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domingo, 21 de setembro de 2014

RIO GRANDE (mais que uma data)

Esta terra, de longa e brava história, não resume apenas a uma Revolução.
Nosso passado repleto de glórias e bravura deixou escrito nas páginas da história os feitos deste povo que sempre lutou pela defesa de sua mátria, morreu peleando por um ideal, e renasceu, toda vez que precisou proteger esta terra.

Assim Sepé lutou em 1750, defendendo a terra de seus ancestrais, contra os exércitos luso-espanhóis, e morreu peleando, de lança firme na mão.

Assim foi em 1835, quando um império nos enfrentou; e o sangue farrapo conteve seus avanços por dez anos.
Assim novamente foi em 1865, quando expulsamos o inimigo estrangeiro que nosso solo tentou macular. De perto o Imperador viu gaúchos renderem paraguaios, que nunca mais retornaram.
1893, 1923 e 1925, lutamos novamente, desta vez entre irmãos; e mesmo que separados ideologicamente, dos dois lados fervia o mesmo sangue revolucionário. Pedras Altas nos uniu novamente.
E, em 1930, irmanados, atravessamos o país para derrubar uma República e iniciar mais um capítulo na cronologia desta nação. Um gaúcho deixou seu nome na linha do tempo da história do Brasil.
Por isso tenho orgulho e, principalmente, gratidão por ser gaúcho.
Somos mais que uma data e uma festividade; somos o sangue e a honra daqueles que lutaram por nós e morreram em combate para permitir que hoje possamos dizer: "eu sou gaúcho!"
"Entre nós, reviva Atenas,
para assombro dos tiranos,
sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos."


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

PADRÃO DE VIDA DE UM METROPOLITANO E UM PROVINCIANO

   A discussão entre meu amigo uruguaianense que vive em outra cidade e eu começou por causa de uma foto de um hambúrguer da marca Burguer King.
  Ele mandou uma foto da comida servida pela multinacional - em embalagem requintada, acompanhada de batata frita e coca-cola – e eu retruquei brincando: “Prefiro um xis do João Pedro!”. (em tempo: qualquer outra boa lancheria de Uruguaiana também pode ser usada como referência)
   Estava, naquele momento, declarada uma guerra ideológica entre o metropolitano e o provinciano.
   Mais uma vez começamos a discutir o que Uruguaiana tem (ou não tem) e o que só se se encontra nas grandes capitais.
   “Aqui nós temos muito mais opções. Podemos fazer de tudo e ir a qualquer lugar. Não ficamos apenas dando volta na praça no final de semana e tomando mate. Se eu quiser, pego minha família e levo ao Shopping Center; lá comemos um Big Mac ou um Burguer King; depois, descemos de escada rolante (sendo que nem isso tem em Uruguaiana) e assistimos um cinema 3D. Nossa internet é 4G, postamos tudo em tempo real. Só aqui nós temos qualidade de vida que queremos.” Expôs o meu amigo metropolitano.
   Ainda tentei argumentar, explicando fatores como cultura local, comportamentos urbanos e aspectos sociais, que somente encontramos em nossas cidades de interior. Tudo em vão! Ele decididamente afirma (e está convencido) que sua metrópole é exemplo de qualidade e padrão de vida.
   Foi a primeira vez que eu desisti de uma discussão.
   Meu amigo continuava escrevendo pra mim através de seu I-Phone de última geração, utilizando sua potente 4G, destacando todas as tecnologias, recursos e possibilidades, e eu comecei a me questionar e refletir sobre o que, realmente, é “padrão de vida”.
   Será Padrão de Vida, para este amigo metropolitano, reunir toda família para passear no Shopping Center? Aquele grande ambiente fechado, onde pessoas que não se conhecem e, talvez nem se cruzarão novamente, transitam olhando vitrines, entrando em lojas, comprando tudo que o limite do cartão permitir (mesmo que nem cheguem a usar o que adquiriram), vivendo o novo “the american way of life” consumista, que destruiu a economia americana no final dos anos 20.
   Enquanto isso, aqui na província ainda praticamos aquele ofício retrógrado de, no fim de semana, visitar os parentes que gostamos. Obsoletos, mantemos o velho hábito de aproveitar um sábado de sol, sentando nas praças, cumprimentando os amigos que passam.
   Pra quem vive na metrópole existe o “poder de escolha” – sendo, ironicamente, todas elas unicamente americanas – entre comer um Big Mac, um Burguer King ou Subway ou uma Pizza Hutt, admirando letreiros onde a felicidade e o tamanho dos lanches parecem enormes, mas a realidade servida na bandeja é bem menor.
   Aqui no interior apenas nos limitamos ao churrasco de fim de semana em família, onde convidamos os amigos que trazem cerveja, e sempre alguma esposa faz a famosa salada de maionese.
   Felizes, as famílias metropolitanas assistem os lançamentos do cinema no cinema 3D, quase que interagindo com a tela fria do cinema e, ao final do filme, descendo a escada rolante, saem comentando sobre a ficção que em vida jamais terão.
   Resignados, à nós provincianos – que nem escada rolante temos – resta passear pela cidade e curtir o final de tarde de domingo, assistir o pôr-do-sol na beira do rio e fazer o mate passar de mão em mão durante uma conversa.
   No I-Phone do metropolitano, com sua internet 4G, ele guardará todas as fotos tiradas neste final de semana de alto padrão de vida que só a capital oferece.
    Na retina deste provinciano ficarão os momentos que eu vivi de fato, aqui no interior.
.
Depois de toda esta longa reflexão, quando me dei de conta, vi que havia deixado meu amigo sozinho no chat. Chateado por ter ficado escrevendo sozinho, me perguntou se eu ainda estava aqui, se não queria mais conversar ou se eu havia percebido o quanto é melhor morar na capital.
Não quis seguir debatendo; apenas disse que estava fazendo um arroz de carreteiro com charque.
Foi quando ele disse: “Bhá! Isso não temos aqui!”
...
   Pois é meu amigo! É que infelizmente, ao longo destes mais de 600 quilômetros que separam a tua metrópole do nosso interior, muita coisa se perdeu pelo caminho: principalmente CULTURA e VALOR.
   Este “padrão de vida enlatado”, que tu comes dividindo a mesa com estranhos, por melhor e maior que seja a marca, não tem gosto.
   Por isso ainda prefiro o xis do JP, onde encontro e cumprimento algum amigo. Ou ainda, o meu carreteiro de charque, que levarei uma prova pra minha vizinha, que por sinal é a tua mãe, pois ela me emprestou uma cebola.
   Coisas que só acontecem aqui, na província, onde o padrão de vida até pode ser baixo, mas permanece a nossa cultura, e os valores ainda são elevados.