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domingo, 1 de maio de 2016

O DIA DO BATALHADOR

Tenho por hábito, todos os anos, fazer um grande churrasco todo dia 1º. de Maio para celebrar o Dia do Trabalho e "ter um trabalho" num Brasil que hoje apresenta a maior taxa de desemprego dos últimos 25 anos.
Ontem já havia comprado "quase tudo" no mercado e vi que a inflação e a crise nacional não me permitiram comprar "tudo". Hoje até dormi um pouco mais, pois as viagens que tenho feito para as cidades vizinhas, onde leciono, tem sido cansativas e minha taxa de sono estava precisando ser reabastecida.
Porém, ao acordar, ouvi alguém bater palmas na frente de casa mas não cheguei a tempo de atender. Não sabendo quem poderia ser, perguntei para meu vizinho. Ele disse que era o pedreiro que esteve fazendo as obras aqui em casa há umas duas semanas. Teria dito ao meu vizinho que precisava pegar as ferramentas de trabalho.
Achei estranho tudo aquilo. Afinal, quem em pleno Dia do Trabalhador atravessa a cidade para buscar suas ferramentas de trabalho e não está celebrando com a família o seu próprio dia?
Instantaneamente percebi que aquele pedreiro, um senhor sério, educado, de valor e muito orgulhoso, talvez tivesse procurado algum mínimo pretexto para vir conversar comigo e, quem sabe, oferecer algum pequeno serviço de reforma para ser remunerado.
Cheguei a tentar alcança-lo, indo até a esquina, mas infelizmente ele já tinha ido embora de bicicleta sem que eu pudesse encontra-lo.
Tentei esquecer o fato e fui tratar de fazer o churrasco da família, mas aquela situação ainda me incomodava.
Será que aquele homem estava precisando de ajuda?
Será que ele estava sem dinheiro e por isso veio oferecer serviço?
Será que aquela família não teria uma digna refeição para celebrar o Dia do Trabalhador?
Não me contive.
Contei os poucos reais que ainda me sobravam na carteira, peguei o carro e fui até o seu encontro, buscando encontrá-lo através da rota que ele sempre faz para voltar pra casa.
Foi quando o vi voltando pra casa e o chamei. Sempre sorridente, me cumprimentou, trocamos parabenizações pelo nosso dia e disse que gostaria de lhe dar R$ 35,00 para ajudar no "churrasco do trabalhador".
Emocionado, pois realmente ele precisava de um "vale", aquele sério homem não soube como me agradecer e prometeu vir na próxima semana limpar a calha da minha casa. Eu disse que não precisava. Ele insistiu. Eu concordei.
Nos despedimos e logo adiante, no sinal vermelho, uma senhora estava pedindo esmolas entre os carros. E enquanto os motoristas levantavam o vidro para não ter de responder a ela, aquele pedreiro tirou do bolso da camisa R$ 5,00 dos R$ 35,00 reais que a pouco eu havia lhe dado e entregou àquela senhora.
Eu pensava ter compartilhado o pouco que tinha.
E ele conseguiu compartilhar o pouco que tínhamos mais ainda.
Ao voltar pra casa pensava sobre como nós brasileiros, mesmo sofrendo com tantos problemas ainda podemos sorrir frente às adversidades e celebrar o Dia do Trabalhador.
Talvez seja porque mesmo tendo tudo contra nós, ainda somos capazes de manter a cabeça erguida, compartilhar o que temos e acreditar num Brasil melhor. Afinal, somos "batalhadores".
E hoje, nós brasileiros não celebramos apenas o Dia dos Trabalhador. Celebramos a vitória dos Batalhadores. Pois amanhã recomeça a nossa batalha diária que só o suor do trabalho é capaz de ajudar a vencer.
Portanto, Feliz Dia da Batalha Diária Vencida!