionários e professores do cursinho, era sobre o vício que a internet hoje nos causa. A dependência virtual da qual hoje somos escravos e que nos prende frente ao micro-computador, notebook, celular, i-phone e demais tecnologias.

“Hoje entendo Saramago!” Disse o professor de Literatura; agregando cultura ao debate, ao mesmo tempo em que causava dúvidas em outros e despertava curiosidade em mim.

Não quis parecer ignorante perguntando-lhe qual a relação entre o vício da Internet e o pensamento do escritor português. Percebi que precisaria ler Saramago e – quem sabe até – passar horas, frente ao Google, pesquisando nessa fonte de saber extremamente viciante.

Estaria a explicação nos diários pessoais do escritor, intitulados Cadernos de Lanzarote? No proibido Evangelho Segundo Jesus Cristo? No inédito Clarabóia, escrito em 1953, mas somente publicado post mortem, em 2011? Talvez a explicação estivesse em Ensaio Sobre a Lucidez.

Não; a reposta está em Ensaio Sobre a Cegueira.

No livro de 1995 (posteriormente filme, em 2008), Saramago escreve sobre uma “cegueira branca” que atinge epidemicamente uma cidade, onde as vítimas passam a não enxergar nada, apenas uma superfície branca e leitosa. A partir daí, sob quarentena, os contaminados são isolados da sociedade, o governo deixa de lhes atender e a busca pela sobrevivência, agora cega, faz com que os instintos mais primitivos tome conta destas pessoas.

Depois de descobrir o enigma do professor de Literatura, acabei admirando a sinapse feita por ele, mas me obriguei a reconhecer e refletir do mal que nossa sociedade vem padecendo.

Estamos cegos de realidade.

Filhos conversam com pais através de mensagens de texto estando na mesma casa.

Pais acompanham as notas do filho na escola, através de páginas na internet; mas não conhecem os professores.

Amigos não se encontram mais; apenas se cumprimentam curtindo e/ou compartilhando algo interessante ou engraçado.

Vizinhos não se visitam e muitas vezes nem se conhecem pessoalmente, mas se adicionam e só sabem o que o outro está fazendo devido às postagens mais recentes.

Amores surgem devido a frases prontas - de autores pouco importantes -, ou de trechos de músicas, escritas em subnicks de programas de conversa virtual.

Casais se separam ao passo de um clique, alterando o status de relacionamento em redes sociais.

Enquanto isso, no mundo lá fora, a vida real definha lentamente.

Na busca de maior comunicação desenvolvendo técnicas de conexão rápida, o homem acabou se isolando e se desconectando lentamente de sentimentos, afeto, companheirismo, amizade, fraternidade e amor.

O convite para passear pela praça, conversando, deu lugar ao silencioso chat.

A reunião familiar de final de semana foi cancelada devido a insensível mensagem de texto, justificando que infelizmente não poderá se fazer presente porque precisa ficar em casa trabalhando aquele case; quando na verdade ficou adicionando novos amigos virtuais e atualizando seu status.

Os votos de Feliz Natal e Ano Novo deram lugar ao frio email em mala direta para todos os contatos – sejam eles conhecidos ou desconhecidos –.

Hoje chegamos ao ponto de estarmos brancamente cegos ao cúmulo de não enxergarmos mais uma manhã de sol, uma tarde de chuva ou uma noite de lua cheia e céu estrelado; mas postamos nas redes sociais a mudança do clima, sem ao menos levantar da cadeira do computador.

Ofuscados por esta cegueira branca virtual, escurecemos nossos corações; justo num momento onde precisamos de luz, de calor humano e troca de olhares verdadeiros. A vida lá fora nos chama.

Cego, porém consciente, da dependência de internet, tentei escrever este texto usando o mínimo possivel de computador, internet e seus recursos. Sentei na frente de casa, com caderno e caneta na mão para escrever e percebi que infelizmente hoje não temos mais como viver sem estes recursos; afinal, uma hora precisarei transcrever este texto para um arquivo e postar no blog para que outros leiam.

Mesmo assim me convenci que devo diminuir o tempo de acesso; preciso transitar equilibradamente entre estes dois mundos que vivemos hoje; a solução é ser caolho, tanto no mundo real quanto no mundo virtual. E isso é bom, até porque em terra de cego, quem tem um olho é rei.



Um comentário:

Paulo ricardo disse...

Muito bom estamos desperdiçando uma vida na frente quanto mundo real la fora tem mundo lindo para descobrir estamos encobrido pelo mundo cibernético lhe dou toda razão por que não escondo por que sou um desse prefiro ficar em frente net do que sair para dar uma volta e conhecer as pessoas realmente não ficar adicionado na internet em rede social estamos perdendo contato real e deixando Levar para virtual mas isso creio que não seja muito difícil . Ainda bem que aqui em casa vivemos no mundo antigo com meus pais tios e tias reunimos todos fazemos churrasco . Conversamos e toma manos cerveja como na moda antiga me rodinha em mulher com mulher tipo fazem arroz e salada e homens assarão carne por que na real esse unicos dos poucos dias da semana que nos vemos .