Na correria entre um cursinho e outro, cheio de polígrafos entre os braços, estendi a palma da mão não tanto pela profetização da misteriosa mulher; apenas para doar-lhe o real e ir embora sem ter que dar mais explicações caso recusasse o convite.
A cigana segurou a minha mão, esfregou junto à sua, olhou novamente. Seu semblante mudou dando um ar de interrogação para si própria e, não aceitando o que havia “lido” na face da minha mão direita, falou:
“- Viverás até os 127 anos... e será assassinado por um marido traído!!!”
A velha ganhou de mais 50 reais.
Hoje, acessando notícias de pouca - ou quase nenhuma - utilidade, li sobre a possibilidade de o homem viver por 150 anos num futuro não muito distante. Cientistas decifraram códigos de DNA e agora estudam desmembrá-los com a finalidade de impedir doenças e dar longevidade ao ser humano. Assim, dentro de poucos anos os homens facilmente se tornarão centenários.
Porém, será mesmo que queremos viver tanto assim?
O que vale mais: uma vida normal e plena ou uma vida secular e simples?
Será que precisarei de cento e tantos anos para fazer todas as coisas que tenho vontade na vida?
Conseguiria eu, no auto dos meus mais de século, fazer as coisas que faço hoje enquanto relativamente jovem?
Vivi pouco até agora, mas confesso que quero viver bastante; porém,o bastante apenas para ser feliz e aproveitar daquilo que a vida nos proporcina ao seu tempo.
Correr desesparadamente quando criança.
Me apressar com os ímpetos da juventude.
Serenar com os conhecimentos da idade adulta.
E contemplar a vida, agradecendo os dias, na velhice.
Não quero chegar até os 127, cigana, desculpe! Esta idade me trará problemas demais e lembranças antigas de um tempo distante que agora eu vivo e quero desfrutá-lo.
Nem quero que cientistas me dêem séculos. Pois essa semi-imortalidade me obrigaria a ver meus filhos, netos e pessoas queridas envelhecerem junto, morrendo antes de mim, alterando algumas das lógicas da vida.
Quero apenas viver, transcorrendo pelos anos, até onde a vida me permitir ser feliz.