Muitas vezes criei estórias, inventei personagens, usei pseudônimos e deixei mensagens subliminares em muitos dos meus textos, explicando o que se passava comigo, sem que soubessem que os conselhos e as mensagens eram para mim mesmo. Esta foi a forma de “auto-ajuda” que encontrei para me medicar e, ainda, dosar a vida daqueles que leem O Provinciano. Mesmo assim muitas perguntas são feitas sobre o que realmente se passa comigo. Parece que me tornei popular; e esta pseudo-popularidade trouxe à tona o interesse das pessoas sobre a vida do Pedro. E eu vou lhes contar:
Existem dois Pedros. Um, o profissional bem-humorado, extrovertido e sempre disposto a ajudar qualquer um que lhe pedir auxílio. Pedro que passa as noites neste seu escritório montando aulas, fazendo slides, lendo livros e – literalmente – vivendo história, para fazer de uma aula seu playground; pois se existe um lugar onde realmente ele é feliz é dentro de uma sala de aula. O outro Pedro é simples, extremamente simples; sem graça como televisão preto & branco numa tarde de chuva; tão fechado que evita novas amizades e novos amores para não decepcionar as pessoas que esperam deste Pedro o que o Pedro profissional é.
Pedro machista; mas apenas da boca pra fora. Pois nenhum homem pode ser machista sendo que todos somos frutos de uma mulher; e o que seria da humanidade sem o colo feminino para nos carregar, uma mão para nos conduzir e um carinho para nos dar forças para viver? Usando esta “psicologia inversa” o machista ironiza as mulheres apenas para provar o verdadeiro valor que elas tem, mesmo quando elas parecem ser inferiorizadas.
Este Pedro que reclama da idade mesmo ainda muito jovem é porque ele não aceita o envelhecimento; quer seguir o mesmo garoto de 15 anos atrás. Quer pescar, reunir os amigos sempre que possível para uma carne assada. Quer estar em festas, dançar e se divertir. Quer jogar futebol uma tarde inteira com os amigos; pois naquela época não tinha problemas pra resolver nem o relógio pra cuidar devido a algum compromisso. Mas hoje percebe que isso é impossível; as pernas, o coração e a razão não acompanham mais o impulso jovem que felizmente insiste em ficar.
Solteiro? Insensível? Frio? Inconstante? Nos últimos onze anos houve um cara que por vezes esteve casado, por vezes noivo, outras vezes namorando. Em algumas destas vezes as pessoas que estiveram com ele não mereceram ele; outras vezes, ele que não mereceu tão boas pessoas que estiveram ao seu lado. Nos últimos tempos a felicidade não tem lhe encontrado. Por isso este desapego. Não que ele não queira se envolver com alguém. Todas estas pessoas foram importantes para o crescimento moral, espiritual e afetivo dele. Mas o Pedro cansou de insistir nos erros. A próxima pessoa na vida dele será alguém que permanecerá por muito tempo. Talvez aí esteja o cuidado extremo que ele vem tomando.
Eu conheço muito bem este rapaz; todos os dias converso com ele no espelho do banheiro. Ele quer viver, quer viajar (mesmo dizendo que é tão provinciano que não sai de Uruguaiana por nada), quer levar alegria a todos que o cercam, quer continuar jovem, quer lecionar por toda a vida (pois é assim que ele se sente bem), quer amar e se sentir amado. Mas acima de tudo: ele quer ser feliz.
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